Não deixe o seu dinheiro apanhar pó. Investir é o passo normal que sucede à poupança. Mais do que garantir ganhos especulativos futuros é a única via de combater a mossa do tempo sobre o seu dinheiro.
Na realidade, à medida que os dias, meses e anos passam, os preços mudam e este fenómeno tem impacto no seu dinheiro. E poupar não chega, já que o dinheiro nunca está parado, o que significa que ao longo do tempo ou cresce ou perde valor. É um conceito basilar das finanças conhecido como Princípio do Valor Temporal do Dinheiro.
Por exemplo, um cabaz-tipo de bens e serviços que custava 100 euros há 20 anos, custa agora mais de 170 euros. Por outro lado, 10.000 euros poupados no ano de 2000 equivalem agora a menos de 6.000 euros. Assim, de forma “invisível”, a evolução da inflação reduz continuamente o poder de compra do dinheiro, assim como o valor real das poupanças.
Mas como escolher os ativos onde investir? Entre os muitos passos a serem dados até carregar no botão de “comprar” numa qualquer plataforma de investimento ou de aplicar dinheiro no produto de poupança do Estado ou dos bancos, um deles é o estudo das rendibilidades passadas dos instrumentos financeiros, ainda que esta tarefa não seja uma garantia para o futuro. No entanto, ajudará, pelo menos, a entender se um determinado produto financeiro está ou não de acordo com o seu perfil de risco.
Depósitos são favoritos, mas perdedores contra inflação
“Tradicionalmente, os depósitos a prazo são a forma de poupança mais popular, chegando a absorver mais de 50% das aplicações financeiras efetuadas”, constata a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) no mais recente relatório do investidor.
A pouca propensão para o risco da população nacional não se estende apenas às faixas etárias mais velhas. O mais recente inquérito levado a cabo pela CMVM sobretudo junto da população universitária revela que os depósitos à ordem são o ativo que uma maior percentagem (87,2%) de indivíduos jovens detém, seguindo-se os depósitos a prazo. E chegam mesmo a ser detidos de forma exclusiva e sem diversificação. Na grande maioria (82,3%) das 339 carteiras com apenas um tipo de ativo, que são detidas pelos inquiridos por esta sondagem, esse ativo é o depósito à ordem.
Depósitos batem recorde
Esta propensão dos portugueses para os depósitos levou a que no ano passado se fizesse história. Ao todo, foram colocados nos bancos a prazo 128,4 mil milhões de euros em 2024, um aumento de 45% face ao ano anterior, apesar das descidas das remunerações pagas pelas instituições por estes produtos, de acordo com os dados do Banco de Portugal.
Depois de um disparo da taxa de juro média dos depósitos de 0,41% no final de 2022 para 3,08% no término de 2023, à boleia da subida histórica dos juros diretores por parte do Banco Central Europeu (BCE), esta taxa paga pelos novos depósitos voltou a descer para 2,16% no final do ano passado, acompanhando mais uma vez a autoridade monetária liderada por Christine Lagarde, mas desta vez no movimento inverso.
Estas taxas tornam-se ainda mais baixas quando é reduzido o valor da variação média da taxa de inflação, e portanto, da evolução dos preços nestes mesmos anos. Assim, em 2022, a rendibilidade média dos novos depósitos terá sido negativa, em concreto o dinheiro aplicado nos bancos terá sofrido uma perda de 7,39% uma vez aplicada a variação média da taxa de inflação de 7,8% nesse ano.
A história repete-se em 2023, com uma taxa de juro média também ela no vermelho, em -1,22%. À medida que a inflação foi descendo, surtindo os efeitos da subida dos juros na Zona Euro pelo BCE, o efeito de esbatimento da inflação na remuneração paga pelos bancos por novos depósitos foi reduzindo-se, mas não o suficiente para 2024 ter fechado com uma taxa de juro média real de –0,24%. Isto significa que, por exemplo, em média, ao terem sido colocados 1.000 euros em depósitos a prazo a 31 de dezembro de 2023, no final do ano passado, as famílias perderam 24 euros. Ou seja, os clientes não só não ganharam o juro prometido, como ficaram com um montante mais pequeno passados 12 meses.
Certificados com ganho real quase nulo
Se a procura por depósitos bancários tem uma ligação muito ténue à remuneração que é oferecida pelos bancos, no caso dos Certificados de Aforro essa relação é muito evidente. O forte volume de subscrições que iniciou em 2022 acompanhou a subida das taxas de juro por parte do BCE, o que elevou a remuneração destes produtos de poupança do Estado para o limite máximo de 3,5% nos primeiros meses de 2023.
Quando o governo decidiu baixar a remuneração máxima dos Certificados de Aforro para 2,5%, em junho de 2023, a procura destes produtos estagnou, até porque a taxa dos depósitos bancários estava em trajetória ascendente, tendo mesmo superado a fasquia dos 3% no final desse ano.
A remuneração dos Certificados de Aforro tem estado estagnada neste patamar de 2,5%, ao contrário do que se verifica nas taxas de juro dos depósitos, que baixaram de forma constante ao longo de 2024, num movimento que deverá persistir este ano. É esta tendência que explica o regresso em força dos portugueses aos Certificados de Aforro na reta final de 2024, pois estes produtos estão agora mais atrativos na comparação com os depósitos. Ainda assim, aplicando a variação média da taxa de inflação é preciso ter em conta que este patamar de 2,5% passa para apenas 0,1%.
