Todos os meses do ano são especiais, cada um à sua maneira. O mês de agosto, para muitos, é um mês diferente, porque se trata da fase do ano em que fazem a merecida pausa profissional. Em qualquer função é fundamental saber e conseguir desligar da rotina do dia a dia. Ter tempo para nos dedicarmos aos que nos estão mais próximos ou a atividades que, em função da azáfama profissional, não conseguimos fazer com regularidade, é fundamental para o nosso bem-estar e para podermos estar equilibrados.
Setor financeiro em agosto
Existem vários setores de atividade com muita relevância para as diferentes economias mundiais. Todos percebemos que, por exemplo, o setor do turismo tem um dos seus picos no verão. Como tal, durante este período as pessoas que trabalham nesta área terão maior atividade.
No caso do setor financeiro, o contexto é diferente. Por norma, em agosto costuma haver menor liquidez nos mercados financeiros. Vários fatores justificam este facto. Por ser um mês tipicamente associado a férias, o menor número de transações justifica-se pela redução de investidores ativos. Contudo, é importante percebermos que o mundo não para. Assim, mesmo percebendo que a liquidez é mais reduzida, os mercados continuam a transacionar e a reagir a acontecimentos que vão marcando o dia-a-dia e que podem ter influência no curto, médio e longo prazo. A grande diferença é que, em função de uma menor quantidade de compras/vendas, quando existem acontecimentos inesperados, a volatilidade pode ser maior.
Desta forma, é importante termos conhecimento do funcionamento dos mercados e da sua dinâmica em cada momento do ano. Para aqueles que investem e estão expostos aos mercados financeiros, é também fundamental perceber que, apesar de ser importante tirar alguns dias de férias, descansar e desligar da intensidade do dia-a-dia, devem manter-se minimamente atualizados sobre o que se passa na economia mundial, de forma a não serem apanhados de surpresa no final do período de férias. Acompanhar a carteira, a evolução dos mercados financeiros e estarmos atentos a situações disruptivas é fundamental para termos um maior controlo sobre os nossos investimentos.
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Jackson Hole: Pontapé de saída
Jackson Hole é um evento que reúne um enorme conjunto de personalidades ligadas ao setor financeiro, desde banqueiros a presidentes de bancos centrais. Este fórum acaba por ser o “tiro de partida” após as férias. Os investidores estão sempre muito atentos ao que se passa neste evento, sobretudo aos discursos dos presidentes dos bancos centrais, com relevância para o presidente da Fed (Reserva Federal Americana).
Numa altura em que a taxa de juro nos EUA se mantém em máximos dos últimos 20 anos, e depois de vários bancos centrais terem dado o primeiro passo na normalização da política monetária, a questão que muitos colocam é: quando é que os EUA o irão começar a fazer? Esta decisão tem uma enorme relevância em vários campos. Uma das consequências da redução das taxas de juro é o facto de os custos de financiamento ficarem mais reduzidos, o que permite um alívio no custo de alavancagem dos agentes económicos. No que concerne aos investidores, uma descida da taxa de juro é sempre uma notícia muito relevante, porque à medida que os bancos centrais vão reduzindo as taxas de referência, a mensagem que passam para a economia é de consumo e não de poupança, fazendo com que exista maior liquidez disponível. Essa liquidez é canalizada para diversas áreas, entre elas os mercados financeiros.
Adicionalmente, maior consumo ou liquidez permite um maior dinamismo da economia real, fazendo com que as empresas cresçam, criando mais emprego, melhorando salários e aumentando a capacidade de consumo da população.
Assim sendo, o mês que se inicia poderá ficar marcado pelo início da normalização da política monetária americana. A justificação para este passo está na redução/controlo da inflação e no menor dinamismo verificado nos diferentes indicadores económicos que vão sendo divulgados. Depois de um período caracterizado por uma subida de taxas com o objetivo de controlar a subida generalizada do preço dos bens e serviços, poderemos regressar a uma fase de descidas, devidamente controladas e justificadas, que poderão dinamizar a economia real e os mercados financeiros.
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Apaixonado pelo desporto e economia, foi jogador profissional de Futebol, tendo atuado em clubes como S.L. Benfica, Estoril, entre outros. Conciliou a carreira desportiva com a académica, terminando a licenciatura em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa (NOVA SBE). Continua ligado às suas duas paixões profissionais, desempenhando a função de Financial Advisor e colaborando como analista desportivo na CNN Portugal. Foi comentador residente no programa Jogo Económico do JE e Presidente do Conselho Fiscal da Federação Portuguesa de Footgolf. (FPFG). Participa com regularidade em eventos sobre Literacia Financeira.
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