Se em circunstâncias normais ter um orçamento mensal é o primeiro passo para ter uma vida financeira saudável, é ainda mais importante em situações de crise.
Primeiro, o básico. Sente-se a uma mesa, com espaço para espalhar papéis, ou junto ao computador para começar a preencher uma folha de Excel. Numa coluna, coloque todas as suas receitas mensais (sejam elas quais forem), e na coluna ao lado todas as suas despesas mensais e anuais.
As despesas anuais são importantes porque se não as colocar nos meses em que ocorrerem vai ser apanhado de surpresa. Não deixe que isso aconteça. Pode ter tudo bem planeado mensalmente, mas basta chegar o seguro do carro, o IMI ou outra despesa avultada e lá se vai todo o esforço de planeamento por água abaixo.
Se as suas receitas não chegam para cobrir todas as suas despesas só tem duas opções: ou reduz os seus gastos, ou aumenta as suas receitas. Não conheço outras opções (legais) para além destas.
Sugiro-lhe então que pegue na sua lista COMPLETA de despesas mensais e anuais (no Excel é mais fácil) e que as ordene de duas maneiras:
1. Lista organizada pelo valor total/absoluto
Ou seja, ordene as despesas da maior para a menor. Muito provavelmente as do topo serão a escola dos filhos, se os tiver e optou pelo ensino privado; o crédito à habitação; alimentação; crédito automóvel; seguros; combustíveis; jantares fora; engomadorias; empregada de limpeza; ginásio; saúde/seguros de saúde; condomínio; entretenimento; etc.
Ao ver a lista ordenada do valor maior para o menor, vai perceber onde poderia cortar imediatamente e resolver em parte o seu problema financeiro mais rapidamente (em vez de ir cortando várias coisas pequenas).
Claro que estaremos a falar de duros golpes psicológicos como retirar os filhos do ensino privado para os colocar no público (como aconteceu com várias famílias em 2008); acabar com o seguro de saúde e regressar ao SNS; vender o carro caro de que gosta tanto e trocá-lo por um carro “normal” menos potente e vistoso (ou mesmo passar a andar de transportes públicos, de bicicleta ou trotinete elétrica). Tem de avaliar todas as opções se precisar de um tratamento de choque financeiro. É a solução rápida.
2. Despesas organizadas pela importância
Pegue nas mesmas despesas e ordene-as das mais importantes para si para as menos importantes. Por outras palavras, diga a si próprio (os especialistas diriam “verbalize”) o que tem mesmo de manter e o que pode cortar sem ficar demasiado triste.
Decida o que tem de continuar a contratar, subscrever ou comprar e o que pode sem grande sacrifício abdicar e cortar assim que precisar ou puder.
Há coisas para as quais encontra rapidamente alternativa com os mesmos resultados. Se deixar de ir ao ginásio, pode correr na rua ou frequentar um circuito de manutenção na sua localidade ou perto. Tendo internet, precisa de serviços como a Netflix ou HBO? Pode levar comida de casa em vez de almoçar fora todos os dias? Em vez de pagar parquímetros, pode deixar o carro um pouco mais longe e poupar esse dinheiro? Se se levantar mais cedo pode evitar gastar o dinheiro do pequeno-almoço no café (2€ x 22 dias úteis são 44€ por mês)? Se acrescentar o lanche no trabalho, passa a 88€ por mês (é mais do que a sua fatura de eletricidade). Consegue levar de casa alimentos mais saudáveis todos os dias por uma fração desse valor. Ao fim de 11 meses (se tirar o mês das férias) são 968 euros que gastou ou que ficaram no seu bolso.
São alternativas que deve avaliar em caso de crise. Ou, de preferência, antes de entrar numa crise. Se decidir fazer isso hoje, sem precisar, e colocar esse dinheiro de lado todos os meses, daqui a 3 anos terá um fundo de emergência com quase 3 mil euros.
Nada disto é ciência aeroespacial. É senso comum e bom senso. Mas tem de pôr tudo num papel. Se acenar só que sim com a cabeça a dizer que concorda com o que acabou de ler e não fizer nada, vai ficar exatamente na mesma situação que antes. Há momentos na vida em que tomar uma decisão e mantê-la faz toda a diferença. Nas suas finanças pessoais e familiares também. Fazer um orçamento mensal realista e eficaz é o primeiro passo para pôr as suas contas em ordem.
Pedro Andersson nasceu em 1973 e apaixonou-se pelo jornalismo ainda adolescente, na Rádio Clube da Covilhã. Licenciou-se em Comunicação Social, na Universidade da Beira Interior, e começou a carreira profissional na TSF. Em 2000, foi convidado para ser um dos jornalistas fundadores da SIC Notícias. Atualmente, continua na SIC, como jornalista coordenador, e é responsável desde 2011 pela rubrica "Contas-Poupança", dedicada às finanças pessoais. Tenta levar a realidade do dia a dia para as reportagens que realiza.
A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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Um comentário em “Faça um orçamento mensal de combate”