Num crédito habitação, não são só os juros e o spread que definem o valor das prestações mensais que paga. Um spread abaixo de 1% pode representar uma prestação baixa, mas ainda é possível poupar no crédito através de outros fatores. Dentro do crédito, ou através de operações como um crédito consolidado.
O valor que paga mensalmente pelo crédito habitação depende de condições como o spread, mas também dos seguros exigidos, o prazo de financiamento, o tipo de taxa e outros produtos adicionais. Vejamos, neste artigo, de que outras formas pode poupar no crédito habitação.
Como funciona o spread?
No crédito habitação, o spread reflete o nível de risco que o banco considera incorrer ao fazer o empréstimo a um cliente. Por isso, quanto maior for o risco da operação, isto é, maior seja o valor do empréstimo ou maior a taxa de esforço do cliente, mais elevado vai ser o spread.
O spread é uma taxa fixa, acordada com o banco no momento do contrato de crédito habitação, e o seu valor pode depender de outras condições. O banco pode baixar o spread caso adicione produtos ao crédito, como a domiciliação de ordenado à conta, subscrição dos seguros na seguradora do banco, cartões de crédito, entre outros.
Caso altere alguma destas condições ao longo do contrato de crédito, o banco pode penalizar-lhe o spread.
Mas o spread é apenas um dos fatores que tem implicância no valor que vai pagar por mês pelo seu crédito.
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Outros fatores que impactam a prestação mensal
De seguida, enumeramos outros fatores que impactam a prestação mensal do seu crédito habitação e que, se pedir uma revisão e renegociação de condições ao banco, também pode conseguir poupar.
Seguro de vida e seguro multirriscos
Um dos fatores que pode influenciar a prestação mensal do crédito habitação são os seguros requeridos no momento da contratação. O banco pede para realizar um seguro de vida e um seguro multirriscos.
Como funciona o seguro de vida num crédito habitação?
Relativamente ao seguro de vida, o objetivo é que o banco se proteja caso o cliente sofra algum acidente e fique impossibilitado de ganhar rendimentos e pagar as prestações do crédito. Então, em caso de sinistro, ao acionar o seguro, fica a seguradora encarregue de pagar o crédito.
O valor deste seguro vai depender da modalidade que escolher. Pode escolher entre seguro de vida que cobre o risco de morte, o risco de vida ou misto, e seguro de vida com coberturas complementares como: diagnóstico de doenças graves como cancro, AVC ou enfarte do miocárdio, Invalidez Absoluta e Definitiva (IAD) e Invalidez Total e Permanente (ITP).
O seguro multirriscos garante que, se acontecer algum acidente ao imóvel, a habitação e os bens que lá tem dentro ficam assegurados pela seguradora.
O seu valor também vai depender das coberturas por que opta. Tem as coberturas mais comuns e outras que pode acrescentar aos pacotes base. Por norma, um seguro multirriscos cobre o seguinte: danos por incêndios, explosões, quedas de raios e aluimento de terras; pesquisa de avarias; danos no chão, parede e mobiliário consequentes de inundações e problemas com canos de água e esgotos; responsabilidade civil do segurado e agregado familiar (por eventuais lesões materiais ou corporais, involuntariamente causados a terceiros); indemnização por furto ou roubo, incluindo danos em portas e janelas e cobertura de riscos elétricos.
Deve saber que não é obrigatório manter os seguros na seguradora associada ao banco do crédito, por isso, caso queira poupar, pode sempre fazer transferência dos seguros para outra entidade.
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Prazo de financiamento
O prazo de financiamento também vai ter impacto no valor de prestação mensal que paga pelo crédito. Quanto maior for o prazo a pagar, mais dividido vai estar o custo total por meses. Logo, menor será a prestação mensal.
Ou seja, se o prazo do contrato for menor, as prestações mensais do crédito vão acabar por pesar mais no orçamento. Consequentemente, a sua taxa de esforço vai ser mais elevada.
Mas quanto maior for o prazo de financiamento, mais alta a fatura de juros, comissões e seguros que acrescem ao capital em dívida.
Desde abril de 2022, os limites para os prazos máximos no crédito habitação alteraram-se. Deixou de estar em vigor o limite máximo de 40 anos, passando apenas este prazo a estar disponível para jovens até aos 30 anos. Depois, entre os 30 e os 35 anos, o prazo máximo do contrato passa a ser 37 anos, e para quem tenha mais de 35 anos de idade, o prazo máximo de financiamento reduz para 35 anos.
Taxas: variável, fixa ou mista?
O tipo de taxa que escolhe no seu crédito habitação também pode fazer toda a diferença no valor da prestação ao final do mês.
Pode escolher entre a taxa variável, fixa ou mista. Ao optar pela taxa variável, fica com uma taxa indexada à Euribor. A Euribor resulta da média das taxas praticadas pelos bancos na Zona Euro e o seu valor tem aumentado desde o início do ano em todos os prazos, depois de vários anos em terreno negativo.
