Investimentos

Dicas para enfrentar a turbulência nos mercados

Vender as ações em pânico, nos momentos de quedas forte das bolsas, é um dos erros mais comuns dos investidores.

Os preços dos ativos cotados nos mercados financeiros mexem todos os dias, sendo que as variações podem ser mais ou menos pronunciadas. Na maior parte dos dias, as alterações são pouco significativas, mas é recorrente surgirem sessões de variações muito bruscas, para cima ou para baixo. Dito de outra forma, a volatilidade é habitualmente baixa, mas existem períodos em que dispara, o que pode condicionar de forma acentuada a rendibilidade dos investimentos.

Foi o que aconteceu na sessão de 5 de agosto deste ano nas bolsas globais. Os receios mais intensos de recessão na economia dos Estados Unidos, aliados a uma previsão de subidas mais rápidas nos juros do Japão, bem como a resultados pouco entusiasmantes de grandes empresas tecnológicas, motivou uma onda desenfreada de vendas de ações (sell off) que atirou os índices europeus e norte-americanos para a pior sessão em dois anos. A Bolsa de Tóquio sofreu a maior queda diária desde 1987.

Sendo habituais estes movimentos mais bruscos, é essencial que os investidores se preparem para os enfrentar. O principal deve ser feito de forma prévia, mas também é importante ter “nervos de aço” para agir (ou não) durante os períodos em que a turbulência atinge níveis mais extremos.

MEDIDAS PRÉVIAS

Investir no longo prazo baixa o risco

Uma das grandes vantagens de adotar uma estratégia de investimento de longo prazo passa por ficar praticamente imune a estes períodos de volatilidade. Se tem uma carteira de investimentos desenhada para um horizonte temporal de cinco, dez ou mais anos, não será uma sessão de quedas acentuadas que fará mossa significativa na rendibilidade de uma aplicação de longo prazo.

Nos dois últimos anos, o índice de ações norte-americano S&P500 registou dez sessões em que desvalorizou mais de 2%. Foram dias de nervosismo para muitos investidores, mas quem investe no longo prazo olha para outros indicadores. Neste período de dois anos, o S&P500 valorizou 17%, pelo que o investidor passou incólume por estes dias de stress.

Apesar desta constatação, mesmo os investidores de longo prazo devem estar atentos à evolução de curto prazo dos mercados. No dia 2 de agosto o índice norte-americano afundou 2,9% e na sessão seguinte (5 de agosto) recuou mais de 3,3%. É importante avaliar os fundamentais e atuar em conformidade. Se concluir que existem motivos para que a tendência negativa se acentue, pode ser altura para reduzir o risco da sua carteira e adotar uma estratégia mais conservadora.

Sendo impossível prever a direção dos mercados, a maioria dos analistas considera que atualmente não existem motivos para alarme, pois a economia global permanece resiliente apesar do crescimento mais brando; os bancos centrais estão a começar a reduzir a política monetária através do corte de juros; os resultados das empresas estão a evoluir de forma positiva e não existem sinais de uma crise financeira no horizonte.

Leia ainda: Investir em ações no longo prazo compensa

Diversificar é fundamental

Construir uma carteira de investimentos diversificada é outras das estratégias que os investidores devem seguir para reduzir o risco e, assim, enfrentar os momentos de volatilidade extrema com maior tranquilidade. Habitualmente, os sell off atingem a generalidade dos ativos e setores de atividade, mas com amplitudes diferentes.

Se o investidor tiver uma parte da sua carteira alocada a ativos de refúgio e ações de empresas mais defensivas, esta vai resistir de forma mais resiliente aos movimentos negativos nos mercados financeiros. É por isso que os analistas recomendam que o ouro faça parte da carteira de investimentos, pois habitualmente o metal precioso negoceia com tendência inversa a outros ativos e em alta nos momentos de turbulência.

A diversificação geográfica é outra das estratégias essenciais para limitar os danos de períodos negativos nas bolsas. A bolsa do Japão afundou 20% no espaço de três sessões, pelo que uma carteira com elevada exposição a ações japonesas sofreu perdas bem mais acentuadas do que uma carteira diversificada com títulos de empresas europeias, norte-americanas e asiáticas.   

Seguir o plano à risca

Antes de implementar qualquer estratégia de investimento, deve ser definido um plano que se adeque ao perfil do investidor, com objetivos bem determinados. Se for bem delineado, não deverá ser alterado em função das movimentações bruscas dos ativos que forem escolhidos para integrar a carteira, mas antes em reação a alterações de pressupostos que estiveram na base da estratégia.

Um investidor com perfil agressivo sabe que, no percurso, existirão dias/períodos conturbados, pelo que não fará sentido revolucionar a carteira e ficar em pânico nas sessões em que as ações marcam desvalorizações fortes. Um investidor conservador não vai sofrer com a turbulência nos mercados pois a sua carteira, se construída em conformidade, ficará praticamente imune aos sell offs nas bolsas.

