Investimentos

5 temas que vão marcar ano de incógnitas nas Bolsas

O impacto das políticas que vão ser implementadas por Trump é a maior incerteza que os mercados enfrentam em 2025, mas há mais fatores de risco.

Depois de um 2024 muito favorável para os ativos cotados nos mercados financeiros, analistas e investidores entraram em 2025 com otimismo moderado, cientes que a incerteza é elevada em vários domínios e será necessário que se concretize um conjunto de desenvolvimentos positivos para que a tendência de alta se mantenha.

Os fundamentais para as ações são relativamente benignos, pois a economia global mostra uma resiliência assinalável, os bancos centrais estão a aliviar a política monetária e as empresas estão a conseguir aumentar os seus resultados a um ritmo interessante. Tudo fatores que justificam a manutenção de apetite elevado pelos ativos de risco.

No outro prato da balança está o nível elevado a que estão a negociar as ações, sobretudo nos Estados Unidos, onde os índices marcam já dois anos de valorizações superiores a 20%, algo que nunca tinha acontecido este século. E depois existe uma série de incógnitas sobre o que vai acontecer em 2025 e que justificam uma abordagem mais cautelosa dos investidores, refreando o apetite pelos ativos de risco.

Quais vão ser as políticas a implementar por Donald Trump nesta segunda passagem pela Casa Branca? Os novos governos em França e Alemanha vão contribuir para impulsionar o anémico crescimento económico na Europa? Fed e BCE vão mesmo baixar os juros em 2025? A economia chinesa vai finalmente arrancar? As grandes tecnológicas vão continuar a surpreender com taxas de crescimento bem acima da média à boleia da Inteligência Artificial?

São muitas incertezas que justificam a pouco habitual dose de desconfiança com que os investidores entraram no Ano Novo. Estão a adotar uma postura de esperar para ver, embora sem sinais evidentes de que está à porta uma correção do rally nos mercados acionistas que se iniciou no final de 2022. Em baixo estão detalhados os cinco fatores que deverão marcar o ritmo dos mercados este ano.

A imprevisibilidade de Trump

Bandeira dos EUA

A vitória de Donald Trump nas eleições de 5 de novembro foi bem recebida nos mercados acionistas, sobretudo nos Estados Unidos, onde os índices dispararam para novos máximos devido ao otimismo com a implementação de medidas protecionistas que impulsionem a economia e desregulem os negócios. A postura é agora mais cautelosa, pois os investidores sabem que, tal como aconteceu no primeiro mandato, a política de Trump é marcada pela imprevisibilidade e mudanças de posição súbitas.

A principal incógnita está na política comercial que vai ser adotada. Na campanha, Trump repetiu que é um fã de tarifas alfandegárias e prometeu implementar taxas entre 10% e 20% sobre todos os produtos importados pelos Estados Unidos e de 60% sobre as importações de bens chineses. Se avançar com esta “política cega”, será inevitável uma guerra comercial à escala global que causará um dano assinalável no crescimento da economia mundial e também na evolução das bolsas.

O Washington Post noticiou recentemente que, afinal, as tarifas seriam introduzidas apenas sobre um conjunto restrito de produtos, considerados críticos pelo País. Trump negou a notícia de forma veemente, gerando uma volatilidade nos mercados que deverá ser uma das imagens de marca da próxima presidência dos Estados Unidos. O fluxo de notícias sobre tarifas deverá ser grande e a evolução das bolsas em 2025 ficará fortemente ligada à forma como o próximo presidente dos EUA conduzir este dossiê.

No que diz respeito aos outros temas, a dose de imprevisibilidade também é elevada. Trump prometeu baixar os impostos às empresas e famílias, o que poderá degradar as contas públicas do país e agravar as yields das obrigações, o que, por sua vez, pode penalizar as ações. Os estímulos à economia e o travão à imigração têm potencial para impulsionar a inflação, o que limitará o espaço para a Fed continuar a baixar as taxas de juro. Mais um desenvolvimento que poderá travar a valorização das ações.

