Parentalidade

Regresso às aulas: Desafios e estratégias

Neste início de ano letivo, colocaram o descanso no horário? Que desafios se antecipam e de que forma podem ultrapassá-los em família?

Neste início de ano letivo, colocaram o descanso no horário? Que desafios se antecipam e de que forma podem ultrapassá-los em família?

Se tem crianças ou adolescentes em casa, é provável que esteja em fase de montar um grande puzzle: o regresso às aulas. Conjugar o horário das aulas com o do piano, da natação e das terapias é, por si só, um grande desafio.

Quem é que vai buscar os miúdos? Que item é este na lista de material que eu nem sabia que existia? Fica no ATL ou peço aos avós para ir buscar?

É importante relembrar que, depois da tempestade (com sorte e organização), vem a bonança. Não é esperado que setembro seja um mês organizado e sem emoções difíceis à mistura. Aceitar este facto pode ser um primeiro passo para a família lidar com esta transição o mais tranquilamente possível.

É setembro, já?! A transição do verão para o período de aulas

No verão estamos tendencialmente mais tranquilos. Mesmo que os adultos continuem a trabalhar, é típico que seja uma época com menos carga laboral. Já tentou tratar de burocracias em agosto? Sem escola, os miúdos podem ir para campos de férias, passar tempo com os avós ou estar com amigos… Já as férias em família, embora muitas vezes tão desejadas, podem ser bastante cansativas e, para muitos pais, nem sempre é possível um período de férias a sós.

De qualquer forma, esta época altera rotinas, humores e vontades. Miúdos bem dispostos, pais mais tranquilos. Posto isto, encarar o furacão que é setembro, não é tarefa fácil. Antes de passarmos à organização de rotinas, lembremo-nos de que não é suposto ter tudo organizado mal a escola começa.

É normal que ainda estejamos com os horários trocados e o retorno à rotina familiar em tempo de aulas pode demorar algumas semanas. Experimentar passar uma semana em casa sem grandes atividades planeadas antes do trabalho/escola começar pode ser uma boa ajuda para avançar na organização e recuperar o corpo dos mergulhos.

Leia ainda: Regresso às aulas: Devo dar semanada ou mesada aos meus filhos?

Nas férias dormiam às 23h… e agora? Regresso às rotinas

Antes de a escola começar, é importante que nós, adultos (primeiramente!), nos sentemos a refletir e repensar as regras: qual o tempo máximo de ecrã durante a semana e ao fim-de-semana? A que horas têm de ir para a cama? Quem põe e quem levanta a mesa? Definir as regras da família pode ser um bom ponto de partida para os cuidadores estarem no mesmo comprimento de onda, o que facilitará a decisão da sua atitude em momentos de tensão (incluindo em pais separados).

Após termos definido as regras em conjunto, é hora de comunicá-las. É importante passarmos a segurança de que há regras que não serão possíveis alterar (ex. a hora de deitar durante a semana) e em que os cuidadores estão de acordo. No caso de separação dos pais, é essencial que tentem, ao máximo, estar de acordo em temas de grande importância.

No entanto, há algumas regras que podem ser diferentes nas duas casas. O mais importante é que estejam bem definidas em cada uma delas. Uma ideia que pode ser útil é a criação de um quadro de regras, que poderá ser decorado ao gosto de cada criança/adolescente e exposto num lugar de destaque na casa (ex. porta de casa; frigorífico). Neste quadro escreverão as regras e rotinas inalteráveis e outras que poderão ser discutidas em conjunto com os mais novos (ex. quem põe e quem levanta a mesa; quem se arranja primeiro na casa de banho de manhã).

Esta reflexão em conjunto pode dar origem a um momento divertido em família e passar uma ideia fulcral aos jovens: há decisões que têm de ser os crescidos a tomar, mas eles também têm voz.

Não tenhamos pressa para que as regras sejam cumpridas à risca e todas de uma vez nos primeiros dias. Após o período de adaptação, devem ser aplicadas de forma consistente.

Leia ainda: Calendário escolar 2024-2025: Conheça as datas deste ano letivo

Queres a mochila da Elsa ou do Rei Leão? O envolvimento na preparação dos materiais

Ir às compras para o início das aulas é, para muitos jovens, um momento de destaque do ano: canetas novinhas em folha, dossier cheio de autocolantes, a mochila que está trending no TikTok…

Para alguns pais e cuidadores, não será um momento com tanta graça assim. Para muitos, a compra de novos materiais é uma despesa difícil de encarar e os encontrões nos corredores do supermercado, com certeza não ajudam. Sentimo-nos muitas vezes divididos: aproveitamos o material do irmão mais velho ou sucumbimos ao cheirinho de um caderno acabado de comprar?

Não há respostas certas nem erradas: dependerá do orçamento de cada família e dos valores pelos quais se regem. Para algumas pessoas, o reaproveitamento é parte integral do quotidiano, para outras, a aquisição de materiais novos é como uma tradição de família. De qualquer forma, o mais importante será a comunicação e negociação, pois nem sempre será possível providenciar aos nossos filhos aquilo que desejam. Nem por isso devemos deixar de validar a vontade de comprar aqueles marcadores pastel, enfatizando que compreendemos que seria mesmo importante, mas que naquele momento não é possível.

