Falar de literacia financeira é falar de poder. O poder de perceber o que está a acontecer com o dinheiro que ganhamos, gastamos e investimos. O poder de conseguir filtrar o ruído quando estamos a falar de finanças pessoais.
A palavra poder tem origem no latim possum, que significa “ser capaz de”. O dicionário diz-nos que significa ter a faculdade ou a possibilidade de; ser capaz de; ter a possibilidade, influência ou força; dispor de meios que possibilitam uma ação; capacidade de agir sobre algo.
Literacia financeira e poder económico: Que relação?
O S&P’s Global Financial Literacy Survey mostra-nos um mapa que compara o nível de literacia financeira nos vários países do mundo. Fosse este um mapa sobre poder económico, e não sobre literacia financeira, e as conclusões seriam semelhantes. Ou seja, as economias mais fortes e resilientes, como os Estados Unidos, Canadá, Austrália e todos os países da Europa Ocidental, com destaque para a Noruega e Suécia, são também os países com maiores níveis de literacia financeira.
Alguns dirão que a China é uma grande economia e não está na lista dos países com maior índice de literacia financeira. É verdade. Mas a China é um país com 1 bilião de pessoas e com grandes diferenças culturais entre regiões. É uma questão de tempo até esta realidade mudar.
E o que explica, então, esta relação entre poder económico e literacia financeira? É simples. Quando as pessoas têm ao seu dispor conhecimento que lhes permite tomar melhores decisões, serão capazes de agir sobre a economia do país de forma diferente, tornando-a mais competitiva, mais forte e resiliente e com elevada capacidade de gerar riqueza.
É, assim, inquestionável, que um aumento da literacia financeira está positivamente correlacionado com um aumento de riqueza do país. Os governos, ao investirem na literacia financeira da sua população, estão a formar pessoas que vão ter o poder de tomar decisões informadas, de fazer perguntas, de procurar e exigir melhores serviços. Seja que decisão for.
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Sociedades com alto e baixo índice de literacia financeira
Tomemos como exemplo a compra de uma casa. Numa sociedade com um baixo nível de literacia financeira, as pessoas simplesmente começam a procurar casa e vão pedir financiamento ao banco onde têm conta há anos. Os seguros, vão contratá-los nesse mesmo banco, e ficar a pagar o dobro - sem saber sequer que coberturas tem - porque o gestor lhes diz que devem fazer o seguro com eles.
Pelo contrário, numa sociedade com um elevado nível de literacia financeira, as pessoas vão primeiro procurar um especialista em financiamento e analisar em conjunto qual é a prestação máxima que o seu rendimento disponível permite, e para esse valor, qual o preço da casa que conseguem comprar.
A seguir, vão procurar um especialista em imobiliário para encontrar a casa certa, de acordo com o financiamento disponível, e tentar negociar o melhor preço possível.
Depois de selecionar o imóvel, avançam com a operação e vão procurar um especialista de seguros (mediador de seguros) para as ajudar a encontrar a melhor relação qualidade/preço para o seguro de vida e o seguro da casa.
É fácil perceber que existem diferenças entre as sociedades. A principal é que literacia financeira implica conhecimento, e conhecimento retira poder às instituições para o dar às pessoas. E é aqui que acontece a criação de valor.
As sociedades com elevados níveis de literacia financeira terão melhores condições por parte dos bancos, e a preços mais competitivos. E os bancos, por sua vez, também serão mais sólidos, e com carteiras de crédito de qualidade superior.
O que vimos em relação à compra de um imóvel, repete-se em todos os aspetos da vida, desde a contratação de um seguro ou análise de soluções de poupança para a reforma à escolha do candidato em que votar nas próximas eleições.
Esta última questão é um tema muito sensível para a classe política. Quando uma sociedade exige o melhor, e nada menos do que o melhor, a todos os níveis, vai exigir automaticamente muito mais da classe política, e fazer mais e melhores perguntas sobre aquele que será o futuro do país.
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Que sociedade queremos ser?
Por algum motivo, achamos que os países com maiores níveis de literacia financeira contraem menos financiamento, e como Portugal é um país que vive de financiamento, é impossível termos melhores níveis de literacia financeira.
O que não é verdade. Muitos países, com elevados níveis de literacia financeira, contratam muito mais financiamento per capita do que nós. A diferença é que eles sabem o que estão a contratar. Sabem o que têm de fazer se tiverem cartões com um valor em dívida acima do desejável. E também estão mais protegidos, porque contratam seguros para salvaguardar o seu estilo de vida. Seja de desemprego, de doenças, ou para proteger o futuro da família em situações de morte ou invalidez.
É inquestionável que conhecimento é poder. E, nessa medida, a sociedade que queremos ser vai depender do nível de literacia financeira que ambicionamos ter.
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Co-fundador do Doutor Finanças e administrador de Seguros, Rui Costa é formado em Economia, com especialização em liderança, gestão operacional e Customer Experience. Nasceu em 1988, começou a trabalhar na área de intermediação de crédito aos 23 anos. Natural de Fafe, adora ler e aprender coisas novas. Procura desafiar-se constantemente e de sair da sua zona de conforto. Adora liderar pessoas, dar-lhes as ferramentas certas para as ajudar a crescer do ponto de vista profissional, mas também pessoal, porque as pessoas não são só trabalho, são muito mais.
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