Gostava de ter o seu próprio negócio? Há dois caminhos que pode seguir: criar uma empresa do zero ou utilizar uma marca já estabelecida e reconhecida, através do sistema franchising. Neste artigo vamos explicar-lhe o que é o franchising e quais os passos necessários para abrir um em Portugal.
O que é o franchising?
O que têm em comum o Burger King, a Phone House e o Wall Street Institute? Todos são franchisings. O que significa?
O franchising é um modelo de negócio no qual uma empresa concede a outra o direito de usar a sua marca, know-how, infraestruturas e operação, em troca de uma contrapartida financeira. Funciona como uma parceria, unindo a experiência da “empresa mãe” com o capital e a motivação de outros que tenham interesse em replicar um conceito de negócio já conhecido.
Na página da Associação Portuguesa de Franchising encontramos uma definição do professor António Pinto Monteiro, especialista em direito comercial. Segundo este, o franchising diz respeito a um “contrato mediante o qual o produtor de bens e/ou serviços concede a outrem, mediante contrapartidas, a comercialização dos seus bens, através da utilização da marca e demais sinais distintivos do primeiro e em conformidade com o plano, método e diretrizes prescritas por este, que lhe fornece conhecimentos e regular assistência”.
O contrato estabelece-se entre o franchisador (empresa que detém a marca) e o franchisado (empresário e/ou empresa que vai explorar o negócio fornecido pelo franchisador). Para o primeiro permite uma rápida expansão do seu negócio e, para o segundo, o franchising surge como uma oportunidade de lançar um negócio próprio com menos risco associado, uma vez que já foi testado.
Como nasceu o franchising?
O termo franchising tem origem no francês franchise, sendo que “fran” significa concessão de um privilégio ou autorização. O conceito base remonta à Idade Média, em França, mas o modelo tal como hoje o conhecemos foi utilizado pela primeira vez nos Estados Unidos.
Estávamos em 1982, quando a empresa Singer Sewing Machines Co recorreu ao franchising para aumentar a distribuição das famosas máquinas de costura SINGER. Com o tempo, outras seguiram o mesmo caminho, como a Ford, a General Motors, a Coca-Cola e a Seven Up. Por exemplo, em 1889, a Coca-cola criou um franchising de produção, concedendo a outros o direito de produzir e vender Coca-Cola tanto nos Estados Unidos como noutros países. Para isso, a Coca-cola enviava xaropes previamente preparados para os franchisados com um conjunto de diretrizes para assegurar as mesmas características do produto final. Neste caso, os franchisados podiam usar a fórmula da Coca-cola e o nome da marca e o franchisador foi capaz de expandir muito mais rapidamente e com um menor investimento.
E em Portugal? Os primeiros registros remontam à década de 80, tendo consolidado nos anos 90, altura em que começou a surgir maior competitividade entre as marcas nacionais e estrangeiras. A Associação Portuguesa de Franchising foi fundada em 1987 e, desde então atua na divulgação e promoção do franchising em Portugal enquanto sistema de desenvolvimento empresarial.
Como abrir um franchising
A abertura de um franchising envolve a constituição de um negócio próprio, por isso, caso não tenha experiência neste campo, o melhor será garantir que tem ajuda especializada. De qualquer forma, de uma forma geral, estes são os passos que deverá seguir para abrir um franchising.
Faça uma autoavaliação
O primeiro passo é a autoavaliação. É sempre importante avaliar as implicações de uma ação que pretendemos tomar, principalmente se esta se tratar de um investimento. Antes de se lançar no mundo do franchising reflita se está preparado para ser empresário. É verdade que este sistema permite ao franchisado iniciar um negócio com menos riscos e com uma série de vantagens. Mas nem todas as pessoas se adaptam às exigências deste e à instabilidade da vida de empresário.
Como empresário, deixa de ter um patrão a quem responder e deixa também de ter que cumprir um horário de trabalho. Por outro lado, para o sucesso do negócio, pelo menos numa fase inicial, provavelmente terá de trabalhar mais e, provavelmente, não será capaz de garantir um ordenado fixo todos os meses. Está disposto a esse nível de comprometimento? Está preparado para trabalhar todos os dias, incluindo fins de semana? E como estão as suas finanças? Tem capital disponível para dar início ao negócio e/ou para garantir um empréstimo? Estas são algumas das questões que deve ponderar bem antes de abrir um franchising ou, no fundo, de iniciar qualquer negócio.
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Analise as vantagens e as desvantagens
Uma vez consciente do que significa ser empresário, o passo seguinte é pesar na balança as vantagens e as desvantagens do modelo de franchising comparativamente a outro tipo de negócio. Selecionámos as principais vantagens e desvantagens do franchising para o franchisado, ou seja, para o empreendedor.