Com materiais novos ou reutilizados, há uma premissa importante: envolver o jovem nas preparações. Desde limpar material já usado, plastificar os livros ou fazer um check na lista dos professores. Permitir que as crianças e adolescentes personalizem o material escolar ao seu gosto pode ser um bom primeiro passo para a motivação (mesmo que depois se esqueçam muitas vezes dele em casa!). Mas não é tudo: relembremos a importância de aprender; os momentos com os amigos; as atividades preferidas…

Leia ainda: 6 dicas para gerir os sonhos e desejos das crianças

O piano vai ajudar na motricidade fina… mas o futebol também é ótimo para fazer amigos!

Somos constantemente bombardeados com sugestões de atividades extracurriculares: na escola, em conversa com outros pais e até nas redes sociais. Podem efetivamente pensar em conjunto competências que consideram importantes que o vosso/a filho/a desenvolva… mas tão importante quanto isso é conversar sobre o que gostaria de fazer.

No entanto, não é pouco comum que as crianças e adolescentes tenham vontade de desistir pouco tempo depois de começar determinada atividade. A exploração de diferentes hobbies é normativa e recomenda-se (ainda mais na adolescência). Nem por isso deixa de ser importante compreender o que está por trás do desinvestimento: a atividade é realmente aborrecida para a criança? Não está a conseguir fazer amigos? Tem medo que gozem consigo? De falhar? Nesse horário já está muito cansada? Este olhar interessado, curioso e empático dar-nos-á pistas sobre como agir a seguir.

Em algumas situações pode ser importante encorajar o jovem a continuar na atividade (ex. em situações de ansiedade; ou se diz não gostar passado muito pouco tempo); noutras poderá ser mais benéfico a retirada ou troca de atividade (ex. horário tardio; desinteresse passado muito tempo de experimentação). Note-se que atrás utilizei a palavra encorajar, não insistir e obrigar.

Em casos em que é benéfico a longo prazo que a criança vá à atividade, mas a mesma causa sofrimento (ex. ansiedade com movimentos de evitamento), esta poderá precisar de uma ajuda extra dos pais, ou se não for suficiente, de um profissional de saúde qualificado para trabalhar a temática em causa.

Por fim, não posso deixar de apelar a que permitamos o descanso dos nossos jovens. Tempo para não fazer nada e para fazer tudo. Para descansar o corpo e estimular a mente (deixemos que se aborreçam)! Ao contrário do que o tempo apressado em que vivemos nos faz crer, ter tempo para parar não é um privilégio, é uma obrigação para connosco próprios.

No grupo os pais parecem tristes pelo regresso à escola… somos péssimos por desejarmos que comece?

Bem, a resposta é não. Provavelmente é só alguém que quer voltar a conseguir ir à casa de banho sozinho; comer uma torrada ao almoço sem estar preocupado em fazer dois pratos diferentes ou simplesmente desfrutar o silêncio.

Que atire a primeira pedra quem nunca desejou que alguém os viesse buscar, só um bocadinho! Ter filhos é muitas vezes viver uma vida de ambivalência… não são poucos os relatos de pais que estão entusiasmados pelo começo da escola para poderem respirar, mas que, quando cheguem ao carro, desatem a chorar.

É possível sentir emoções que são aparentemente contraditórias, e é importante ter em mente que isso é natural e expectável. Cuidar física e afetivamente de um filho ou filha é uma tarefa árdua, que exige muitos recursos físicos e mentais. É muitas vezes extenuante e pode fazer-nos ter pensamentos que não temos coragem de dizer em voz alta.

Para que descansemos: pensar em algo não quer dizer necessariamente que queremos que aconteça, ou que seja sequer verdade. Podemos apenas aceitar e compreender o que os pensamentos e emoções nos estão a tentar dizer. Está estudado que o cansaço tem um grande impacto na regulação emocional, fundamental para lidar com crianças.

Assim sendo, é comum existir o desejo de voltar à rotina, que embora cansativa, nos dá alguma paz de gritos, exigências e conflitos. Ao fim do dia, venha o abraço!

Nesta transição para o trabalho e escola, tentemos não colocar demasiada pressão em nós e na nossa família. Tiremos tempo para organizar logísticas e regras, e em breve, tudo voltará ao normal para cada família.

Durante a transição (e ao longo do ano letivo), estejamos atentos a alterações comportamentais e do humor, dos padrões de sono, de alimentação, assim como outras situações fora do esperado (nos jovens e adultos). Se estas estiverem a ter impacto significativo, pode ser altura de procurar ajuda profissional.

Bom regresso!

Psicóloga Clínica (C.P. 26342) de crianças e adolescentes no Instituto Belong. Experiência na dinamização de cursos de preparação para a natalidade e parentalidade. Membro fundador e dinamizador do Socializa.T, programa de promoção de competências sócio emocionais em crianças e adolescentes. A frequentar a Especialização Avançada em Psicoterapia no ISPA.

A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.

Partilhe este artigo
Tem dúvidas sobre o assunto deste artigo?

No Fórum Finanças Pessoais irá encontrar uma grande comunidade que discute temas ligados à Poupança e Investimentos.
Visite o fórum e coloque a sua questão. A sua pergunta pode ajudar outras pessoas.

Ir para o Fórum Finanças Pessoais
Deixe o seu comentário

Indique o seu nome

Insira um e-mail válido

Fique a par das novidades

Receba uma seleção de artigos que escolhemos para si.

Ative as notificações do browser para receber a seleção de artigos que escolhemos para si.

Ative as notificações do browser
Obrigado pela subscrição

Queremos ajudá-lo a gerir melhor a saúde da sua carteira.

Não fique de fora

Esta seleção de artigos vai ajudá-lo a gerir melhor a sua saúde financeira.