Num mundo cada vez mais acelerado e global, todos nós sentimos que o tempo passa mais rápido. Com apenas um clique, conseguimos saber o que se passa no outro lado do mundo. Isto torna as nossas vidas mais intensas. Temos cada vez mais solicitações e estamos constantemente ligados. Por estarmos tao incluídos nos nossos projetos pessoais e no nosso dia-a-dia, não temos bem a noção da velocidade com que as coisas se passam. Normalmente despertamos, paramos e pensamos quando temos conhecimento de casos extremos como, por exemplo, o desaparecimento de alguém que nos é próximo ou que admiramos. Aí respiramos e questionamo-nos sobre o caminho que estamos a seguir.
Esta introdução serve para realçar a importância do balanceamento que deve sempre existir entre a vida pessoal e profissional. É fundamental termos um equilíbrio entre estas duas componentes, que nos permita acrescentar valor em termos profissionais e aproveitar o nosso lado pessoal, com tempo, dedicação e alegria. Este é um tema que, globalmente, tem ganho cada vez maior relevância, tanto por parte do trabalhador como das entidades patronais.
O futuro está à porta
Todos nós gostaríamos de obter a independência financeira, de forma a podermos reformar-nos mais cedo e aproveitarmos o tempo, enquanto ainda podemos, para fazemos aquilo que mais gostamos. Esta consciencialização faz com que este tema seja uma preocupação para cada vez mais pessoas. A Segurança Social, no futuro, terá capacidade para me pagar a reforma correspondente ao que descontei? Será que posso definir um plano de investimento que me permita retirar dividendos no futuro? Quais os riscos que tenho de incorrer? Quanto preciso de poupar por mês? Estas são algumas das questões que muitos colocam e que têm dificuldades em responder. Como ponto prévio, não existem respostas concretas. Cada um de nós tem as suas particularidades, que nos tornam um caso único.
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O exemplo de Rita Piçarra
Rita Piçarra, ex CFO da Microsoft Portugal, deu uma entrevista onde falou sobre o seu percurso. Segura, confiante, demonstrou que desde sempre teve uma enorme ambição. Definiu no seu trajeto prioridades que seguiu à risca. O seu caminho foi mudando, mas sem nunca esquecer o seu grande objetivo: conseguir reformar-se cedo e a tempo de desfrutar das coisas que mais gosta. Apesar de já ter este objetivo bem definido na sua cabeça, este acabou por ser reforçado pela morte prematura dos seus pais, o que a fez pensar de uma forma diferente. Assim, com um plano de carreira bem definido e depois de passar por diversos países (EUA, Brasil, França ou Espanha), a Rita conseguiu reformar-se aos 44 anos. Conforme referiu, trabalhou e lutou muito para se manter fiel ao seu plano. Foi disciplinada. Definiu uma percentagem de poupança do seu vencimento e canalizou-o para investimento. Investiu em imobiliário e em produtos financeiros. Conseguiu um equilíbrio que hoje lhe permite ter “a vida pela frente”, fazer o que gosta com independência financeira. Trago este exemplo para demonstrar que é possível definir metas e alcançá-las. Também tenho a noção de que nem todos, ou muito poucos, podem fazer o que a Rita conseguiu.
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O contexto português
O salário médio em Portugal é de 1.400 euros. Tendo em conta o custo do nível de vida em Portugal, a taxa de poupança é muito reduzida. Por este motivo, muitos jovens qualificados optam por rumar ao estrangeiro e procurar novas oportunidades que lhes garantam outras condições financeiras. Apesar de a taxa de poupança ser reduzida, há algo que ainda torna mais difícil a concretização de um objetivo como o que a Rita definiu e alcançou. A literacia financeira em Portugal é muito reduzida. E esta é uma componente que conseguimos alterar, porque depende de nós.
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A importância da literacia financeira
De uma forma muito simples, sem literacia financeira a Rita não teria conseguido reformar-se aos 44 anos. Por muito boas condições que tenha tido ao longo da sua vida profissional, foram as suas decisões de poupança e investimento que lhe permitiram exercer a opção que tomou. O contexto português é difícil e desafiante. Nem todos podemos ser como a Rita. Mas o que podemos e devemos fazer é olhar para a nossa realidade e agir. Perceber que todas as decisões que tomamos, de consumo ou de investimento, acabam por ter influência no caminho que definimos. Ter a noção que nos devemos preparar antecipadamente para, no futuro, podermos concretizar os nossos objetivos. Preocuparmo-nos em encontrar alternativas que nos permitam potenciar as nossas poupanças, por mais pequenas que sejam. Ficar de braços cruzados não pode ser uma opção. Procurar conhecimento e tomar decisões conscientes pode fazer toda a diferença. A literacia financeira permite-nos ter maior controlo sobre a nossa vida, presente e futuro. Perceber que, para alcançarmos objetivos, temos de ser muito dedicados, disciplinados e ambiciosos. Quanto mais informação tivermos, melhor serão as nossas decisões. Preparar a reforma pode ser o trigger para reorganizar as nossas vidas. De que estamos à espera?
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Apaixonado pelo desporto e economia, foi jogador profissional de Futebol, tendo atuado em clubes como S.L. Benfica, Estoril, entre outros. Conciliou a carreira desportiva com a académica, terminando a licenciatura em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa (NOVA SBE). Continua ligado às suas duas paixões profissionais, desempenhando a função de Financial Advisor e colaborando como analista desportivo na CNN Portugal. Foi comentador residente no programa Jogo Económico do JE e Presidente do Conselho Fiscal da Federação Portuguesa de Footgolf. (FPFG). Participa com regularidade em eventos sobre Literacia Financeira.
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