Mudanças em Paris e Berlim

As bolsas europeias valorizaram pelo segundo ano consecutivo em 2024, mas o desempenho voltou a ser dececionante, sobretudo comparando com as ações norte-americanas e japonesas. Um crescimento económico anémico, instabilidade política em várias capitais e peso reduzido do exuberante setor tecnológico justificam a fraca performance dos índices europeus.

O índice francês foi mesmo dos poucos com saldo negativo em 2024, sendo que a evolução do CAC40 este ano continuará refém dos desenvolvimentos políticos em Paris. Depois do fiasco com o curto governo de Michel Barnier, o novo executivo liderado por François Bayrou tem como missão reconquistar a confiança dos investidores nos ativos do país.

O primeiro objetivo passa por apresentar um orçamento que agrade à oposição e seja aprovado no Parlamento, ao mesmo tempo que passe no crivo de Bruxelas e aponte na direção de endireitar as contas públicas sem penalizar o crescimento económico. Uma tarefa que se adivinha complicada, tendo em conta que as taxas de juro da dívida francesa estão num nível superior ao registado na Grécia e o diferencial face às obrigações alemãs é o mais elevado desde a crise da dívida do euro (2012).

Na Alemanha os desenvolvimentos políticos também são fundamentais para a evolução da bolsa da maior economia europeia, que está praticamente estagnada desde a pandemia e deixou há muito de ser o motor da região. Depois do colapso do governo de Olaf Scholz, a Alemanha vai ter eleições legislativas em fevereiro, com as expectativas atuais a apontarem para o regresso dos conservadores da CDU ao poder.

A capacidade do próximo executivo em implementar reformas capazes de retirar a economia alemã do marasmo em que se encontra pode ser determinante para que as ações europeias reconquistem a preferência dos investidores. A boa notícia é que as ações europeias negoceiam com avaliações bem mais baixas (atrativas), pelo que se os astros se alinharem nos fatores positivos, o potencial de valorização é mais significativo.

Bancos centrais baixam juros a que ritmo?

A política monetária continuará a ter um a papel relevante na evolução dos mercados e também nesta área a incerteza é elevada, sobretudo nos Estados Unidos. A Fed anunciou uma “nova fase” no final de 2024, condicionando cortes de juros adicionais a progressos na inflação rumo à meta dos 2%.

O banco central projeta agora duas descidas de juros em 2025 (metade dos cortes previstos antes) e se a economia e o mercado de trabalho continuarem a evoluir a um ritmo robusto, há mesmo a possibilidade de as Fed Funds permanecerem no atual nível (4,25%-4,50%). Embora a manutenção de uma política monetária restritiva signifique que a recessão continue a ser uma ameaça longínqua para a maior economia do mundo, a política da Fed pode restringir a valorização dos mercados acionistas globais em 2025. Neste cenário, o dólar e as yields das obrigações devem permanecer em níveis elevados, o que também representa um fator de pressão para as bolsas globais.

No caso do BCE, a trajetória da política monetária é atualmente mais previsível, mas não isenta de riscos. As expetativas apontam para que o banco central da Zona Euro baixe a taxa dos depósitos até aos 2% no verão, o que representa um corte de 100 pontos base face ao nível atual (3%). O fraco crescimento da economia justifica este alívio da política monetária, mas a evolução dos preços pode trocar as voltas ao BCE.

Bandeira da União Europeia
European Union flag on blue sky background

A inflação da Zona Euro agravou-se em dezembro pelo terceiro mês consecutivo, o que pode pressionar o banco central a ter uma abordagem mais prudente e com cortes de juros mais graduais. As tarifas dos Estados Unidos, a evolução do mercado cambial (desvalorização do euro impulsiona a inflação) e fatores geopolíticos também vão condicionar a política monetária do BCE em 2025.

