O seu comportamento manda na sua carteira
Se as finanças pessoais fossem apenas contas e fórmulas, qualquer pessoa com uma máquina calculadora (ou um telemóvel) seria teoricamente um milionário. Essa abordagem simplista deixa de lado a parte mais complexa do processo: o nosso comportamento. A nossa relação com o dinheiro, moldada por anos de experiências, valores e influências culturais, tem um papel decisivo que não se aprende nos livros nem se calcula numa equação.
Ao contrário de uma folha de Excel, o comportamento financeiro é o resultado da forma como interpretamos o dinheiro e o significado que lhe atribuímos. É fundamental fazermos uma autoanálise honesta. Como é que lida com o dinheiro? Vê o dinheiro como segurança, como poder, ou como liberdade? Quando está triste ou ansioso, compra coisas para se animar?
Este processo de autodescoberta pode ser desconfortável, mas é um passo imprescindível para compreendermos as nossas decisões financeiras. Só entendendo quem somos, financeiramente falando, podemos tomar as rédeas das nossas finanças.
Quais são as suas crenças sobre dinheiro?
Depois de descobrirmos de onde vêm as nossas crenças sobre dinheiro (o dinheiro é “mau”, o dinheiro traz problemas, o dinheiro é isto ou aquilo…), é essencial uma segunda etapa: a coragem de tomar decisões conscientes para mudar. É aqui que muitos falham, não por falta de informação, mas por medo. Decidir que é preciso cortar nas despesas desnecessárias, escolher poupar em vez de gastar por impulso porque me faz sentir bem (durante 5 minutos), ou investir numa estratégia para a reforma são escolhas que implicam ajustar hábitos e enfrentar incertezas. E isso é muito desconfortável. No entanto, esta coragem é o que distingue quem gere as finanças de forma responsável de quem se deixa levar pelas circunstâncias e pelo que diz a sociedade.
Por onde começar?
Há várias decisões práticas que qualquer pessoa deve ponderar. Por onde começar? Uma delas é a criação de um fundo de emergência. Este é um ponto de partida crucial que permite enfrentar imprevistos sem entrar em desespero.
Outra decisão é a revisão periódica das despesas: verificar se as assinaturas de serviços, gastos com lazer ou mesmo os custos fixos mensais se mantêm justificados. Pequenos ajustes, quando feitos com consistência, podem gerar mudanças significativas no longo prazo. Ainda esta semana recebi muitas mensagens de pessoas impressionadas com a facilidade de mudar de empresa de eletricidade. Há anos que desperdiçam dinheiro por medo ou preguiça.
A gestão da dívida é outro passo importante. Evitar a tentação do crédito fácil e optar por estratégias de liquidação das dívidas acumuladas reduz a pressão financeira e aumenta o controlo pessoal. Aqueles que conseguem gerir as dívidas (não as fazendo) são também os que vivem com menos ansiedade e têm mais flexibilidade (e dinheiro) para aproveitar as oportunidades que surgem.
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A ansiedade da mudança é normal
Naturalmente, todas essas mudanças geram ansiedade. É comum sentir que estamos a abdicar do presente em prol do futuro (“Não estou a viver a vida”), ou que uma má decisão pode trazer retrocessos. Aprender a lidar com esta ansiedade é muito importante. Uma forma de enfrentar este medo é definir metas realistas, celebrar pequenas conquistas financeiras e, sobretudo, reconhecer que errar faz parte do processo de aprendizagem.
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É uma maratona, não uma corrida de 100 metros
É importante lembrar que as finanças pessoais são uma viagem que dura a vida inteira, e não uma competição. Todos temos rendimentos, contextos e necessidades diferentes. O foco deve estar no nosso equilíbrio financeiro, e não em comparações com os outros. O seu vizinho pode ter um Mercedes ou um BMW novinho em folha, mas não dorme à noite porque não sabe como pagar a prestação do carro no próximo mês. Mas isso ele não lhe conta…
Pequenos passos consistentes geram mais estabilidade do que estratégias arriscadas ou grandes mudanças repentinas. Vá com calma.
No final, é o comportamento - as suas decisões no dia a dia - que define o sucesso nas finanças pessoais. Não importa quão avançadas sejam as técnicas de contabilidade ou as ferramentas digitais à nossa disposição; é a nossa capacidade de auto-reflexão, coragem de mudar e gestão da ansiedade que vai ditar o nosso bem-estar financeiro. Está pronto para tomar uma decisão destas e avançar?
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Pedro Andersson nasceu em 1973 e apaixonou-se pelo jornalismo ainda adolescente, na Rádio Clube da Covilhã. Licenciou-se em Comunicação Social, na Universidade da Beira Interior, e começou a carreira profissional na TSF. Em 2000, foi convidado para ser um dos jornalistas fundadores da SIC Notícias. Atualmente, continua na SIC, como jornalista coordenador, e é responsável desde 2011 pela rubrica "Contas-Poupança", dedicada às finanças pessoais. Tenta levar a realidade do dia a dia para as reportagens que realiza.
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