Não deixa de ser uma sensação quando um designer de jogos estrangeiro resolve pegar num tema português para a sua próxima criação. Mac Gerdts inspirou-se na gesta idealizada pelo Infante D. Henrique – cuja figura é proeminente na capa –, para este Navegador (2010). Eis-nos de volta ao século XV, quando o Infante se rodeou dos melhores cartógrafos e navegadores da época para construir naus e partir à procura de "novos" territórios e novas rotas comerciais.
Vendo isto agora, compro aquilo depois
Ao jogador de Navegador, pede-se que seja o representante de uma dinastia de ricos comerciantes que toma parte ativa no esforço de criar um monopólio das especiarias e um império marítimo que se estendia até ao Japão. Além de enviar os navios para os mares mais longínquos, também será preciso fundar colónias e construir fábricas ao longo do caminho. E, no que é um dos aspetos mais interessantes do jogo, saber quando comprar, processar e vender o açúcar, o ouro e as especiarias, num mercado cujos preços flutuam consoante a escassez ou a abundância de cada produto. Será preciso alguma estratégia e perspicácia. Quem se adaptar melhor às constantes alterações do mercado (provocadas pelas ações de todos os jogadores), conseguirá os meios necessários para financiar os seus planos de expansão e bater a concorrência.
Mas, obviamente, o primeiro impulso terá de passar pela exploração marítima. Porém, avançar muito no mapa acarreta algumas incógnitas. O risco de navegar para regiões perigosas, como Macau ou Japão, trará ricas compensações ou grandes amarguras? Devemos apostar nas navegações ou nas colónias? Queremos dominar pela construção de estaleiros e igrejas ou pelo comércio de açúcar ou especiarias?
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Nem acredito que chegámos até Nagasáqui
Tudo pode ser importante numa estratégia abrangente, mas também é possível apostar em vertentes mais específicas. E convém não esquecer que os privilégios atribuídos por cinco personagens históricas - Bartolomeu Dias, Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral, Afonso de Albuquerque, Francisco Xavier - podem valer preciosos pontos no final.
Polémicas à parte, não deixa de ser entusiasmante ver como as fases do jogo são despoletadas à medida que se atravessa o Cabo da Boa Esperança, se chega a Malaca, se descobre o caminho para Nagasáqui. É um pedaço da nossa história, independentemente do prisma sob o qual o encaremos. E, neste caso, por causa das decisões estratégicas e do funcionamento dinâmico dos preços de compra e venda do mercado, uma boa ferramenta de literacia financeira.
E se quisermos recuar ainda mais no tempo, que tal irmos até ao período das viagens de Marco Polo?
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Percorrer a mítica rota da seda
Terras longínquas, bazares, sedas exóticas, barras de ouro, sacos de pimenta... É tudo puro comércio em The Voyages of Marco Polo (2015)? Quase tudo. Cada jogador tem um armazém para guardar mercadorias e camelos, uma gaveta para os contratos que consegue cumprir, várias tendas para estabelecer os seus entrepostos comerciais. O jogador pode escolher interpretar o próprio Marco Polo, ou então o pai dele, Nicolo, o tio dele, Matteo, ou uma série de outras individualidades que o acompanharam ao longo das suas explorações. Como bons mercadores, precisamos de ir até aos sítios mais lucrativos e cumprir os contratos que nos dão pontos de vitória, descontos e alguns privilégios nas cidades que visitamos.
O tabuleiro funciona, assim, também como uma aula de geografia antiga, com várias rotas que se estendem de Veneza até Pequim. E, se gostarmos de imaginar, o jogo talvez possa transmitir-nos um pouco do que seria a sensação para esse jovem de 17 anos, no ano de 1271, de atravessar as estradas orientais da rota da seda, e encontrar, a cada passo, novas e deslumbrantes cidades, com as suas gentes e costumes.
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