Quando dispersou as suas ações na bolsa de Nova Iorque, em 22 de janeiro de 1999, a Nvidia era uma empresa praticamente desconhecida em Wall Street. 25 anos depois, o nome desta empresa ainda passa despercebido à generalidade das pessoas, mas é já incontornável entre os investidores, sendo mesmo o principal destaque e a grande estrela das bolsas globais nos últimos meses.
Apesar de ainda afastada do topo das marcas globais mais conhecidas a nível global, a Nvidia já chegou ao topo das companhias mais valiosas do mundo. O feito foi atingido a 18 de junho, quando esta empresa atingiu uma capitalização bolsista de 3,34 biliões de dólares, superando o valor de mercado da Microsoft e da Apple. Para se ter uma ideia deste montante, supera largamente o valor de mercado conjunto das 12 maiores companhias europeias (as GRANOLAS valem menos de 3 biliões de dólares).
Tendo em conta o desempenho recente das ações, sabia-se no mercado que era uma questão de tempo até a Nvidia chegar ao topo. A escalada dos títulos tem sido impressionante, sobretudo nos tempos mais recentes. Após uma valorização de 238% em 2023, as ações já ganham 156% este ano. Alargando o espaço temporal, o desempenho é ainda mais notável: as ações disparam cerca de 1.000% desde o mínimo que atingiram em outubro de 2022 e perto de 3.000% nos últimos cinco anos.
Fazendo as contas ao retorno das ações desde a estreia em bolsa no final do século passado, os números são mesmo incríveis. De acordo com os cálculos efetuados pela Bloomberg, as ações da Nvidia valorizaram 591.078% desde o IPO em 1999 (incluindo reinvestimento de dividendos), levando a agência de informação financeira a atribuir à empresa o estatuto de melhor ação do mundo nos últimos 25 anos.
Apesar deste sucesso, a história da Nvidia em Bolsa também tem momentos negativos. Foram três os períodos em que as ações da companhia sofreram desvalorizações superiores a 50%, pelo que foram necessários “nervos de aço” para os investidores que se mantiveram fiéis à companhia. Após a bolha das tecnológicas rebentar no início do século, as ações afundaram mais de 80% em 2002; a crise financeira global de 2008 levou os títulos a descer mais de 70%; em 2022 a Nvidia não escapou à forte queda das tecnológicas, acumulando uma queda acima de 50%.
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O “boom” da Inteligência Artificial
Descrito o impressionante percurso da Nvidia em Bolsa, falta responder à questão de como é que uma empresa fundada em 1993 - e que quando substitui a falida Enron no índice S&P500 em novembro de 2001 tinha um valor de mercado de apenas 8 mil milhões de dólares - chegou este ano a uma capitalização bolsista de 13 dígitos, que equivale a cerca de 13% do PIB da maior economia do mundo?
O segredo esteve na aposta no desenvolvimento de chips de elevada capacidade e potência. Nos primeiros anos de vida, a Nvidia destacou-se na indústria dos jogos, pois os seus processadores eram os favoritos para equipar as consolas de jogos e os computadores utilizados para o “gaming”. A mineração de criptomoedas deu um novo impulso à Nvidia, que prosseguiu desde 2015 com o surgimento de novas tecnologias com necessidade de chips cada vez mais potentes.
As empresas de centros de dados passaram a ser os principais clientes da Nvidia, devido à explosão do número de servidores cada vez mais potentes para suportar a construção de redes de apoio às mais variadas tecnologias, desde veículos autónomos a interfaces gráficos avançados. Entre 2017 e 2021, as receitas da Nvidia com o fabrico de chips para “data centers” cresceram oito vezes. A forte procura de computadores durante a pandemia também aqueceu a procura dos seus produtos.
Mas o verdadeiro fenómeno que colocou a Nvidia na ribalta surgiu no final de 2022, quando o lançamento do ChatGPT mostrou ao mundo o enorme potencial da Inteligência Artificial. Os centros de processamento de dados ganham uma importância fundamental nesta tecnologia e a Nvidia surgiu na linha da frente para beneficiar com o “boom” deste desenvolvimento que tem potencial revolucionário numa série de atividades.
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Resultados enfraquecem receio de bolha
O temor de que esteja a ser formada uma bolha nas tecnológicas à boleia da Inteligência Artificial tem sido destacado por muitos analistas, que colocam a Nvidia no centro deste alerta devido à subida muito rápida e acentuada das ações da companhia nos últimos tempos. Basta ver que, depois de a companhia ter mais do que triplicado de valor em 2023, a capitalização bolsista subiu mais de 2 biliões de dólares este ano. Uma criação de valor sem precedentes para uma empresa cotada num espaço de tempo tão curto.
Contudo, a Nvidia tem resultados para mostrar e a evolução das contas da companhia também é impressionante. No ano fiscal que terminou em janeiro deste ano a empresa consolidou receitas acima de 60 mil milhões de dólares (+126%), com um EBITDA de 35,1 mil milhões de dólares (+346%) e lucros de quase 30 mil milhões de dólares (+581%). Além do crescimento de três dígitos em todas as rubricas, estes números mostram a elevada margem da empresa, que consegue transformar em lucro metade das receitas.
Para o atual ano fiscal, que termina em janeiro de 2025, a Nvidia deverá repetir taxas de crescimento de três dígitos, alcançando no ano seguinte receitas acima de 160 mil milhões de dólares e lucros superiores a 90 mil milhões de dólares. Tendo em conta que nos últimos trimestres os analistas têm ficado muito distantes dos números reportados pela Nvidia, estas estimativas também podem pecar por escassas, o que vinca ainda mais o potencial de crescimento da empresa.
Será praticamente impossível a Nvidia conseguir repetir estas taxas de crescimento dos resultados nos anos seguintes. Variações de três dígitos todos os anos parece inverosímil, mas será arriscado garantir que as ações já esgotaram o potencial de valorização.
Analisar os múltiplos de mercado ajuda a validar esta constatação. Apesar da escalada das ações nos últimos meses, a Nvidia está atualmente a transacionar em bolsa a 52 vezes os lucros estimados para o atual ano fiscal e 37 vezes os lucros previstos para o ano fiscal que termina em janeiro de 2026. Quando ainda tinha um valor de mercado abaixo de 1 bilião de dólares, a Nvidia apresentava um múltiplo bem superior.
Desde que atingiram o máximo histórico a 18 de junho, as ações da Nvidia já desvalorizaram mais de 10%, pelo que a companhia regressou ao terceiro lugar das cotadas mais valiosas do mundo (atrás da Microsoft e Apple). Um movimento natural e que não ameaça a tendência ascendente dos títulos, caso a companhia continue a superar as expectativas do mercado. Cumprir já não deverá ser suficiente.
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Nasceu em 1977, sendo jornalista desde 1999. Iniciou a carreira no Jornal de Negócios, onde esteve mais de 20 anos, ocupando várias funções, sempre com foco no online. Atualmente é jornalista independente, assina a newsletter diária de mercados Morning Call e colabora de forma regular com o ECO. Formado em Gestão no ISEG, tem especial interesse por tudo o que está relacionado com os mercados financeiros.
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