Todos nós temos a nossa zona de conforto. Por zona de conforto entende-se uma série de ações, pensamentos e comportamentos que estamos acostumados a ter e que não nos causam nenhum tipo de medo, ansiedade ou risco. É uma região onde ninguém se sente ameaçado. Ao longo da vida desenvolvemos competências e vivências que nos permitem estar relativamente tranquilos face à maior parte dos desafios que temos no dia-a-dia. Ouvimos com frequência a expressão de que para crescermos, devemos sair da nossa zona de conforto, enfrentar os nossos receios e dar um passo em frente. O sucesso não está garantido, mas a experiência adquirida permitir-nos-á adquirir novas competências e tornarmo-nos cada vez mais capazes e completos.
Investimentos: Qual a nossa zona de conforto?
O povo português é, por norma, um povo conservador no que a investimentos diz respeito. A ausência de conhecimentos, experiências e a forma como sempre fomos educados fazem com que esta seja a nossa realidade. Apesar de a literacia financeira ser muito reduzida em Portugal, todos sabemos que o retorno está diretamente ligado ao risco. Quanto maior for o risco, maior pode ser a rentabilidade ou a perda.
Assim como na vida, nos investimentos nada pode ser encarado como garantido. Um investimento hoje pode correr bem e amanhã já não ter a mesma capacidade para gerar retorno. Esta é uma área onde a incerteza domina, sendo este um fator determinante para que a grande maioria dos portugueses opte por aplicar as suas poupanças em depósitos a prazo ou aplicações de capital garantido. Podemos avaliar esta tendência de duas formas distintas. Do ponto de vista psicológico, é confortável investir neste tipo de aplicações. Do ponto de vista financeiro, a probabilidade de potenciar as poupanças e de gerar uma mais-valia no futuro fica muito limitada.
Leia ainda: Literacia financeira: Luzes, câmara, ação
Aprender a lidar
Num mundo cada vez mais frenético, somos bombardeados com muita informação. Como em tudo, é fundamental sabermos interpretar o que nos “colocam à frente”. No caso de investimentos financeiros, parece-me que só existe um caminho a seguir, que passa por adquirir conhecimentos. Quanto mais capacidade de análise e competências tivermos, melhor. Esta será sempre a nossa melhor proteção. Quando alguém nos propuser uma solução de investimento com enorme potencial e nos referir que a pessoa A ou B também investiu (técnicas de venda) neste ou naquele ativo, se tivermos conhecimento e racionalidade, iremos tomar uma decisão influenciada pela nossa cabeça e pelo nosso contexto e não porque outra pessoa seguiu aquele caminho.
Adquirir competências não é um processo simples. É demorado, exige experiência e poderá passar por sucessos e insucessos. O objetivo de adquirir conhecimento não passa por nos tornarmos nuns experts nos investimentos financeiros. O que pretendemos é ter o poder de decisão, mais ou menos apurado. Adicionalmente, este caminho de conhecimento vai-nos permitir saber lidar com a incerteza que existe sempre nestas matérias. No limite, teremos sempre de ter um equilíbrio entre competências técnicas e individuais. As duas em conjunto serão determinantes para que possamos atingir os nossos objetivos, com determinação, noção e sem uma ansiedade exagerada.
Leia ainda: Equilíbrio entre o medo e a ambição
Não controlamos tudo
Se alguém nos perguntar se queremos maximizar as nossas poupanças, todos iremos responder que sim. A forma de alcançarmos esse objetivo é que difere. Numa primeira análise, devemos ter a consciência de que o investimento deve ter um horizonte temporal de médio/longo prazo. Este horizonte temporal é o necessário para que a consistência das nossas opções se efetive.
Ter conhecimento do que estamos a fazer e onde estamos a investir é fundamental para o nosso acompanhamento regular e para percebermos se, face às alterações do contexto em que vivemos, as nossas opções continuam a fazer sentido ou se será necessário efetuar realocações. Outro ponto fundamental é que por mais bem elaborado que seja um plano de investimento, este tem sempre subjacente uma percentagem de incerteza que não conseguimos controlar. Como tal, a nossa exposição deve ter em conta este facto e devemos sentir-nos confortáveis com isso.
É importante realçar que o facto de não controlarmos tudo não significa que não saibamos onde estamos a investir. A questão é que é difícil prever a evolução real das coisas. Devemos fazer projeções que nos ajudarão a tomar decisões mais conscientes. Se assim o fizermos, a probabilidade de sucesso será sem dúvida maior. Contudo, temos de saber viver com o facto de existirem acontecimentos que alteram a dinâmica do momento. No passado, tivemos alguns exemplos que comprovam isto mesmo. Por exemplo, a queda das torres gémeas foi um acontecimento que teve um enorme impacto na economia mundial e nos mercados financeiros. Este inesperado acontecimento acabou por afetar a dinâmica da economia mundial. Por certo, quem estava investido nesta altura, teve de analisar a sua exposição e repensá-la. Aqueles que forem mais racionais, definirem um plano de investimento devidamente fundamentado e tiverem capacidade de lidar com as incertezas e adversidades, serão os que, no longo prazo, irão recolher mais frutos dos seus investimentos.
Leia ainda: Saber interpretar a informação
Apaixonado pelo desporto e economia, foi jogador profissional de Futebol, tendo atuado em clubes como S.L. Benfica, Estoril, entre outros. Conciliou a carreira desportiva com a académica, terminando a licenciatura em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa (NOVA SBE). Continua ligado às suas duas paixões profissionais, desempenhando a função de Financial Advisor e colaborando como analista desportivo na CNN Portugal. Foi comentador residente no programa Jogo Económico do JE e Presidente do Conselho Fiscal da Federação Portuguesa de Footgolf. (FPFG). Participa com regularidade em eventos sobre Literacia Financeira.
A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
Deixe o seu comentário