Crescemos a ouvir expressões como “tempo é dinheiro” e “mais vale um euro hoje do que amanhã”.
Ainda que tenham interpretações distintas, ambos explicam conceitos económicos fundamentais. A primeira refere-se ao facto de que o tempo é um recurso como qualquer outro, é escasso e deve ser potenciado e rentabilizado como qualquer matéria-prima. O segundo, um pouco mais complexo, refere-se ao valor temporal do dinheiro. É sobre este que nos vamos concentrar.
O valor temporal do dinheiro é um conceito fundamental em finanças, que gira em torno do princípio de que o valor do dinheiro muda ao longo do tempo.
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Este conceito baseia-se no princípio de que uma determinada quantia de dinheiro tem valores diferentes em diferentes alturas do tempo. O raciocínio central subjacente é o reconhecimento de que receber uma quantia de dinheiro hoje tem maior utilidade e oportunidade do que receber a mesma quantia no futuro.
Uma das principais razões para este princípio reside no potencial para investir dinheiro e gerar rendimentos. Quando se tem dinheiro em mãos tem-se a opção de o investir, seja em ações, obrigações, imóveis ou outros ativos. Esta capacidade de investir cria a possibilidade de o dinheiro crescer ao longo do tempo, aumentando o seu valor global.
Em contrapartida, o dinheiro recebido no futuro não tem este potencial de ganho imediato, o que o torna menos valioso em termos atuais.
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Quanto valem 1.000 euros daqui a dois anos?
Para ilustrar este conceito do valor temporal do dinheiro, vamos considerar um exemplo simples: Imagine que pode escolher entre receber 1.000 euros hoje ou 1.000 euros daqui a um ano.
O Valor Temporal do Dinheiro sugere que receber os 1.000 euros hoje é a escolha mais sensata. Se receber o dinheiro hoje, pode investi-lo e, potencialmente, obter rendimentos do seu investimento.
Ao contrário, se optar por receber os 1.000 euros daqui a um ano, perde a oportunidade de investir durante esse período, perdendo potenciais ganhos.
A aplicação do Valor Temporal do Dinheiro estende-se para além deste exemplo básico, permeando vários cálculos financeiros e processos de tomada de decisão. Uma das principais ferramentas utilizadas nos cálculos é o conceito de desconto.
O desconto envolve o ajuste dos fluxos de caixa futuros ao seu valor atual, o que, na prática, significa que é reconhecida a diminuição do valor do dinheiro ao longo do tempo. Ou seja, permite calcular, por exemplo, qual será o valor hoje de um montante recebido daqui a um ano.
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A título ilustrativo, partilho a fórmula de cálculo do valor atual, que é a seguinte:
Valor Atual = Valor Futuro / (1 + r) ^n |
Da mesma forma que: |
Valor Futuro = Valor atual * (1+r)^n |
Onde: |
Valor Atual é o valor atual Valor Futuro é o valor futuro r - Taxa de desconto (no cálculo do valor atual) ou retorno do investimento (no cálculo do valor futuro) n – número de períodos a considerar |
Mas vamos a um exemplo:
Imagine que vai receber um prémio de 1.000 euros daqui a dois anos. Vamos assumir que a taxa de desconto é de 5%. Assim, usando a fórmula, o Valor Atual é igual a 1.000 euros/(1+0,05)^2
Contas feitas, o Valor Atual é igual a 907,03 euros.
Isto significa que se contar receber 1.000 euros daqui a dois anos é o equivalente a receber apenas 907,03 euros hoje.
E se usarmos a lógica de cálculo do valor futuro, é indiferente receber 907,03 euros hoje ou 1.000 euros daqui a 2 anos, porque, se investir os 907,03 euros hoje, com o mesmo retorno (5%), terá 1. 000 euros daqui a 2 anos. Isto aplicando a fórmula identificada na tabela acima em que o Valor Futuro = 907,03 * (1 + 0,05)^2 = 1.000 euros
Compreender o valor temporal do dinheiro é essencial para tomar decisões financeiras informadas, tais como avaliar oportunidades de investimento, determinar condições de empréstimo ou avaliar a rentabilidade de projetos.
Ao reconhecer o impacto do tempo no valor do dinheiro, é possível navegar nos cenários financeiros de forma mais eficaz e estratégica.
A titulo de exemplo, no dia a dia, e de um ponto de vista financeiro, faz mais sentido receber os subsídios de férias e de Natal em duodécimos e investir esse valor mensalmente, do que receber uma vez por ano.
Um euro hoje vale mais do que amanhã…
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Sérgio Cardoso nasceu em Matosinhos, em 1979. Licenciado em Gestão pela Faculdade de Economia do Porto, frequentou The Lisbon MBA, que concluiu em UCLA. Fez grande parte da carreira profissional em media e entretenimento. Atualmente, é Chief Academic Officer no Doutor Finanças, sendo responsável pela Academia do especialista em finanças pessoais, dinamizando toda a área de formação. É ainda consultor, dedicando-se a ajudar empresas nas várias áreas da gestão, o que lhe permite acumular experiências que transmite aos alunos da licenciatura de Gestão, da UCP, onde é professor assistente.
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