Mais rendibilidade implica maior risco
Para combater a inflação, os números são claros. Os produtos com mais risco acabam por ter uma rendibilidade maior. Ainda no domínio da dívida, 2023 foi um bom ano para as obrigações a nível global. O índice Bloomberg Global Aggregate Bond registou uma subida de mais de 5% durante esse período, mas que acabou por ter um revés o ano passado com uma quebra de quase 2%.
Já nas ações, o cenário tem sido manifestamente mais positivo, a nível mundial. Ter investido nos últimos dois anos, com uma carteira diversificada de títulos, não só superou a inflação como deu ganhos adicionais bastante expressivos. As ações fecharam 2024 com ganhos de quase 27%, segundo o desempenho do índice MSCI World em euros, depois de uma outra escalada de mais de 20% no ano anterior.
Nos EUA, o índice de referência S&P 500 conseguiu também ganhos de mais de 20% nos últimos dois anos. Já pela Europa, as subidas foram mais ligeiras, mas ainda assim expressivas. O índice que reúne as 600 maiores empresas da Europa, o Stoxx 600, cresceu quase 13% em 2023 e valorizou 6% em 2024.
Mas que ações escolher? Se tiver uma ideia vaga de um setor ou região ou até da entidade gestora, uma opção pode passar por subscrever um fundo de investimento. E em Portugal estes organismos não se saíram nada mal nos últimos dois anos, nem a superar a inflação, nem a arrecadar ganhos adicionais.
Entre os 187 fundos de investimento mobiliários geridos pelas instituições financeiras portuguesas, apenas sete registaram uma rendibilidade efetiva negativa em 2024. 85% dos fundos alcançaram rendibilidades acima de 3%, garantindo por isso retornos reais (acima da inflação) aos seus subscritores. Em 2023, os fundos conseguiram uma rendibilidade de quase 15%.
A dinâmica favorável dos mercados atraiu um volume substancial de investimento para estes produtos financeiros disponibilizados pelas gestoras de ativos sedeadas em Portugal. Segundo o relatório publicado pela Associação Portuguesa de Fundos de Investimento, Pensões e Patrimónios (APFIPP), as subscrições líquidas (subscrições subtraídas de resgates) atingiram 1.195 milhões de euros em 2024, com o último mês do ano muito forte (subscrições líquidas de 226 milhões de euros).
Apesar do maior apetite por fundos de investimento, os portugueses continuam muito conservadores na hora de aplicar as poupanças nestes veículos. Em 2024 colocaram (em termos líquidos) 970 milhões de euros em fundos de obrigações da Zona Euro, 550 milhões de euros em fundos do mercado monetário e 407 milhões de euros em fundos de curto prazo euro.
Ouro: Um refúgio e um campeão
Conhecido como ativo-refúgio, o ouro tornou-se mais do que isso nos últimos dois anos, tendo vivido um verdadeiro rally. Alívio sincronizado da política monetária a nível global, enfraquecimento do dólar, sinais mais intensos de abrandamento da economia mundial, agravamento da instabilidade geopolítica, diversificação das reservas por parte dos bancos centrais e procura robusta por parte de consumidores e investidores são os fatores que têm alimentado a escalada do metal amarelo que tem vindo a bater novos recordes, perto do patamar os três mil dólares.
O ouro tem características muito específicas que reforçam a sua atratividade junto de muitos investidores. Tem forte perceção de valor e é visto como um ativo de refúgio, com potencial para proteger as carteiras de momentos de turbulência e negociar em sentido contrário a outros ativos. Tem habitualmente uma posição pouco substancial nos portfólios diversificados, mas também são diminutas as carteiras que prescindem da exposição a este metal precioso. Nos últimos dois anos quem optou por uma exposição abrangente a esta matéria-prima saiu beneficiado. Depois de três anos de perdas, o ouro cresceu 13% em 2023, tendo chegado a escalar mais de 25% no ano passado.
Existem várias formas de investir em ouro, assim como em outros ativos: através do investimento da onça física, em produtos financeiros que estão correlacionados a esta matéria-prima, ou seja derivados, ou de fundos negociados em bolsa, mais conhecidos pela sigla inglesa ETF, e que replicam o desempenho do metal amarelo.
Forex: Uma opção, mas para os mais entendidos
Se está às voltas no mundo do investimento na internet, já deve ter ouvido falar em forex. A expressão anglo-saxónica refere-se ao investimento cambial, ou seja, em moedas. Ao contrário de outros ativos, que podem ser investidos sozinhos quando coloca dinheiro em divisas será sempre aos pares, já que uma é o produto e a outra o preço. Por exemplo, pode investir no par euro-dólar, ou seja, pode gastar em torno de 1,04 dólares para comprar um euro. O segredo para ganhar dinheiro está na especulação sobre as cotações futuras (como acontece em outros ativos), mas também na taxa de câmbio esperada. Por outras palavras, quantos dólares vale um euro no futuro ou vice-versa.
O euro-dólar é mesmo o par mais líquido do mundo, o que significa encontrar quem do outro lado compra ou venda este par (trocar euros por dólares e o contrário). No ano passado o euro perdeu mais de 6% face ao green cash, depois de ter subido mais de 3% em 2023. Isto significa que o dólar ganhou mais de 6% em 2024 contra o euro e que perdeu mais de 3% um ano depois.
A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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