Ao assinalarmos, mundialmente, a importância que a poupança tem, ou deveria ter, nas nossas vidas, o grande desafio continua a ser o desmistificar do lado negro do "vil metal", num caminho que, incontornavelmente, passa por reforçar os esforços para melhorar os índices de literacia financeira no nosso país (não fosse esta uma das bandeiras e principais missões do Doutor Finanças).
É já tempo de vivermos uma relação saudável com o dinheiro, e sem tabus ou receios de afirmar “eu sou poupadinho e nada tenho de avarento!" Gosto de dinheiro, gosto da liberdade que ele me dá, gosto ainda mais de poder concretizar os meus sonhos. Gosto de antever e planear os meus gastos. Trato, sem sacrifício, do meu futuro, e de dar resposta a situações inesperadas com as poupanças que faço mensalmente. Gosto de poupar porque gosto de ter margem para sonhar.
E, sobretudo, escolho estar informado e gosto de saber que tomo decisões financeiras conscientes.
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“Estou numa relação” com o dinheiro
Por estes dias, numa típica família portuguesa, os adultos andam às voltas com a gestão do seu rendimento mensal, muitas vivem ansiosas pelo final do mês, e outras tantas continuam a consultar o saldo no multibanco e a questionar-se: “Mas como é que eu gastei tanto dinheiro?”. E, neste cenário, não há tempo ou disponibilidade para introduzir estes assuntos junto dos mais novos (aqueles que pouco ou nada sabem sobre dinheiro, quanto mais sobre poupança).
Em jeito de relação amor-ódio, os portugueses teimam em ‘sacudir a água do capote’ e a culpa é sempre daquele que não estica. Se o salário não chega para o dia a dia, como é que ainda vamos colocar algum de parte?
Na verdade, é mais do que tempo de assumirmos o controlo das nossas finanças. Rumo à poupança e a uma relação saudável com aquele que está mais para herói do que para vilão. Não fosse ele o passaporte para uma vida equilibrada.
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Poupar sem sacrifício? Claro!
Ainda com espírito de missão (até que um dia seja só mais uma disciplina no ensino primário, secundário e universitário) a sã relação com o dinheiro deve começar por volta dos 2 ou 3 anos de idade. À medida que os anos vão avançando, também os conceitos e a complexidade vão chegando mais além e, chegados à idade adulta e à expectável emancipação financeira, o ideal é que o dinheiro já seja um bom amigo.
A criação de um orçamento mensal, com rendimentos e despesas devidamente identificados e categorizados; apoiado por um previdente fundo de emergência, que deve responder a, pelo menos, seis meses de cumprimento das despesas fixas em caso de doença grave ou desemprego, abrem espaço a uma gestão direcionada à poupança.
Se nos primeiros passos a poupança deverá ter sido introduzida como uma meta para comprar aquele brinquedo ou aquele gadget, nesta fase, o planeamento pode apontar para a compra de casa, de um carro ou para fazer a tão desejada viagem.
Quanto mais simples e ajustado for este plano, menos sofrida é a dita poupança. Esta passa a ser sinónimo de foco. Apesar de existirem várias fórmulas com diferentes percentagens, devemos poupar um valor “confortável”. Mas, atenção, “à vontade não é à vontadinha”. Poupar é, naturalmente, um exercício de disciplina e rigor. É fundamental manter a estratégia, ou seja, a regularidade e o montante, e acima de tudo, ser forte diante das tentações que a todos nós ‘piscam o olho’, não fosse esta uma sociedade de consumo (tantas vezes excessivo).
E se os rendimentos assim o permitirem, vai chegar o dia em que o passo natural é o investimento. Analisar soluções, adequar a nossa disponibilidade financeira face aos riscos inerentes e conhecermo-nos como ninguém quando calçamos os sapatos de investidor é já meio caminho andado. Uma vez mais, consumindo toda a informação possível, vai ser possível crescer em todos os sentidos, muito para além das poupanças. Mais do que lucros, vamos estar a amealhar liberdade.
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A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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