“Bem-vindo a Hollywood, novato!” Eis como nos recebem no videojogo Lights, Camera, Budget!, título que nos remete para o famoso “Luzes, Câmara, Ação”. Porém, em vez do som da claquete a dar a dica para os atores entrarem em cena, aqui somos brindados por um aparentemente pouco entusiasmante “Orçamento”. E, sim, dissemos “aparentemente”, pois o jogo (em inglês e com versões adaptadas para estudantes do terceiro ciclo ou do ensino secundário), não tem dificuldade em prender mesmo os mais velhos – como nós… ao papel de produtor cinematográfico. Recém-chegados a Los Angeles, temos de aprender depressa a lidar com os humores das estrelas do cinema, os problemas dos locais de rodagem ou as turbulências próprias da comunicação social. E isto ao mesmo tempo que tentamos manter-nos dentro do orçamento para o filme.
Custos e benefícios das decisões financeiras
Ao jogador, pede-se que tome decisões racionais, fazendo escolhas com base numa análise de custos e benefícios. Tudo bem que contratar um caniche super bem treinado custa uma pequena fortuna, mas o investimento até pode justificar-se, se os espetadores adorarem as habilidades caninas e encherem as salas dos cinemas. Ah, mas como saber antes se uma decisão será, efetivamente, “racional”? Na pele de produtores inexperientes, podemos contar, felizmente, com o auxílio de gente já com muito andamento. Os conselhos recebidos facilitam a gestão do dinheiro e a tomada de decisões financeiras. E bem precisamos.
Leia ainda: Preservação e lucro: Inimigos de mãos dadas
Literacia financeira que vale milhões
Os 100 milhões de dólares destinados à produção do filme, que inicialmente parecem inesgotáveis, desaparecem num piscar de olhos. Acreditem! Sabem quanto custa contratar uma atriz mundialmente reconhecida? E nada nos garante que contratá-la, só por si, chegue para que os críticos e público deem cinco estrelinhas à nossa película. Além disso, há muito mais onde gastar dinheiro. Logo na fase de pré-produção temos de escolher o género de filme, o título, contratar o realizador e os atores principal e secundário, decidir qual será o cenário das filmagens. Segue-se a equipa de produção, o material, o catering…É tudo a somar na parcela das despesas, mas, se acertarmos nas respostas a umas perguntas sobre temas financeiros, recebemos de bónus mais uns quantos milhões de dólares.
Poupámos e gastámos nos sítios certos?
Serão bem-vindos. Na fase de pós-produção, ainda precisamos de valentes maquias para marketing, montagem, banda sonora e efeitos visuais. Após doze árduas decisões, o trabalho de produtor está finalmente cumprido. Resta esperar pelo sucesso de bilheteira. Mas, será que optámos pelo título mais apropriado? E a dinâmica entre a equipa técnica e os atores terá sido a melhor? E porque é que poupámos tanto no catering, correndo o risco de deixar maldisposta a nossa atriz principal? Rufar de tambores… Tudo somado, três estrelas para o nosso filme de terror. Podia ter sido melhor. Vamos lá recomeçar e, desta vez, rodar uma comédia romântica.
Leia ainda: Do querer ao poder, vai todo um orçamento
Faça-se à estrada na melhor companhia
A proposta de Hit the Road: a Financial Adventure não é menos aliciante. Afinal, quem não gostaria duma road trip com os seus melhores amigos? O problema é que o dinheiro não abunda e o orçamento tem de chegar para comprar comida, gasolina, medicamentos quando alguém adoece e pneus sobresselentes para a eventualidade de um furo. Há sempre muitas formas de o dinheiro desaparecer. E poucas de entrar, até porque neste jogo paga-se tudo em dinheiro vivo: não há cá mais créditos, além do empréstimo inicial de 500 dólares (que temos de ir pagando). Ficámos parados a meio da estrada porque não tínhamos dinheiro para o combustível necessário? Volta-se para trás, por cortesia de outro viajante, e lá temos de ir arranjar uns trocos. Assim nunca mais chegamos ao destino!
Até nos jogos os preços variam…
À partida de Washington ninguém diria que ficaríamos de bolsos vazios. Trinta unidades de comida na bagageira, depósito do carro atestado, três amigos prontos para o que der e vier. Aqui todos ajudam, trabalhando ao longo do trajeto, às vezes em funções adaptadas à sua profissão (o fotógrafo pode tirar retratos a pessoas; a enfermeira pode fazer um turno num hospital, etc.), outras em tarefas sem especialização, como distribuir folhetos. As injeções de capital são imprescindíveis. Os preços da comida e gasolina alteram-se ao longo do trajeto, por vezes aparecem portagens e avarias, e nem sempre as profissões dos viajantes se coadunam com a oferta de trabalho disponível. Portanto, que se faz ao chegar a uma estação de serviço? Toca a lavar carros e limpar para-brisas.
Só trabalho, sem nenhuma diversão?
Mas viajar pelos Estados Unidos sem aproveitar nada também não faria sentido. Ir a Nova Iorque e não ver a Estátua da Liberdade seria quase um crime. Em cada cidade, há monumentos a visitar, souvenirs a comprar… Tudo isso, claro, custa dinheiro. Lá se vai dobrar caixas de cartão num supermercado e levar compras a casa dos clientes. Numa grande cidade, podemos servir de figurantes num show de televisão. Também podemos ser voluntários na distribuição de comida a sem-abrigo. Ganhar para gastar a seguir, pois uma road trip deve ficar na memória como uma experiência de vida única.
Leia ainda: Se a economia dos Sims é pouco realista, os fãs tratam disso
Trabalhar para pagar a dívida
E, depois, com um dinheirinho no bolso, vamos lá ao Rock and Roll Hall of Fame, em Columbus, no Ohio. É preciso mais dinheiro? Lava-se pratos, substitui-se um cozinheiro, escreve-se um artigo para uma revista de viagens e recebe-se o suficiente para um passeio de barco no famoso rio Mississipi. Enquanto os dias do calendário passam, a nossa dívida decresce, desde que depositemos dinheiro na conta para a pagar. Em Santa Fé, cortamos a relva em troco de uns cobres. Convém chegar a Los Angeles com saldo bastante positivo, o que pode requerer vários dias a trabalhar nas paragens anteriores. Após tanto esforço, bem merecemos uma ida ao museu de cera de Hollywood ou uns gastos extra em Venice Beach.
As merecidas férias na neve
A longa viagem termina no Colorado. Se tudo tiver sido bem calculado, teremos pagado a dívida e ainda acumulado um saldo de 500 dólares. Sem isso, não haverá semana de férias na neve para ninguém. É altura de ver como nos safámos financeiramente da viagem. Estamos de parabéns: 10 pontos por nunca termos ido à falência. Ainda assim, fizemos 130 de 170 pontos possíveis, o que nos deu 3,5 estrelas. Onde falhámos? Ficámos sem gasolina ou comida algumas vezes… E faltou-nos comprar algumas lembranças. Bem nos parecia que devíamos ter trazido aquela t-shirt de Nova Iorque. O que vale é que nos videojogos é mais fácil voltar atrás e tentar de novo.
Leia ainda: Como ganhar ao Monopólio (e depois conhecer outros mundos)
Paulo M. Morais cresceu a jogar futebol de rua e a ouvir provérbios ditos pelas avós. Licenciou-se em Comunicação Social e especializou-se nas áreas do cinema, dos videojogos e da gastronomia. É autor de romances e livros de não ficção. Coleciona jogos de tabuleiro e continua a ver muitos filmes. Gosta de cozinhar, olhar o mar, ler.
A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
Deixe o seu comentário