O MTIC não é uma sigla desconhecida para a maioria dos titulares de um empréstimo. No entanto, nem todas as pessoas sabem o seu significado e aquilo que influencia o seu valor. Começando pelo seu significado, o MTIC é o Montante Total Imputado ao Consumidor.
Ou seja, quando um banco apresenta as condições contratuais de um financiamento, como por exemplo de um crédito habitação, o valor do MTIC corresponde ao preço que vai ter de pagar ao banco durante todo o período do seu empréstimo. E aqui não entra só o valor financiado e os juros. Há mais despesas englobadas no MTIC, como comissões, impostos, entre outros encargos imputados pela instituição de crédito.
Contudo, é preciso saber que há fatores que vão aumentar o valor do MTIC e que, em certos tipos de modalidades, este valor é meramente indicativo. Para perceber melhor como funciona o Montante Total Imputado ao Consumidor, neste artigo conheça alguns exemplos e onde pode encontrar esta informação antes de assinar um contrato de crédito.
Consegui a pré-aprovação de um crédito habitação. Onde posso consultar o MTIC?
No caso de um crédito habitação, o MTIC é indicado na informação pré-contratual que a instituição de crédito forneceu. Ou seja, ele pode ser consultado na FINE (Ficha de Informação Normalizada Europeia), na secção "Principais caraterísticas do empréstimo", no campo "Montante Total a reembolsar (MTIC).
Já se for um crédito ao consumo, esta informação está disponível na FIN (Ficha de Informação Normalizada), na secção "Montante Total Imputado ao Consumidor".
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Qual a importância de olhar para este indicador?
Para ter uma ideia da importância de olhar para este valor, imagine que o banco pré-aprovou um empréstimo para a aquisição de um imóvel de 150.000 euros, sendo o financiamento de 135.000 euros (90% do valor de aquisição) a liquidar em 30 anos.
Se tiver uma TAEG de 5,033%, um spread de 0,75%, e o seu crédito estiver indexado à Euribor a 6 meses, a sua prestação mensal seria de 704,91 euros. Já o valor do MTIC seria de 256.258,90 euros. Dado que o financiamento é de 135.000 euros, iria pagar mais 121.258,90 euros do que o valor emprestado.
Isto acontece porque estamos numa altura em que os juros estão elevados e o MTIC também engloba outras despesas que fazem o preço final subir, como as comissões e impostos. Mas se tiver um crédito com uma taxa variável ou taxa mista, o valor do MTIC nunca será fixo.
Quando os juros baixarem, o Montante Total Imputado ao Consumidor também irá diminuir e vice-versa. Tirando os contratos com uma taxa fixa, estamos a falar do indicador que pode não corresponder ao montante total que vai pagar no final da vigência do contrato. Agora, uma coisa é certa: um crédito com uma taxa de juro mais elevada, terá sempre um MTIC mais alto.
Qual é o impacto do prazo do contrato no MTIC?
Quando um crédito tem um prazo mais longo, o MTIC é sempre mais elevado, uma vez que o valor dos juros é mais alto face a um crédito com as mesmas condições, mas com um prazo mais curto.
Usando o exemplo anterior, nesse crédito habitação em que o financiamento de 135.000 era a 30 anos, o MTIC estava nos 256.258,90 euros. Se o prazo fosse de 35 anos, o MTIC ia subir para 279.880,13 euros. Já a prestação mensal iria baixar para 660,45 euros.
Caso o objetivo fosse reduzir os custos totais com o crédito, o prazo do contrato teria de ser menor. Se baixasse o prazo para 25 anos, o MTIC passava para 233.656,27 euros, mas a prestação mensal subia para 770,55 euros.
Isto significa que a diferença de 10 anos na liquidação deste contrato representa uma poupança total de 46.223,86 euros à data atual.
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O MTIC na hora de comparar propostas de crédito
Se está com várias propostas de crédito em mãos, o Montante Total Imputado ao Consumidor é um dos melhores indicadores para perceber qual é o crédito mais caro, tal como a TAEG. A grande diferença é que a TAEG mostra quanto vai pagar pelo seu crédito num valor percentual e o MTIC dá-lhe o valor em euros.
Embora muitos clientes pretendam obter a prestação mais baixa, devem ter consciência que essa opção pode implicar a contratação do crédito mais caro, como vimos no caso de estender a maturidade do contrato. Mas se as propostas forem bastante idênticas, com o mesmo valor financiado, a modalidade de juros e prazo igual, então o MTIC ajuda-o a perceber qual será a melhor opção para a sua carteira.
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Exemplo da importância deste indicador ao comparar propostas
Vamos a dois exemplos muito semelhantes que ilustram a forma como o MTIC ajuda a identificar a melhor proposta.
Imaginemos que tem duas propostas em mãos para comprar um imóvel de 130.000 euros, o financiamento corresponde a 90% (117.000 euros), o seu crédito está indexado à Euribor a 6 meses e vai liquidá-lo em 30 anos.
Na primeira proposta, a instituição de crédito oferece um financiamento com uma TAEG de 5,026% e um spread de 0,8%. Neste caso, a prestação mensal fica em 611,67 euros e o MTIC em 222.127,19 euros.
Já na segunda, o banco oferece uma TAEG de 5,061% e um spread de 0,75%. A sua prestação mensal seria idêntica, ficando nos 611,62 euros, mas o MTIC subia para 222.564,68 euros.
Perante estas duas propostas, a solução mais vantajosa seria a primeira. E pode verificar isto tanto pelo valor da TAEG como do MTIC. Dado que o valor da prestação difere apenas em 5 cêntimos, não se deixe levar por um spread mais baixo. Afinal, se a taxa de juro não sofresse alterações (o que não é possível numa taxa variável ou mista durante o período variável), obteria uma poupança de 437,49 euros no prazo final do seu empréstimo ao escolher a segunda opção.
E neste caso, estamos a usar valores muito semelhantes para ter a noção de que pequenas alterações podem ter impacto a longo prazo no valor do seu empréstimo. Caso pretenda saber os valores que pode pagar de MTIC, TAEG e de uma prestação de crédito, pode utilizar o comparador de crédito habitação do Kuanto Kusta, desenvolvido em parceria com o Doutor Finanças.
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A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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