As vantagens são as seguintes:
- Acesso a um modelo de negócio já testado e comprovado
- Possibilidade de abrir um negócio sem experiência prévia no setor
- Integração numa equipa experiente que lhe dará formação e apoio
- Ao comercializar uma marca conhecida já possui uma carteira de clientes
- Ações de comunicação integradas na estratégia global do franchisador
- Acesso a padrões de controlo de qualidade
- Apoio na abertura (escolha do local, implementação, financiamento, formação, marketing, etc.)
- Possibilidade de oferecer preços competitivos
Todas estas vantagens advêm do facto de contar com o apoio da "empresa mãe" em todos os momentos, porque esta tem todo o interesse no seu sucesso. Ao abrir um franchising evita cometer os erros mais comuns de um empreendedor inexperiente na medida em que conta com o apoio, formação e acompanhamento da parte do franchisador. Além disso, em termos económicos pode beneficiar das economias de escala, possuindo poder negocial em áreas como compra de matérias-primas. Algo bem diferente do que acontece com empresários independentes com pouca história no mercado (e consumo de quantidades mais limitadas) e que, por isso, não conseguem condições tão vantajosas.
No entanto, também existem desvantagens. Começando pela mais óbvia, ao abrir um franchising vai sempre ter de responder ao franchisador. Tem um negócio próprio mas, não é totalmente independente. Além disso, terá sempre que pagar um determinado valor ao franchisador pelo uso da sua marca, experiência e formação — as chamadas royalties.
Estas são as principais desvantagens para o franchisado:
- pouca independência em relação ao franchisador
- poderá ter que suportar elevados custos iniciais de implantação
- dependência do sucesso ou insucesso da marca
- limitação em relação ao preço de venda dos produtos
- pagamento de royalties e/ou taxa de publicidade
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Pesquise, pesquise e pesquise
Nunca é demais reforçar a importância da pesquisa. Não tenha pressa para iniciar um franchising. Tire o tempo que for necessário para pesquisar e para recolher o máximo de informação.
Comece por pesquisar acerca do setor e das oportunidades que poderão existir no nosso país. Pesquise na internet, contacte a Associação Portuguesa de Franchise (APF) e leia revistas especializadas como a Negócios & Franchising. Pode ainda consultar o Instituto de Informação em franchising, a empresa responsável pela Expofranchise e que ministra alguns cursos nesta área.
Converse com outros franchisados
Quer já tenha escolhido o franchising que pretende abrir ou não, converse com outros antes de dar início ao processo. As melhores pessoas para lhe mostrar uma experiência real são outros franchisados.
Imagine que tem ideias de abrir um franchising da Nata Lisboa. Antes de assinar o contrato, procure conversar com outros empresários que já montaram o franchising deles. Sem ser demasiado intrusivo, explique está a recolher dados e informação e que gostaria de saber como foi todo o processo inicial e como tem sido a relação entre o franchisador e o franchisado. É verdade que provavelmente muitos não se mostrarão disponíveis para conversar consigo, mas o pior que pode acontecer é receber uma resposta negativa. De qualquer forma, recomendamos que não salte este passo e que procure o máximo de informação antes de avançar.
Escolha um franchisador, o local e o financiamento
É escusado dizer que em toda a pesquisa tem de haver espaço para uma análise do mercado. Tem inclinação para a área alimentar? Analise esse setor em concreto e estude bem a concorrência.
Sendo este um investimento não só de dinheiro como do seu tempo, o ideal é que escolha um setor com o qual se identifica e que melhor se adapta às suas rotinas familiares. No website da revista Negócios & Franchising encontra um instrumento para o ajudar a comparar rapidamente algumas das opções disponíveis em Portugal. Utilize-o para pesquisar por marca ou valor do investimento por área.
A partir daqui, analise o histórico da empresa, os sócios que possui, os serviços que disponibiliza enquanto franchisador, valores que cobra aos franchisados e todas as demais informações relevantes sobre o negócio. Só após todos estes passos é que se deve preocupar com a localização. A este respeito, tenha em conta os requisitos do negócio para a escolha da localização pois o mais certo é o local ter de ser aprovado antes de poder avançar. Além disso, faça as contas e perceba de quanto financiamento necessita inicialmente até começar a ter lucro. O ideal é que tenha pelo menos 30% a 50% do capital necessário para o investimento inicial de forma a evitar o endividamento.
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Negoceie e assine o contrato
Assinatura do contrato é o passo final do início do processo. Neste contrato devem constar: a identificação de ambas as partes, os direitos e as obrigações, bem como todas as condições da colaboração.
Nem todos os franchisadores têm abertura para negociação. Ainda assim, procure fazer-se acompanhar de um advogado especialista neste tipo de acordos. Será uma mais-valia, principalmente para garantir que compreende todos os pontos que constam no contrato. Este é um documento geralmente extenso, complexo e com vocabulário muito específico e, por isso, sem dúvida que irá beneficiar da ajuda de alguém que o ajude a compreender todos os termos.
Relativamente a legislação, em Portugal não existem normas legais específicas para este modelo de negócio. Comumente, segue-se o Código Deontológico Europeu que estipula as boas práticas esperadas no setor do franchising no espaço Europeu.
A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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