Pode escolher vários prazos da Euribor na taxa variável, mas os mais comuns no crédito habitação são os seis ou 12 meses. Isto significa que, por exemplo, se escolher os seis meses, a cada semestre o valor que paga de taxa no seu crédito é revisto e, caso a Euribor tenha subido, passa a pagar mais de prestação mensal.
Caso escolha a taxa fixa, não tem o seu contrato indexado à Euribor. Por isso, o valor da taxa não se altera durante todo o prazo do contrato de crédito, A desvantagem desta opção é ser, por norma, um valor mais elevado num momento inicial do contrato. Porém, com a atual subida das taxas Euribor, é uma opção que oferece mais estabilidade e segurança.
Também pode optar pela taxa mista. Nesta opção, fica com uma taxa fixa num período inicial, de 5 a 15 anos, e uma taxa variável a partir daí.
Se quiser alterar a taxa a meio do contrato, por considerar que outra opção seria mais favorável para si atualmente, deve contactar o seu banco para que possa rever as condições atuais do crédito.
Produtos adicionais
Há outros produtos que pode adicionar ao crédito que podem fazer diferença na prestação. Isto porque podem tornar o spread mais baixo, fazendo com que fique com uma prestação mensal menor.
Como é o caso do cartão de crédito. É um produto que pode ajudar a negociar a prestação do seu crédito habitação. Então, se contratar o cartão de crédito e lhe der uma certa utilização mensal (a definir uma quantidade mínima com o banco), pode ficar a pagar menos de prestação.
Quanto mais baixo o spread, mais baixa a prestação?
Não, um crédito habitação com um spread baixo não significa que seja o mais barato. Vejamos um exemplo de dois casais com um crédito habitação semelhante em bancos diferentes.
A Joana e o Pedro (nomes fictícios) pagam pelo seu crédito habitação uma prestação mensal de 654,61 euros e têm um spread de 1%. Já o Manuel e a Patrícia (nomes fictícios) pagam de prestação mensal no seu crédito habitação 650,59 euros, com um spread de 1,10%, ou seja, mais elevado. Os dois créditos têm um valor de 220.000 euros, um prazo de 372 meses, uma taxa de juro variável, domiciliação de ordenado na conta à ordem e contratação de seguros obrigatórios através das seguradoras do banco.
Porém, devido aos valores dos seguros e contratação de produtos adicionais, o Montante Total Imputado ao Consumidor (MITC) no caso da Joana e do Pedro é mais elevado do que o do Manuel e da Patrícia. O primeiro casal tem um MTIC correspondente a 326.124,29 euros, e o segundo casal um MTIC de 317.913,59 euros. Ou seja, o casal com o spread mais elevado paga menos pelo seu crédito habitação.
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Utilize o crédito habitação para consolidar créditos
Ainda é possível poupar no crédito habitação, pelo menos a curto prazo, caso tenha vários créditos em mãos. Por exemplo, se tiver, além do crédito habitação, um crédito automóvel e um crédito pessoal, pode juntar todos num só.
O bolo das várias prestações destes créditos tem um grande impacto no orçamento mensal. Mas é possível consolidar os vários créditos para que pague uma única prestação pelos mesmos.
E porquê? Por norma, a taxa de juro do crédito consolidado é mais baixa do que a média das taxas de juro dos outros créditos. Por isso, a consolidação de crédito ajuda a que, no imediato, pague uma prestação mais baixa mensalmente por todos os créditos que possui.
O valor da poupança depende caso para caso, dos créditos que tem e pretende consolidar, mas pode até superar os 60%.
Por isso, se já tiver um spread baixo no seu crédito habitação e fez uma revisão das outras condições, pode compensar fazer uma operação destas para poupar.
Com um spread baixo, ainda é possível poupar no crédito?
Através de uma operação como a consolidação de créditos, ainda é possível poupar no seu crédito habitação mesmo tendo um spread baixo.
Por exemplo, o Paulo (nome fictício) estava a pagar prestações de seis créditos: um crédito habitação, três créditos pessoais e dois cartões de crédito. Relativamente ao seu crédito habitação, tinha um spread de 1% (ou seja, baixo). Então, decidiu fazer uma consolidação dos vários créditos num só, ficando a pagar uma única prestação.
Isto é, o Paulo fez uma 2.ª hipoteca sobre o seu crédito habitação para consolidar os créditos de forma a poupar nos encargos mensais que pagava aos bancos. Antes da consolidação, o Paulo pagava pelos seis créditos um total de 1.370.53 euros. Depois de consolidar os créditos, ficou a pagar uma única prestação de 529,72 euros.
O que mudou, além da taxa do crédito consolidado ser mais baixa, foi o facto de consolidar por um prazo de 20 anos. Mas conseguiu manter as condições do crédito habitação relativamente ao spread de 1%.
Ao todo, o Paulo consegue poupar 840,81 euros mensais e 10.089,72 euros anuais com a consolidação dos seus créditos.
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