O Orçamento do Estado para 2024 ainda não foi aprovado, mas já se sabe que centenas de milhares de famílias vão ter aumentos, quer por via da descida do IRS, quer do aumento do salário mínimo em cerca de 60 euros por mês. As pensões também vão aumentar cerca de 6% e os salários no privado poderão aumentar 5% em algumas empresas.
Feitas as contas, mais de um milhão de famílias podem ter aumentos em 2024 de cerca de 120 euros por mês, no caso de um casal. Estamos a falar de mais 1.200 ou 1.500 euros por ano se contarmos com os subsídios de férias e de Natal. A questão é: como vai usar esse dinheiro com inteligência?
Amortize créditos e reforce o fundo de emergência
Para muitos será um pequeno balão de oxigénio, numa altura em que as prestações do crédito à habitação estão em valores insuportáveis e a inflação come quase todas as poupanças.
Mas, caso ainda tenha alguma margem de manobra financeira, quero alertá-lo para outra estratégia que lhe trará bons resultados a médio/longo prazo. A estratégia é simples e dolorosa: faça de conta que não teve aumentos nenhuns. Mantenha o seu atual nível de vida e coloque todo e qualquer aumento (caso possa, obviamente) de lado para amortizar todos os meses os seus créditos atuais que lhe absorvem a parte má do seu orçamento mensal. Liquide-os como se tivesse às contas uma mochila a arder.
De seguida, crie - sem pensar muito - uma ordem automática de transferência desse valor para uma conta à parte e comece a criar ou a reforçar o seu fundo de emergência até ter o valor de 1 ano de todas as suas despesas fixas.
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Aposte num bom fundo PPR
O segredo das finanças pessoais saudáveis é viver sempre - ao longo de toda a sua vida - um degrau abaixo daquilo que pode, para dar passos seguros que vão acabar com a sua ansiedade financeira e a ter maior qualidade de vida.
Se já tem o seu fundo de emergência completo e já não tem nenhum crédito (exceto o crédito à habitação) comece e reforce mensalmente um bom fundo PPR. Não imagina o quanto isso pode mudar a sua vida financeira.
Claro que pode não fazer nada disto e gastar o seu recente aumento no que lhe apetecer e lhe der mais satisfação. Quem manda no seu dinheiro é você.
O que normalmente acontece é que quando uma pessoa é aumentada, passa a - sem qualquer má intenção - gastar mais.
Gastar mais não significa necessariamente viver melhor. A experiência diz-me que quando passamos a ganhar mais (sejam aumentos, mudanças de emprego ou rendimentos extra), passamos a gastar mais dinheiro, mas nas mesmas coisas. Se temos um telemóvel, substituímos por um melhor, se temos um carro, substituímos por um mais novo, mais potente ou com mais extras. Se temos uma casa, mudamos para uma com mais uma assoalhada, mais bem localizada ou mais luxuosa.
Ora, como todas essas coisas são - pela sua natureza - fonte de maiores gastos e não de maiores receitas, isso quer dizer que a médio prazo estará numa situação financeira pior do que antes. Só para perceber o que quero dizer, dou-lhe o exemplo do carro. Como ganha mais, comprou um carro melhor. Esse carro não só gera um crédito maior, como consome mais, tem um seguro mais caro e um IUC e manutenção mais caros. Está a ver o filme? É por esta razão que lhe digo que pode usar com inteligência qualquer aumento que tenha ao longo da sua vida.
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Prepare o futuro
Use uma parte desse aumento para, de facto, viver melhor, mas reserve a maior parte para melhorar a sua vida financeira e a da sua família. Depois de pôr esse dinheiro a trabalhar para si vai ter muito tempo para usar esses recursos de forma mais descontraída e menos regrada. Porquê? Porque nessa altura já não estará a prejudicar o seu eu do futuro. Pelo contrário.
A decisão mais inteligente (e dura) é continuar a viver a mesma vida que tem agora, mas com um rendimento maior. Aumenta a sua rede de segurança, rentabiliza o seu dinheiro e multiplica-o em vez de o ver novamente desaparecer por entre os seus dedos.
É o eterno dilema entre viver “melhor” agora ou viver “melhor” com a sua família no futuro. Se decidir não fazer nada e simplesmente gastar os seus aumentos e poupanças de 2024 sem nenhum critério específico, faz igualmente muito bem, porque o dinheiro é seu! Só quero dizer-lhe que tem alternativas.
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Pedro Andersson nasceu em 1973 e apaixonou-se pelo jornalismo ainda adolescente, na Rádio Clube da Covilhã. Licenciou-se em Comunicação Social, na Universidade da Beira Interior, e começou a carreira profissional na TSF. Em 2000, foi convidado para ser um dos jornalistas fundadores da SIC Notícias. Atualmente, continua na SIC, como jornalista coordenador, e é responsável desde 2011 pela rubrica "Contas-Poupança", dedicada às finanças pessoais. Tenta levar a realidade do dia a dia para as reportagens que realiza.
A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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