Um investidor de longo prazo não deverá prestar demasiada atenção ao desempenho diário e mensal da sua carteira, pelo que após uma queda abrupta diária das bolsas, ou mesmo semanas de descidas consideráveis, bastará ficar atento. O gráfico em cima ilustra da melhor forma como os movimentos durante período reduzidos podem ser ignorados. Quem define uma estratégia de curto prazo sabe, à partida, que está mais vulnerável a oscilações acentuadas das bolsas, pelo que o seu plano deverá contemplar a estratégia a seguir nestes momentos.         

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ERROS A EVITAR NA TURBULÊNCIA

Não vender em pânico

Diz o ditado que “depois da tempestade vem a bonança” e nos mercados esta premissa acontece muitas vezes. Uma semana depois do sell off de 5 de agosto, os índices acionistas na Europa, Estados Unidos e até no Japão já tinham recuperado. A análise aos dados históricos mostra que as sessões com valorizações mais expressivas surgem precisamente pouco depois dos dias com quedas mais intensas.

Na manhã de 5 de agosto, os índices das bolsas europeias marcavam perdas em redor de 3%, os futuros do índice tecnológico Nasdaq apontavam para uma queda de 6% e a Bolsa de Tóquio já tinha fechado a desvalorizar mais de 10%. Nestes momentos de pânico, os investidores são impelidos a vender primeiro e perguntar depois, mas este pode ser um erro crasso. O investidor está a cristalizar as perdas e perde a oportunidade de beneficiar com uma potencial recuperação.

Uma análise bastante conhecida do JPMorgan mostra a importância de estar investido no mercado, mesmo nos períodos mais conturbados. Sete das dez melhores sessões da bolsa norte-americana entre 1 de janeiro de 2002 e 31 de dezembro de 2021 aconteceram próximas dos dez piores dias. Nestes 20 anos, o índice S&P500 gerou um retorno médio anual de 9,5%, mas numa carteira em que o investidor estava fora do mercado nas dez melhores sessões, a rendibilidade baixa para quase metade (5,33%).

Ficar em liquidez muito tempo

O exemplo descrito em cima também ilustra da melhor forma o erro de ficar demasiado tempo fora do mercado após vendas em momentos negativos. Os investidores que demoram muito tempo a regressar às ações obtêm retornos muito mais pobres e perdem a oportunidade de “apanhar o comboio” dos ciclos favoráveis.

Os momentos de elevada incerteza e quedas fortes nos mercados são propícios a que os investidores optem por vender a carteira de ações. Foi o que muitos fizeram no início da pandemia, demorando demasiado tempo a regressar ao mercado. O S&P500 afundou mais de 30% no espaço de um mês (entre meados de fevereiro e março de 2020), mas encetou depois uma fabulosa recuperação que levou o índice norte-americano a duplicar de valor até ao final de 2021.

Para os investidores menos temerários, a estratégia dollar-cost averaging pode ser mais acertada. O investidor reentra no mercado de forma cautelosa, aplicando de forma regular e pouco expressiva (pequenas quantias todos os meses, por exemplo), independentemente do preço dos ativos. A estratégia de esperar pelo preço certo ou timing perfeito para investir pode deixar o investidor “agarrado” à liquidez por demasiado tempo.      

Excesso de confiança e repetir erros

Se vender em momentos de pânico pode não ser recomendável, a estratégia de aprofundar uma estratégia que está a dar maus resultados é ainda mais arriscada. “Apanhar facas a cair” e “cavar um buraco mais fundo” são expressões bastante conhecidas nos mercados e refletem o excesso de confiança de muito investidores, um dos comportamentos que representa uma ameaça séria a um desempenho positivo da carteira.

Combater a tendência do mercado é uma estratégia arriscada, pelo que não é recomendável aumentar a exposição a um ativo com mau desempenho. No seu plano financeiro, é desejável que o investidor defina à partida o limite máximo de perdas que está disposto a assumir. Se este for atingido, é recomendável que o venda.

Se um ativo em carteira regista um desempenho negativo, pode ser tentador comprar mais para baixar o preço médio de aquisição e potenciar os ganhos no futuro. A estratégia até pode fazer sentido, mas só depois de uma reanálise à atratividade do ativo e com base em fatores fundamentais. Uma “maçã podre” pode ameaçar toda a cesta de fruta e um investidor com excesso de confiança pode não ter o discernimento para a distinguir ao insistir nos erros cometidos o passado.  

De uma forma sucinta, se investir no longo prazo e tiver um plano financeiro bem desenhado e uma carteira de ativos equilibrada, está bem preparado para enfrentar os períodos de turbulência nas bolsas com maior tranquilidade e margem para que a emoções não afetem as melhores decisões.

Leia ainda: As estatísticas que deve conhecer para investir em ações

Nasceu em 1977, sendo jornalista desde 1999. Iniciou a carreira no Jornal de Negócios, onde esteve mais de 20 anos, ocupando várias funções, sempre com foco no online. Atualmente é jornalista independente, assina a newsletter diária de mercados Morning Call e colabora de forma regular com o ECO. Formado em Gestão no ISEG, tem especial interesse por tudo o que está relacionado com os mercados financeiros.

A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.

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