A subida das taxas Euribor tem ditado um forte agravamento dos custos de financiamento das famílias portuguesas, em particular no que respeita ao crédito habitação. Prova disso são os juros dos novos contratos para a compra de casa que passaram de 2,23%, em setembro, para 2,86%, em outubro.
Esta é a taxa de juro média mais alta desde dezembro de 2014, e a subida mensal a maior de que há registo. Tendo em conta que a série estatística do Banco de Portugal foi iniciada em 2003, estamos perante o maior aumento em, pelo menos, 19 anos.
Concessão de crédito habitação cai em outubro
Segundo os dados do Banco de Portugal, no mês em que os juros dos novos contratos de crédito habitação sofreram o maior agravamento registado, os bancos também concederam menos empréstimos para a compra de casa: foram 1.197 milhões de euros de novos créditos habitação, abaixo dos 1.341 milhões de euros concedidos em setembro.
No mesmo sentido, os novos créditos ao consumo também desceram de 467 milhões de euros, em setembro, para 412 milhões de euros, em outubro, com a taxa de juro média associada a este tipo de empréstimos a atingir os 8,06%, o valor mais alto desde janeiro de 2020, no início da pandemia (8,07%). Já os créditos para outros fins recuaram de 201 para 189 milhões de euros.
No total, os bancos concederam 1.798 milhões de euros de novos empréstimos às famílias, em outubro, menos 211 milhões de euros do que no mês anterior.
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Euribor a 6 meses passa a dominar nos novos contratos
Numa análise detalhada ao crédito habitação, o Banco de Portugal revela que quase 9 em cada 10 novos contratos (88%) fechados em outubro destinaram-se à aquisição ou construção de habitação própria permanente, 6% a habitação secundária e 6% a obras.
E, apesar da rápida subida das taxas Euribor, os portugueses continuaram a dar preferência à taxa variável, ficando sujeitos às flutuações do indexante: 83% do montante dos novos empréstimos para habitação própria permanente foram concedidos a taxa variável, e apenas 7% a taxa fixa e 9% a taxa mista.
Nos contratos com taxa variável, a Euribor a 6 meses foi dominante pelo segundo mês consecutivo, ao contrário do que se observou até setembro deste ano, com a maioria dos novos empréstimos ligados à Euribor a 12 meses. Recorde-se que, quanto mais curto for o prazo da Euribor, menor é a taxa e maior a frequência de atualização. Ou seja, com a Euribor a 6 meses, a taxa de juro reflete mais rapidamente as flutuações da Euribor (a revisão da prestação é feita a cada 6 meses) do que com a Euribor a 12 meses, em que a revisão só acontece uma vez por ano.
O Banco de Portugal revela ainda que nos empréstimos a taxa variável, a taxa de juro média dos novos contratos subiu de 0,6% para 2,6% entre dezembro de 2021 e outubro de 2022. Já a taxa de juro média do stock era de 1% no final do outubro.
No que respeita aos empréstimos a taxa fixa, a taxa de juro média dos novos contratos subiu de 2,1% para 4,1% entre dezembro de 2021 e outubro de 2022, ao passo que a taxa de juro média do stock era de 2,4% no final do outubro.
A análise dos dados permite concluir que, em outubro, existiu maior dispersão nas taxas de juro aplicadas aos novos empréstimos contratualizados a taxa variável: a 80% destes contratos foi aplicada uma taxa de juro entre 1,5% e 3,4%, enquanto 80% dos empréstimos a taxa fixa foram contratualizados a taxas entre 3,4% e 4,5%.
No mês em análise, a prestação média mensal dos empréstimos para habitação própria e permanente era de 315 euros, mais 36 euros do que no final de 2021.
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Juros dos depósitos com maior aumento em mais de 10 anos
Se o aumento dos juros tem tido um grande impacto no custo do crédito, o mesmo não se pode dizer da remuneração dos depósitos, que até baixou nos meses de agosto e setembro.
Em outubro, porém, os bancos já aumentaram o preço pago aos aforradores, com a taxa de juro média dos novos depósitos a prazo de particulares a aumentar de 0,05%, em setembro, para 0,24%, em outubro. Esta é a taxa mais alta desde outubro de 2017 (0,26%) e a subida mensal a mais pronunciada desde fevereiro de 2012, ou seja, em mais de 10 anos.
Neste mês, o aumento da remuneração foi acompanhado por uma subida do montante de novos depósitos feitos pelas famílias. No total, foram confiados aos bancos 4.726 milhões de euros por particulares, o que compara com os 3.902 milhões de setembro. É preciso recuar a julho de 2019 para encontrar um montante de novos depósitos mais elevado (4.913 milhões de euros).
No caso das empresas, o montante de novos depósitos a prazo foi o mais alto desde dezembro de 2017, totalizando 3.233 milhões de euros, em outubro, mais 2.121 milhões do que no mês anterior. Do total, 3.026 milhões foram depósitos com prazo até um ano, remunerados a uma taxa de juro média de 0,44%.
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