É ainda importante falar do Banco do Japão. Depois de ter iniciado de forma muito tímida o ciclo de subida de juros, a autoridade monetária deverá remover a política monetária ainda ultra-acomodatícia a uma maior velocidade este ano, o que tem potencial para gerar instabilidade nos mercados. Tal como aconteceu no verão do ano passado, quando um aumento surpresa de juros provocou uma queda abrupta nas bolsas globais e em particular no Japão (Índice Nikkei deslizou 20% em apenas três sessões).

Leia ainda: Carry trade: A “tempestade perfeita” que está a abanar as bolsas

Economia chinesa reage a estímulos e tarifas

Depois da pujança das primeiras décadas deste século, a economia chinesa tem registado um desempenho dececionante desde a pandemia, fragilizada por uma grave crise no setor imobiliário, evolução débil do consumo das famílias e elevado endividamento do setor público e privado. Em setembro, as autoridades avançaram finalmente com um plano poderoso de estímulos orçamentais e monetários, o que foi suficiente para impulsionar as ações chinesas, mas o impacto não é ainda visível na atividade económica.

Analistas e economistas acreditam que Pequim ainda guardou “poder de fogo” para responder às prováveis tarifas que vão ser implementadas pelos Estados Unidos, mas uma guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo dificilmente não irá danificar de forma mais intensa a economia chinesa.

Muitas empresas europeias têm na China um importante mercado, pelo que as bolsas europeias têm sido mais penalizadas pela evolução dececionante da economia chinesa. O cenário pode repetir-se em 2025, ou as bolsas europeias podem tirar partido com o possível regresso da China à pujança do passado.

Euforia nas tecnológicas abranda?

Placa de rua a indicar onde fica Wall Street
Wall Street sign near Stock Exchange, financial district in New York, blue sky in a sunny day

Quando se fala de perspetivas para as bolsas, é imprescindível olhar para a evolução dos resultados. As estimativas são animadoras, apontando para um crescimento de dois dígitos nos Estados Unidos e um dígito alto na Europa. Um crescimento abaixo do previsto deitará por terra qualquer possibilidade de um 2025 positivo para as bolsas, mas uma evolução acima das expetativas pode ser o fator decisivo para mais um ano de retornos atrativos nas ações.

O setor tecnológico assume aqui um papel preponderante, pois têm sido estas cotadas a liderar os ganhos dos índices devido ao forte crescimento dos resultados. As Sete Magníficas dispararam 70% em 2024, representando cerca de metade da valorização do índice S&P500. Os lucros combinados da Alphabet, Amazon, Apple, Meta Platforms, Microsoft, Nvidia e Tesla em 2024 terão aumentado 33%, muito acima da taxa de crescimento das restantes 493 empresas (4,2%).

Os analistas estimam que as grandes tecnológicas vão continuar em 2025 com um desempenho superior, embora com um fosso bem mais diminuto. Os lucros das Sete Magníficas deverão crescer 21,3%, contra 13% das restantes companhias do S&P500. Uma evolução que é benigna para o mercado norte-americano, que reduzirá a dependência das grandes tecnológicas, mas que pode dececionar os investidores que contavam com a continuação da exuberância das companhias que estão a tirar partido da euforia com a Inteligência Artificial.  

Mesmo que o resto do mercado consiga um bom desempenho, se as Sete Magníficas abrandarem as taxas de crescimento dos resultados de forma significativa, ficará esvaziado o balão que foi o principal motor do rally das ações norte-americanas nos últimos dois anos. Olhando para a totalidade das cotadas do S&P500, os analistas estimam um aumento de 14,8% nos lucros de 2025, o que compara de forma muito favorável com a média dos últimos 10 anos (8% entre 2014 e 2023).

Nasceu em 1977, sendo jornalista desde 1999. Iniciou a carreira no Jornal de Negócios, onde esteve mais de 20 anos, ocupando várias funções, sempre com foco no online. Atualmente é jornalista independente, assina a newsletter diária de mercados Morning Call e colabora de forma regular com o ECO. Formado em Gestão no ISEG, tem especial interesse por tudo o que está relacionado com os mercados financeiros.

A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.

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