Desde o dia 2 de novembro que já pode pedir uma simulação ao seu banco para decidir se pede ou não a fixação da prestação do crédito à habitação durante os próximos dois anos (24 meses).
Também já tem todos os dados para fazer a conta: a média da Euribor a 6 meses em outubro foi de 4,115%. Portanto, como a fixação da prestação será 70% desse valor, estamos a falar de 2,881% mais o seu spread.
Portanto, se tem um spread de 1%, é a diferença entre pagar 4,115+1 = 5,115% ou 2,881+1= 3,881%. Num crédito de 150 mil euros, a 30 anos, a mensalidade baixaria de 815 euros para 706 euros. Menos 109 euros por mês durante os próximos dois anos, e com a vantagem de ser sempre essa prestação fixa.
Quem aceitasse esta proposta, deixaria de pagar 2.616 euros de prestação durante esse período. Parece bom, mas será que compensa?
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A opção da taxa mista
Quero relembrá-lo que, no momento em que escrevo esta crónica, há bancos a fazer taxa mista de 2 anos a 3,75%, e até menos. Ou seja, renegociar com o banco pode ser melhor do que aceitar este apoio previsto na lei. Obviamente, depende se o seu banco aceita ou não fazer essa renegociação consigo. Ou se há bancos que aceitem fazer uma transferência de crédito. Por exemplo, abaixo de 50 mil euros de dívida é muito pouco apetecível, ou a sua taxa de esforço atual pode ser inaceitável para os bancos. Nesse caso, tem esta opção “garantida” do apoio do Estado da fixação da prestação.
Por outro lado, quero também sublinhar o facto de a inflação estar a baixar (pelo menos em Portugal) para valores próximos dos 2%. Isso quer dizer que a Euribor pode ter já atingido o máximo (ninguém lhe pode garantir que não vai subir mais). Logo, se aceitar uma taxa fixa durante dois anos ou mais, poderá a estar a fixar uma prestação que ficará acima do que pagaria se decidisse aguentar estas prestações altíssimas mais alguns meses.
Claro que, como ninguém tem uma bola de cristal financeira, a melhor decisão será sempre aquela que o deixar dormir bem à noite. Não há decisões certas ou erradas. Deve avaliar o que é melhor para si, de acordo com os seus rendimentos e o seu perfil de risco.
Avalie os custos de fixar a prestação
Se estiver mesmo aflito, pode baixar a sua prestação já em cerca de 100 euros por mês, de forma automática e sem ter de pedir “autorização” ao seu banco. Mas deve ter a consciência plena de que, no final, vai ficar a pagar sempre mais do que se não tivesse aceitado este apoio. Porque o que não pagar durante estes dois anos vai capitalizar no valor em dívida. Vai pagar mensalmente SEMPRE a totalidade dos juros que teria de pagar ao banco caso não tivesse este apoio. O que baixa é o valor que amortiza todos os meses. Durante dois anos vai amortizar muito menos do que o previsto.
Portanto, é o cliente que está a “pagar” este apoio ao não amortizar o que devia, mas pagando quase apenas os juros, para baixar a prestação.
E não se esqueça de que, como não amortizou o que devia ter amortizado durante os tais 24 meses, o seu seguro de vida vai ser sobre esse valor e não sobre um valor mais baixo a cada ano. Vai pagar sempre a mais todos os meses até ao fim do contrato. A menos que amortize imediatamente o apoio que recebeu.
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Fixar a prestação: Sim ou não?
Assim, a minha conclusão é que deve evitar ao máximo este apoio. Mas se estiver mesmo aflito, aceite-o. Tem ainda a solução de pedir taxa mista também durante dois anos, com vantagens para si se conseguir uma taxa de 3,75% ou menos.
Se consegue manter o pagamento das suas prestações, sem qualquer alteração, e se tem um spread de1% ou menos, pode ser uma boa estratégia se a Euribor deixar de subir e até se descer um pouco.
Compare sempre a melhor taxa fixa que conseguir com a taxa Euribor mais o spread que tem ou que pode negociar. A expectativa é que nos próximos tempos a Euribor ande sempre a rondar os 2,5% ou 3%. Some o seu spread, faça contas e decida.
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Pedro Andersson nasceu em 1973 e apaixonou-se pelo jornalismo ainda adolescente, na Rádio Clube da Covilhã. Licenciou-se em Comunicação Social, na Universidade da Beira Interior, e começou a carreira profissional na TSF. Em 2000, foi convidado para ser um dos jornalistas fundadores da SIC Notícias. Atualmente, continua na SIC, como jornalista coordenador, e é responsável desde 2011 pela rubrica "Contas-Poupança", dedicada às finanças pessoais. Tenta levar a realidade do dia a dia para as reportagens que realiza.
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