A desvalorização do euro em relação ao dólar atingiu o seu auge no passado mês de julho, altura em que a moeda europeia atingiu o valor mais baixo dos últimos 20 anos. Por outras palavras, as duas moedas atingiram o mesmo valor, o que representa uma desvalorização de 15% do euro no último ano.
Isto significa que, um euro passou a valer tanto como um dólar. Mas a tendência de descida não ficou por aqui, tendo o euro passado a valer menos do que a moeda norte-americana.
Numa primeira análise, pode parecer que esta situação não tem implicações na sua carteira. Mas, na verdade, as consequências não são apenas para quem pensa em viajar para os EUA. Aliás, provavelmente já está a pagar por esta desvalorização e ainda não deu conta.
Reforçamos ainda que, na página do Banco de Portugal pode acompanhar a evolução da cotação do euro em relação ao dólar e perceber a evolução recente.
O porquê da desvalorização do euro face ao dólar
Já vão longe os anos em que o euro era tão forte (1,6 vezes o dólar durante a crise financeira global de 2008) que muitos europeus passavam férias nos Estados Unidos em busca de hotéis e comida baratos, e regressavam a casa com as malas cheias de bens de consumo (roupas, bens eletrónicos, entre outro).
Agora, a situação é completamente diferente, dado que a Europa está a sofrer as consequências econômicas da guerra na Ucrânia e a decisão do Banco Central Europeu de manter inalteradas as taxas de juros.
Na realidade, a desvalorização do euro relativamente ao dólar é explicada em grande parte por dois fatores:
- a inflação e o modo como os bancos centrais estão a lidar com esta situação;
- e os efeitos da Guerra na Ucrânia.
Posição do Banco Central Europeu VS Reserva Federal Norte-Americana
Apesar da inflação ser um fenómeno global, a Reserva Federal norte-americana (FED) e o Banco Central Europeu (BCE) não reagiram da mesma forma.
Enquanto a FED que decide a política monetária para os EUA (equivalente ao BCE na Europa) optou por subir as taxas de juro para combater a inflação, o BCE tem tido alguns cuidados no que diz respeito a esta matéria.
De acordo com Eric Dor, diretor de Estudos Económicos da IESEG School of Management, esta posição do BCE prende-se com o facto de este ter receio de provocar uma crise da dívida soberana (ou dívida pública) nos países mais endividados da zona euro. Em sentido contrário, “A Fed não tem esse problema”.
Taxas de juro e inflação: como uma pode afetar a outra?
Na situação atual de subida generalizada dos preços em que vivemos, uma subida da taxa de juro traz duas consequências imediatas:
- incentiva a um aumento da poupança (o dinheiro no banco rende mais);
- torna os empréstimos mais caros (ajuda a diminuir o consumo).
Com efeito, dá-se uma diminuição na procura de bens e serviços, o que por sua vez, faz baixar a inflação. Veja a explicação do BCE que resume num gráfico a política seguida nos últimos meses.
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A Guerra da Ucrânia e a instabilidade económica
Na realidade, a guerra da Ucrânia e a instabilidade económica também contribuem para a desvalorização do euro. Em outras palavras, a guerra e a dependência energética da Europa face ao gás russo ajudam ao aumento do receio de uma possível recessão no velho continente.
Esta situação está a afastar os investidores que preferem concentrar-se no EUA, país que está menos dependente dos preços da energia e dos combustíveis.
Logo, se aumenta a procura dos investidores no EUA, então o dólar valoriza-se, apresentando-se assim como uma moeda mais rentável.
Em sentido contrário, dada a crise energética e a incerteza quanto ao desfecho do conflito, o euro tende a ser menos procurado e por isso desvalorizado.
Desvalorização do euro: quais as suas desvantagens?
Na prática, com o dólar a valer mais ou próximo do valor do euro, as importações ficam mais caras. Isto significa que, será preciso gastar mais euros para comprar um determinado produto e pagar em dólares.
Um dos maiores exemplos em que a desvalorização do euro face ao dólar pode afetar a nossa carteira é o barril de petróleo. Isto porque, este é essencial para produzir gasóleo e gasolina, sendo negociado em dólares. Ou seja, o efeito de “bola de neve” pode afetar toda a economia. Em outras palavras, se os combustíveis sobem, aumentam os custos com os transportes e a indústria, refletindo-se posteriormente em toda a cadeia de consumo. No fim, quem paga é o consumidor que vê os preços dos bens e serviços disparar!
De igual modo, o trigo e outras matérias-primas são também negociados em dólares. Logo, com a desvalorização do euro, importar estes produtos fica mais caro para afetando a maioria dos países europeus. Assim, não é de admirar que os preços continuem a subir e as suas despesas mensais a aumentar.
Neste contexto, se pensa em viajar para os EUA ou para outro país onde usar dólares nas suas compras, ou como moeda de troca, a desvalorização do euro não lhe irá ajudar. Em suma, os custos com a estada, eventuais refeições e compras vão ser maiores do que aquilo a que estava habituado. Então, pense duas vezes!
Desvalorização do euro: nem tudo são más notícias
Pois é, a desvalorização do euro face ao dólar, não traz só coisas negativas. Para alguns setores da economia portuguesa, pode até ser uma boa noticia! Ou seja, para quem exporta, tendo em conta que o dólar vale mais do que o euro, fica mais barato comprar em Portugal e assim as exportações tendem a subir.
No primeiro semestre de 2022, as exportações nacionais de bens e serviços atingiram 56,3 milhões de euros, mais 38,1% relativamente ao mesmo período de 2021. Só as exportações para os EUA, o quinto maior cliente em termos globais, registaram um aumento de 79 por cento.
Um euro mais fraco pode ajudar a explicar esta tendência de crescimento. Para quem compra em dólares, um produto “made in Portugal” fica agora mais barato.
O mesmo sucede com o turismo e imobiliário. Isto porque, são dois setores em que a presença norte-americana em Portugal tem vindo a crescer, e que podem também beneficiar da desvalorização do euro em relação ao dólar. Ou seja, um americano chega a Portugal e pode gastar mais na nossa hotelaria ou restauração, o mesmo se aplica à aquisição de imóveis.
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A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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