O tema da sustentabilidade está na moda? Atualmente, é um termo transversal, utilizado nos mais diversos contextos, da moda ao investimento, à cultura e até mesmo na religião. Contudo, será que sabe, mesmo, o que significa? Este conceito é, muitas vezes, confundido (e apenas relacionado) com sustentabilidade ambiental. E não é. É muito mais que ambiente, é conseguir perdurar no longo prazo.
Assim sendo, significa assegurar no presente as necessidades das pessoas, mas também das gerações vindouras. Ou seja, garantir que as futuras gerações vão ter acesso ao mesmos recursos que temos hoje. Mas, a dimensão da sustentabilidade não é apenas ambiental. Ainda que, tudo tenha começado aqui. Na verdade, este conceito apresenta quatro dimensões: económica, ambiental, social e institucional.
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Sustentabilidade e desenvolvimento sustentável
A palavra sustentável deriva da palavra latina, sustentare, que significa defender, favorecer, cuidar. A sua meta principal é a utilização racional dos recursos, de forma a suprir as necessidades da geração atual e das futuras.
Ainda que a sustentabilidade esteja agora na moda, o conceito não é novo e está muito associado à degradação ambiental. Por volta dos anos 70, teve início o debate sobre se os recursos atuais seriam capazes de assegurar o desenvolvimento das próximas gerações. Em 1972, decorreu a primeira conferência das Nações Unidas dedicada ao ambiente. Neste evento, foi debatido, pela primeira vez, o conceito e foram lançadas as bases para um novo modelo de desenvolvimento, um modelo de desenvolvimento sustentável.
Foi assim que, em 1987, surgiu, pela primeira vez, no Relatório de Brundtland, elaborado pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada no início da década de 80 pela Assembleia das Nações Unidas, uma referência ao desenvolvimento sustentável.
Para além da questão da degradação ambiental, este relatório sustentava que a pobreza nos países em desenvolvimento e o consumismo nos desenvolvidos (além do aquecimento global e da perda de biodiversidade), eram as causas que impediam um desenvolvimento igualitário.
Anos 90 e 2000: Sustentabilidade na prática
- Nos últimos 30 anos, o conceito de sustentabilidade teve grandes desenvolvimentos. Sobretudo, práticos. Nos anos 90 foram instituídas conferências mundiais, exclusivamente, dedicadas ao ambiente (Eco-92, no Rio de Janeiro);
- Seguiu-se a Agenda 21, em 1999, com um vasto leque de medidas focadas no ambiente e em políticas de desenvolvimento sustentáveis;
- Em 2000, as Nações Unidas apresentaram os 10 princípios de desenvolvimento do milénio que pretendiam ser os objetivos de desenvolvimento global, conhecida como a Declaração do Milénio;
- Em 2005, entrou em vigor o protocolo de Quioto, no qual as nações se comprometeram a reduzir as respetivas emissões de CO2.
- Já na última década surgiu a Estratégia Europa 2020, na qual a sustentabilidade é vista como um dos pilares do crescimento europeu. Destacam-se ainda os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, elencados na Agenda 2030 das Nações Unidas. Nesta última, são apresentadas metas claras para atingir cada um dos objetivos e aponta caminhos para "acabar com a pobreza no mundo até 2050"
- Em 2019, a União Europeia apresentou o Pacto Ecológico Europeu que visa alcançar, em 2050, a neutralidade carbónica e guiar os setores produtivos para esse grande objetivo comum.
- Em 2020, entrou em vigor o Acordo de Paris com metas mais ambiciosas para reduzir as emissões de dióxido de carbono.
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Dimensão ambiental
À primeira vista, a sustentabilidade ambiental parece estar ligada à necessidade de manter algo, durante o curto, médio e, especialmente, longo prazo, evitando, também, que se esgote determinada capacidade. Neste sentido, a dimensão ambiental da sustentabilidade também significa:
- Conservar e gerir os recursos naturais, especialmente, aqueles que são essenciais à vida ou que não são renováveis;
- Executar ações concretas no sentido de minimizar a poluição do ar, água e solo, preservar a biodiversidade;
- Promover o consumo e a produção ambientalmente responsáveis.
Vamos a um exemplo concreto? O lixo provocado pelo plástico, que não é biodegradável, enche não só notícias, mas também os oceanos. Por sua vez, os plásticos e microplásticos são ingeridos por peixes, com consequências para a sua saúde, mas também para a nossa e para a das futuras gerações. Em suma, a forma como se utilizam os bens e recursos naturais, para produzir e consumir, vai fazer a diferença.
Dimensão Social
Esta dimensão ganhou vigor com o já referido Relatório Brundtland. Os especialistas defendem que o desenvolvimento sustentável deve priorizar as pessoas. Na dimensão social da sustentabilidade, enquadram-se, por exemplo, os seguinte tópicos:
- Respeitar os direitos humanos e a igualdade de oportunidades de todos os indivíduos na sociedade;
- Conceber uma sociedade mais justa e inclusiva;
- Melhorar a distribuição equitativa e justa da riqueza para eliminar a pobreza.
- Respeito pelas comunidades locais e direcionar para elas os esforços de desenvolvimento;
- Reconhecer e respeitar a diversidade cultural;
- Evitar qualquer forma de exploração das comunidades e população mais vulnerável.
Dimensão Económica
Criar riqueza, para melhorar a qualidade de vida das populações, era vista como o fim último das sociedades. Mas, não a qualquer custo. Assim, o conceito de sustentabilidade económica está muito associado à ética, como defende a ativista Ana Roque. Mas não só. Também significa:
- Gerar prosperidade em diferentes níveis da sociedade;
- Tornar eficiente a atividade económica;
- Promoção de emprego de qualidade.
Dimensão institucional (Governance)
As sociedades são sistemas compostos por instituições. Nas quais, os seus intervenientes interagem. Esta dimensão, diz respeito à forma como as organizações e instituições são geridas.
Através do seu modelo de governnace, a empresa consegue antecipar riscos que podem comprometer o bom funcionamento. Especialmente, no longo prazo. Contudo, não se circunscreve apenas ao aspeto financeiro. Nesta dimensão, também estão presentes as formas como os diferentes agentes, internos e externos se relacionam. Logo, contempla elementos como códigos de ética, códigos de conduta, boas práticas de comunicação.
A visão longa da sustentabilidade
Também focada em assegurar o futuro, a sustentabilidade assume, assim, uma visão a longo prazo. O que só é possível graças à articulação das referidas quatro dimensões da sustentabilidade. Os especialistas defendem que, através de uma análise multidimensional, torna-se mais fácil prever riscos e atenuar as suas consequências.
Por exemplo, as alterações climáticas são, atualmente, o maior desafio global Não adianta ignorá-lo e já está a ter consequências para todos os agentes económicos: Estado, famílias, empresas. A visão de longo prazo da sustentabilidade requer mudanças estruturais na sociedade, especialmente, nos comportamentos de consumo e de produção. O paradigma de produção e consumo linear que vigorou até ao século XXI está a deixar de ser viável ecológica e financeiramente. Está a ser substituído por outro, o circular. Afinal, nada se perde, tudo se transforma.
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A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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