Quando falamos da qualidade de vida de um país, falamos, essencialmente dos pilares Segurança, Educação e Saúde. Todos os pilares são importantes, mas o pilar da saúde assume, de facto, um papel básico na sociedade. Sem este pilar, não existe nada a que se possa chamar sociedade.
Para um país sequer almejar ter algum tipo de riqueza, tem de estar focado na qualidade e no acesso aos cuidados de saúde da sua população.
Quando estamos doentes, física ou psicologicamente, não conseguimos pensar em mais nada a não ser nas formas de acabar com a dor que sentimos. E apesar de vivermos mais anos, não significa propriamente viver melhor. Mas, seguramente, significa que vamos gastar mais em cuidados de saúde. A esperança de vida estendeu-se e, proporcionalmente, disparou a probabilidade de recorrermos mais vezes aos médicos.
As atuais fragilidades do Sistema Nacional de Saúde (SNS) fazem-nos temer o futuro. Se o SNS vier a enfrentar uma escassez crítica de médicos e outros profissionais de saúde, ao ponto de não conseguir responder às necessidades da população, podemos ter de lidar com as mais diversas consequências significativas, tanto para a saúde pública como para o sistema de saúde em si.
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Dependência de seguros de saúde e setor privado aumenta
A falta de recursos no SNS está na base do aumento da procura por seguros de saúde privados, sendo que as pessoas procuram, essencialmente, alternativas para garantir acesso a cuidados de saúde. Mas, isso tem um preço. E será que estas pessoas têm mesmo capacidade para pagar um seguro de saúde? As famílias, a braços com o aumento do custo de vida e uma carga pesada de impostos, ainda assim, somam mais esta despesa com o seguro de saúde.
Diante deste cenário, é fundamental refletir sobre o que vai acontecer aos preços dos seguros de saúde. Em Portugal, este seguro surge como uma complementaridade ao SNS. Com o recurso generalizado aos seguros de saúde, o que impede os privados de aumentar os preços dos serviços prestados? Tem sido este SNS sem recursos que tem aumentado a procura nos serviços privados, e se esta for muito superior à oferta, o próximo passo é aumentar preços. Com os cidadãos a terem de suportar um custo maior com a saúde.
E eis que, sem que todos tenhamos dado por isso, temos um problema, enquanto sociedade. E se não conseguirmos voltar atrás? Se continuarmos a ter um SNS sem capacidade de resposta porque não tem os recursos humanos necessários, os grupos de saúde privados, a curto e médio prazo, não terão capacidade de resposta a tamanho volume de procura e, naturalmente, os preços dos atos médicos praticados vão aumentar. Mas, mais do que este aumento dos preços, vai assistir-se a uma procura maior pela saúde. E também não é expectável que comecem a abrir hospitais por todo o lado, tal qual cogumelos.
Não podemos deixar com que o acesso aos cuidados de saúde seja determinado pela capacidade financeira dos indivíduos, pois cria desigualdades significativas no acesso a tratamentos e na qualidade dos cuidados recebidos.
Ainda que o nosso SNS tenha falhas grave, proponho o seguinte exercício: como seria se este fosse um sistema "à americana"? Ou seja, se simplesmente não existisse o SNS já que, por terras do Tio Sam, ou temos capacidade financeira para pagar um seguro de saúde que pode chegar a milhares de euros por ano, ou não temos acesso à saúde.
Para muitos, é chocante saber desta realidade num país como os EUA. Afinal, falamos da maior economia do mundo, mas, por aqui, ainda existem muitas pessoas com capacidade financeira para tratar da sua saúde. Contudo, imaginar este modelo numa economia como a portuguesa é projetar-nos para um nível de desigualdade, insegurança e incerteza que, confesso, até me custa imaginar.
Atenção, esta não é uma questão política de direita ou de esquerda. É uma questão de sobrevivência nacional. Viver mais anos, requer mais despesa com a saúde. Requer aumentar o investimento em prevenção e os seguros de saúde, para este fim, são uma ótima resposta. Mas, não são a melhor resposta se tivermos de tratar um cancro ou ser operados de urgência. As coberturas "normais" de hospitalização e ambulatório são muito baixas e, se não tivermos cuidado ao escolher um seguro, podemos perceber que, afinal, não temos um seguro, mas sim acesso a melhores preços para consultas médicas e pouco mais.
Assim, só nos resta investir. O país tem de investir no SNS, caso contrário podemos estar a caminhar para um beco sem saída. A nós, cabe-nos investir num bom seguro de saúde como meio de prevenção e nunca para substituir o papel do SNS.
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Co-fundador do Doutor Finanças e administrador de Seguros, Rui Costa é formado em Economia, com especialização em liderança, gestão operacional e Customer Experience. Nasceu em 1988, começou a trabalhar na área de intermediação de crédito aos 23 anos. Natural de Fafe, adora ler e aprender coisas novas. Procura desafiar-se constantemente e de sair da sua zona de conforto. Adora liderar pessoas, dar-lhes as ferramentas certas para as ajudar a crescer do ponto de vista profissional, mas também pessoal, porque as pessoas não são só trabalho, são muito mais.
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