Investimentos

O paradoxo da passividade

Evitar decisões impulsivas, focar no longo prazo e manter uma diversificação adequada são pontos-chave para o sucesso dos investimentos.

"No longo prazo, estamos todos mortos." Será mesmo? Provavelmente já se deparou com esta famosa frase de John Maynard Keynes, o renomado economista britânico do século XX, considerado o pai da macroeconomia. A frase de Keynes é frequentemente utilizada para sublinhar a importância de considerar os efeitos imediatos das políticas económicas, em vez de se concentrar apenas nos benefícios a longo prazo. No entanto, quando se trata de investimentos, esta máxima pode não ser tão literal quanto parece.

A Fidelity, uma das maiores e mais reconhecidas gestoras de ativos do mundo, alegadamente conduziu um estudo intrigante sobre as contas de corretagem dos seus clientes nos EUA, analisando o desempenho ao longo de uma década (2003-2013). É importante notar que este estudo nunca foi oficialmente confirmado pela Fidelity, mas continua a ser amplamente discutido na comunidade financeira.

Surpreendentemente (ou talvez nem tanto), as maiores rendibilidades foram observadas em contas cujos titulares já tinham falecido. Logo a seguir, em termos de desempenho, estão as contas cujos titulares se esqueceram que possuíam investimentos. Naturalmente, não estou a sugerir que morrer ou perder os códigos de acesso a contas de investimento seja um bom modus operandi.

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Por que razão isto acontece?

Estatisticamente, o mercado acionista tende a recompensar os investidores que constroem as suas carteiras e mantêm uma visão de longo prazo, beneficiando do poder do juro composto (capitalização dos rendimentos). Embora esta abordagem possa parecer demasiado ingénua e até simplista, é, na verdade, bastante desafiante. Investir de forma perpétua (comprar e manter) pode ser aborrecido e até contraintuitivo. Resistir à tentação de tentar ser proativo, acompanhar as notícias financeiras, ou ajustar constantemente as carteiras em busca de maximizar as rendibilidades pode ser difícil. Contudo, o mercado premeia a paciência e penaliza aqueles que agem por emoção e impulso.

Uma característica comum a este tipo de investidores (falecidos e os que desconhecem que possuem contas) é a ausência de exposição constante a notícias, redes sociais, ou influenciadores (supostamente) especializados em finanças que proliferam atualmente no YouTube, Instagram e até no TikTok. Estes canais, muitas vezes, incentivam uma abordagem ativa e reativa ao investimento, promovendo estratégias que visam aproveitar as flutuações de curto prazo no mercado. Contudo, ao tentar “cronometrar” o mercado, os investidores acabam por correr o risco de tomar decisões baseadas em emoções, como medo ou ganância, o que pode resultar em perdas significativas ou em ganhos muito abaixo do potencial.

Naturalmente, estes "investidores perpétuos" não tomam decisões precipitadas, como vender em pânico quando os mercados caem ou comprar de forma frenética durante as subidas que aparentam ser lineares. Esta inatividade involuntária, paradoxalmente, protege-os das armadilhas mais comuns do comportamento humano no investimento, como o excesso de confiança e o pânico.

Além disso, a compra e venda frequente acarreta custos de transação e obrigações fiscais sobre as mais-valias, o que pode corroer os ganhos acumulados ao longo do tempo. Estes custos, muitas vezes ignorados por investidores mais ativos, podem representar uma parte significativa dos rendimentos potenciais que poderiam ser acumulados através de uma estratégia mais passiva e a longo prazo.

Outro aspeto importante a considerar é o impacto do tempo no processo de investimento. A paciência é, sem dúvida, uma virtude subestimada neste campo. O tempo permite que os investimentos amadureçam, que as crises de mercado sejam superadas, e que as rendibilidades se consolidem. Quando os investidores evitam mexer constantemente nas suas carteiras, permitem que os ativos se valorizem e que o efeito do juro composto trabalhe a seu favor.

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Conclusão

Os exemplos apresentados sublinham a importância de uma abordagem emocionalmente disciplinada no investimento. Evitar decisões impulsivas, focar no longo prazo e manter uma diversificação adequada são alicerces que podem melhorar significativamente os resultados dos investimentos. A lição aqui não é ignorar completamente o mercado ou deixar de monitorizar os seus investimentos, mas sim resistir à tentação de reagir a cada pequena oscilação ou a cada nova previsão de catástrofe ou de boom económico. No mundo dos investimentos, a paciência não é apenas uma virtude; é uma estratégia comprovada para alcançar o sucesso financeiro a longo prazo.

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Carim Habib, é um profissional com mais de 25 anos de experiência em Banca e Serviços Financeiros, construiu a sua trajetória profissional em instituições financeiras internacionais, como o Deutsche Bank e o ING Bank, concentrando-se em banca de investimentos e gestão de ativos. É o fundador e atual CEO da Dolat Capital, Empresa de Investimento, SA, sociedade regulada pela CMVM e especializada em consultoria para investimentos e análise financeira. Carim é licenciado em Matemática Aplicada, possuindo diversas pós-graduações em Finanças e é certificado CAIA (Chartered Alternative Investment Analyst).

A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.

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