Cultura e Lazer

Navios de guerra abaixo, viva a marinha mercante

Com nome de um dos maiores portos de França, este jogo põe-nos em terra a pensar no mar. Comércio, construção, empréstimos, aqui o dinheiro está sempre a girar.

Com nome de um dos maiores portos de França, este jogo põe-nos em terra a pensar no mar. Comércio, construção, empréstimos, aqui o dinheiro está sempre a girar.

Ao princípio, tudo parece simples. Ao porto francês de Le Havre estão sempre a chegar mercadorias que nos interessam. Mas as decisões começam logo a apertar pois só podemos escolher uma delas. Que vai ser desta vez? Ferro ou madeira? Peixe ou peles de animal?

Emprestas-me isso? Eu pago

Devagar se vai ao longe, e o objetivo deste jogo de tabuleiro é construir um império não para a guerra, mas para o comércio. Isto não é a batalha naval, com tiros no porta-aviões e afundanços de submarinos. Aqui pega-se num produto para fabricar outro, adquirem-se e vendem-se matérias-primas, constroem-se novos edifícios para garantir um rendimento fixo. Precisa de usar as instalações do adversário ou da cidade? Faça favor, desde que pague uma taxa de utilização. E não se esqueça de que vai ter de alimentar os seus trabalhadores, sejam eles pescadores ou serralheiros. A fase da colheita é uma ajuda, ao aumentar o nosso stock de cereais ou gado, mas se calhar o melhor é comprar mais um barco que nos ajude a trazer comida para esta gente.

Contas feitas, no final do jogo, ganha quem tiver amealhado a maior fortuna. Mas, à semelhança de tudo o que é negócio, a parte estratégica da coisa é o “como” chegar a esse objetivo. E este “como” em Le Havre (2008) demonstra alguma complexidade e muitos pontos de contacto com a realidade.

Leia ainda: Beba sem moderação… nestes jogos de tabuleiro

Uma coisa leva a outra, e outra, e outra…

Caixa do jogo Le Havre, em que o objetivo é construir um império para o comércio

Tudo tem uma sequência. O gado tem de ser transformado em carne, os cereais em pão, o ferro possibilita o fabrico de aço, a madeira é necessária para o carvão, da argila fazem-se tijolos e até o pescado pode ser defumado para criar mais um item de comércio. Mas como nada disto se faz por magia, é preciso construir edifícios; e para construir edifícios, precisamos de matérias-primas. E, como estamos numa cidade portuária, não faria sentido se não houvesse molhes (e, depois, estaleiros mais modernos) onde pudéssemos construir barcos. Mais tarde, já com a nossa estrutura empresarial assente, poderemos, por exemplo, apostar na aquisição de um cruzeiro de luxo. Aliás, será mesmo bastante difícil ser-se bem-sucedido caso não se aposte a sério na construção e diversificação da nossa frota. Isto está tudo ligado, já se sabe.

A dinâmica de Le Havre passa também pela possível venda ao município dos edifícios que se construiu. Isso pode ser uma forma de angariar recursos financeiros, despachando uma estrutura que, no início, teve o seu papel, mas que depois se tornou obsoleta. E o mesmo se passa com os barcos que saíram do velho molhe. Já não são necessários? Vendem-se!

Leia ainda: Um café e um strudel, na Viena mais chique

Esta cidade até tem um mercado negro!

No resto, a variedade de jogo para jogo está garantida por uma enorme quantidade de edifícios pertencentes a vários sectores. Além das imprescindíveis oficinas de artesãos, há instalações públicas, económicas e industriais. No final, pode-se ficar com uma Le Havre bastante colorida. Um centro de artes e um matadouro, padaria e banco, uma empresa de construção civil, uma ponte sobre o Sena, escritórios e restaurante, a mercearia e a loja de ferragens, docas, fábrica de aço, armazém, a tanoaria e o estádio de futebol, um jardim zoológico e uma casa dos artesãos, sem esquecer o próprio edifício da câmara municipal. Cada estrutura tem os seus custos de entrada e gera os seus benefícios específicos. Por exemplo, uma igreja gera comida, certamente pelas dádivas dos devotos.

E além da possibilidade de instalar um mercado, a cidade também pode vir a conhecer um mercado negro, onde se podem ir buscar mais produtos de que precisamos sem que as autoridades vejam. Desde que se tenha dinheiro para gastar, claro. Calma. Aqui, quando a caixa de trocos fica vazia, contrai-se imediatamente um empréstimo, pois a nossa empresa não pode ir à bancarrota nem ficar parada por falta de capital. Mas atenção, que vai ser preciso pagar juros, na devida altura. No final do jogo, serão subtraídos sete francos por cada empréstimo que esteja por pagar… Talvez seja melhor tratar deles antes disso. Vai custar menos e, por isso, doer menos. Já dissemos algures que isto anda tudo ligado?

Leia ainda: A esfregona mágica e o cartão de crédito falso

Paulo M. Morais cresceu a jogar futebol de rua e a ouvir provérbios ditos pelas avós. Licenciou-se em Comunicação Social e especializou-se nas áreas do cinema, dos videojogos e da gastronomia. É autor de romances e livros de não ficção. Coleciona jogos de tabuleiro e continua a ver muitos filmes. Gosta de cozinhar, olhar o mar, ler.

A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.

Partilhe este artigo
Tem dúvidas sobre o assunto deste artigo?

No Fórum Finanças Pessoais irá encontrar uma grande comunidade que discute temas ligados à Poupança e Investimentos.
Visite o fórum e coloque a sua questão. A sua pergunta pode ajudar outras pessoas.

Ir para o Fórum Finanças Pessoais
Deixe o seu comentário

Indique o seu nome

Insira um e-mail válido

Fique a par das novidades

Receba uma seleção de artigos que escolhemos para si.

Ative as notificações do browser para receber a seleção de artigos que escolhemos para si.

Ative as notificações do browser
Obrigado pela subscrição

Queremos ajudá-lo a gerir melhor a saúde da sua carteira.

Não fique de fora

Esta seleção de artigos vai ajudá-lo a gerir melhor a sua saúde financeira.