Como construir uma carteira diversificada de ações?

O investimento em ações implica riscos, fruto da volatilidade deste mercado, em comparação com outro tipo de ativos.

No entanto, é possível atenuar esses riscos, respeitando uma das regras de ouro do investimento: a diversificação.

Indicamos, de seguida, algumas das regras a ter em conta para conseguir construir uma carteira de ações diversificada, capaz de o proteger melhor dos altos e baixos do mercado.

A importância da diversificação

A diversificação é, sem dúvida, uma regra muito importante no investimento em ações. Em resumo, consiste em não colocar todos os ovos no mesmo cesto, como se diz popularmente.

A vantagem de diversificar é não ficar dependente da variação de uma só empresa ou setor, o que constitui um grande risco. Ou seja, tendo várias ações em carteira, a queda de uma delas pode ser compensada pela subida de outra.

Leia ainda: 12 regras de ouro para investir em bolsa

A diversificação setorial

A diversificação por setores é uma das chaves para construir uma carteira de ações bem diversificada. Assim, uma diversificação adequada deve incluir ações de vários dos principais setores, a saber:

• Energia;
• Materiais;
• Indústria;
• Bens de consumo Discricionário;
• Produtos Básicos de Consumo;
• Saúde;
• Serviços financeiros;
• Tecnologias de informação;
• Telecomunicações;
• Utilities;
• Imobiliário.

São setores muito distintos que, em certos momentos do mercado, podem ter comportamentos totalmente diferentes.

Este ano, fruto do contexto de inflação e de aumento de taxas de juro, o mercado acionista tem sofrido fortes quedas. Por exemplo, o S&P 500, que junta as 500 maiores empresas cotadas na bolsa americana, tem uma queda acumulada de cerca de 23% desde o início do ano.

No entanto, os setores acima referidos não se têm comportado todos da mesma forma. Se olharmos para o índice que mede o desempenho das ações ligadas ao setor da energia (que inclui as petrolíferas), vemos uma subida superior a 50% desde o início do ano. Por oposição, o setor das tecnologias de informação, que junta empresas tecnológicas, regista queda acumulada desde o início do ano superior a 30%.

Ou seja, acontecimentos económicos que afetam as bolsas em geral, podem provocar reações distintas por setores.

Assim, a diversificação faz com que, em alturas de maior incerteza, a sua carteira possa ter menos oscilações.

Leia ainda: Análise fundamental a ações: Em que consiste e como ajuda a investir

Diversificação em função do tamanho das empresas

Para além da diversificação setorial, a diversificação em função da dimensão das empresas é também um outro ponto que deve ter em consideração.

Assim, deve incluir na sua carteira, ações de pequena capitalização (small caps), mas também ações de grande capitalização, nomeadamente, ações blue chips.

Esta diversificação é importante, na medida em que as ações de pequena capitalização apresentam uma maior volatilidade. Por outro lado, apresentam um maior potencial de valorização a longo prazo do que as grandes empresas, o que as torna atrativas.

No entanto, empresas de pequena capitalização apresentam um maior risco de se revelarem maus investimentos, pelo que é importante ter ações de grande capitalização, para compensar e equilibrar a carteira.

Diversificação por tipo de ações

Além do referido acima, deve também diversificar a sua carteira em função do tipo de ações. Assim, deverá incluir:

• Ações que pagam dividendos, na medida em que permitem receber um rendimento regular, sendo uma forma alternativa de ter rentabilidade, para além das mais valias;
• Empresas com grande potencial a longo prazo, ou seja, que se encontram numa fase de expansão, e cujas previsões a longo prazo são muito positivas;
• Ações com bons fundamentos (as chamadas value stocks), que se encontram potencialmente desvalorizadas, e como tal, a curto ou médio prazo podem gerar bons lucros para o investidor.

Leia ainda: Crescimento vs Valor: Duas estratégias para investir na bolsa

Diversificação geográfica

A diversificação geográfica também deve ser tida em conta na construção da carteira. Deve considerar empresas que tenham atividade em vários países, ações cotadas em diferentes mercados, e expressas em moedas diferentes.

A diversificação geográfica, hoje em dia, não é tão importante como no passado, uma vez que os choques económicos são cada vez mais globais, e afetam praticamente todos os países. No entanto, é sempre mais uma forma de diversificar o risco e aproveitar oportunidades.

Leia ainda: Começar a investir: Passo-a-passo e os cuidados a ter

O indicador Beta

O indicador Beta é importante para o ajudar a construir a sua carteira de ações.

Em resumo, o beta é um indicador que mede a volatilidade de uma ação face à média do mercado. Assim, se para uma dada ação, este indicador for superior a 1, tal significa que a mesma é mais volátil que o mercado. Pelo contrário, se for abaixo de 1, significa que é menos volátil.

Se, por exemplo, o Beta de uma ação for 0,8, significa que, no cenário de queda de 1% no mercado, a ação cai apenas 0,8%. No entanto, se o mercado subir 1%, essa ação sobe apenas 0,8%.

Assim, ao escolher as suas ações verifique qual o valor deste indicador para cada uma delas. Para o ajudar, saiba que em vários sites tem essa informação disponível, nomeadamente o Yahoo Finance.

Leia ainda: Como construir uma carteira “à prova” de estagflação

Monitorização da carteira

Uma carteira diversificada envolve muito trabalho, para além da sua construção. Deve analisá-la regularmente e perceber se não houve alterações importantes ao nível do peso que cada posição ou setor tem no seu portefólio.

Se pretender, por exemplo, ter uma carteira com um peso de 10% de um dado setor, e o mesmo tiver uma valorização muito grande quando comparado com os outros, isso significa que o seu peso passou a ser maior que 10%. Assim, deve efetuar alterações nas suas posições, reforçando o seu investimento noutros setores.

Além disso, uma carteira de ações exige um acompanhamento regular de cada uma das posições, nomeadamente através da análise de comunicados, informação financeira trimestral, entre outros. Ou seja, é necessário tempo e conhecimento para efetuar o acompanhamento adequado. Assim, deve escolher um número adequado de posições que lhe permitam uma boa diversificação e, ao mesmo tempo, um acompanhamento regular de todas elas.

Em resumo, a construção e a manutenção de uma carteira diversificada é algo que envolve bastante trabalho. No entanto, caso não tenha tempo e disponibilidade para ter uma carteira desta natureza, saiba que existem ETFs que fazem este trabalho e que lhe permitem assim ter exposição a ações.

Leia ainda: Obrigações, ações e dinheiro. Que peso devem ter na sua carteira?