Diga-se, logo à partida, que a palavra assume na sabedoria popular um prisma diferente do dos cenários macroeconómicos, das economias de escala, dos estudos de impacto económico… Nos ditados, economia quer principalmente dizer que alguém sabe administrar bem a sua casa, poupar onde devido para gastar no necessário, tudo com equilíbrio e bom-senso. No fundo, é a forma como se gere, adequada ou inadequadamente, os bens, como sintetiza este provérbio: «A economia é necessidade na pobreza, prudência na mediocridade e vício na opulência.»
Eis alguns exemplos de bons gestores:
«A mais rica das rendas, é a economia.»
«Quem economiza os minutos, ganha as horas.»
«Migalhas, também é pão.»
«Saber quantos pães dá um alqueire» (ou seja, calcular bem com economia; ensinar a alguém as regras do bem viver, como nos esclarece Perestrelo da Câmara, na sua Coleção de Provérbios, Adágios, Rifãos, Anexins, Sentenças Morais e Idiotismos, de 1848)
Palitos, bolsas, contabilidades, moinhos de água…
Mas há administradores, claro está, que não percebem nadinha de economia. «Não há rendimento algum suficiente, quando não tem a economia por companheira.» Será a também chamada falta de bom senso ou algo mais do que isso? Talvez fizesse falta um orçamento: «Quem gasta sem fazer contas, arruína-se sem dar por isso.» Talvez fizesse bem um pouco menos de glutonaria: «Governa a tua boca conforme a tua bolsa.» Talvez fosse necessário um bocadinho mais de equilíbrio: «A economia é o meio termo entre a avareza e a prodigalidade.»
Mas será que não se encontra nos provérbios populares nada que possa ser útil aos ministros da Economia ou aos chefões do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial? Os dicionários referem que uma «economia de palitos» é uma coisinha irrisória, feita de coisas insignificantes. E será que este «Pão alheio caro custa», incluído na História Geral dos Adágios Portugueses (1924), não é um piscar de olho à aposta na produção nacional? Tudo bem, se calhar extrapolámos demasiado, mas que querem, queremos mesmo ajudar os manda-chuva a tratarem bem da economia! Porque às vezes parece andar tudo desgovernado; ou tudo muito desequilibrado, como num moinho de água: «Os homens são como os alcatruzes da nora; para uns ficarem cheios, ficam os outros vazios.»
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Três conselhos provérbio-económicos para usar já
Assim sendo, aqui ficam umas regras a ter em conta em próximos orçamentos de Estado:
- «Mais vale um toma, que dois te darei.»
- «Quanto mais barato estiver o pão, melhor canta o coração .»
- «A prodigalidade, destrói as fortunas; a boa economia fá-las nascer.»
E, claro, podemos sempre nomear o nosso querido conselheiro Rodrigues de Bastos como consultor económico. Já se sabe que ele deixou pensamentos e máximas sobre tudo. Quereis economia? Ei-la. Primeiro, saiba-se que «A economia é filha da ordem e da assiduidade»; depois, relembre-se que «Para se ser rico é menos necessário aprender como se ganha, que como se economiza»; por fim, não esquecer que «O lucro é passageiro e incerto; a despesa é certa, é contínua, e é de toda a vida».
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Se o conselheiro resvalar, ficamos com as avós!
Por fim? Como se fosse possível o conselheiro não ter sempre mais uma na manga. E desta vez é sobre o fundo das pensões, achamos nós. «Poupai para o tempo da adversidade e da velhice; que o sol da manhã nem sempre há de durar.»
Temos de confessar que estávamos à espera de mais e melhor. Neste âmbito, o conselheiro chega mesmo a ser um bocado lírico. «Com inteligência, trabalho e economia, só é pobre quem não quer ser rico», até podia ser slogan de um partido extremista. Decididamente, os provérbios mais úteis, mais curiosos, mais fora da caixa, ficaram logo no princípio. É lá possível maior pragmatismo e otimismo do que esse «migalhas também é pão», que tantas das nossas avós, bisavós, trisavós e por aí fora tiveram de usar para pôr comida na mesa?
E ainda dizem, às vezes, que o povo não é sábio.
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