Hoje vou falar-lhe de uma das maiores idiossincrasias dos portugueses. Idiossincrasia é um modo de se comportar, agir ou conduta incomum ou extravagante de um indivíduo ou povo. Isto é a minha opinião e, obviamente, não tem de concordar com ela. Trata-se da particularidade do português de achar que nas férias (e em outras situações) merece ter o prémio de se descontrolar financeiramente. Passo a explicar.
Nestas férias, vim até ao Algarve e, como milhares de portugueses, fui às compras a um hipermercado. Fui abordado com muita simpatia por um casal que meteu conversa comigo na fila para o pagamento. O senhor disse-me com toda a candura: “Pois é, estamos de férias, não é? Nas férias temos de esquecer a poupança, certo? Também temos de gastar o que poupamos…”
Depois de cada pergunta, ficava à espera que eu concordasse como que dando o aval a essa “verdade” tão portuguesa: devemos fazer muitos sacrifícios ao longo do ano para não fazer contas a nada nas férias e (acrescento eu) também nas épocas festivas para quem as celebra e quando celebra. É o clássico “Dias não são dias”.
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A poupança não tira férias
Acho que o senhor não ficou muito satisfeito com a minha resposta, porque em vez da expectável resposta de circunstância, expliquei-lhe que a poupança é um modo de vida e que não tira férias. E que pode gastar o dinheiro que quiser nas férias e em qualquer outra altura do ano. É tudo uma questão de organização e planeamento.
Eu posso gastar 1.000, 2.000, 5.000 mil euros nas minhas férias e continuar a ter a minha vida financeira completamente sob controlo. O descontrolo financeiro “temporário” não deveria nunca ser visto como um prémio, mas sim como uma doença a curar rapidamente.
Não sou psicólogo, nem sociólogo, mas acredito que gastar dinheiro sem qualquer espécie de filtro nestas ocasiões (férias e épocas festivas) será uma forma de compensação sem qualquer fundamento lógico para compensar os sacrifícios que terá de fazer no resto do ano, justamente e em parte devido a esses gastos que faz nessas alturas. Em vez de ser um prémio, é uma das causas do “castigo”. E como é recorrente, é uma das razões dos problemas financeiros dos portugueses levado ao infinito enquanto esse ciclo não for quebrado.
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Manter-se dentro do orçamento
Há nesta situação uma espécie de comportamento aditivo em relação ao dinheiro que, se o travássemos, a nossa vida financeira melhoraria imediatamente.
É uma regra tão simples que até me custa a escrever: só deve gastar o que pode dentro do seu orçamento, depois de fazer as contas a tudo o que precisa de comprar ao longo dos meses e do ano.
Você sabe quanto ganha, quanto entra em sua casa todos os meses e todos os anos (pelo menos devia saber); depois é fazer as contas a tudo o que tem de gastar e pagar todos os meses e ao longo do ano. Deve reservar dinheiro para as emergências, como saúde, avarias e acidentes. O que sobrar é o dinheiro que tem para gastar nas férias, festas, prendas (para si e para os outros) e luxos (grandes e pequenos). E não falo aqui do investimento no seu futuro, que isso já é outro capítulo.
Só depois de saber quanto lhe sobra, é que vai escolher as férias que pode ter e não tentar igualar ou superar as férias que os outros têm.
Como vê, o descontrolo financeiro não é um prémio que está a dar a si próprio. Pelo contrário!
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Pedro Andersson nasceu em 1973 e apaixonou-se pelo jornalismo ainda adolescente, na Rádio Clube da Covilhã. Licenciou-se em Comunicação Social, na Universidade da Beira Interior, e começou a carreira profissional na TSF. Em 2000, foi convidado para ser um dos jornalistas fundadores da SIC Notícias. Atualmente, continua na SIC, como jornalista coordenador, e é responsável desde 2011 pela rubrica "Contas-Poupança", dedicada às finanças pessoais. Tenta levar a realidade do dia a dia para as reportagens que realiza.
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