Conhece o provérbio popular "Pau que nasce torto, tarde ou nunca se endireita"? Aplica-se na perfeição às nossas finanças pessoais. Como já lhe expliquei em crónicas anteriores, a melhor forma de “endireitar” as suas contas passa por renegociar o que já tem contratado. É, na prática, a maneira de corrigir os seus gastos que nasceram “tortos”.
Nesta crónica, quero ajudá-lo a perceber que o segredo de ter ou manter a sua vida financeira equilibrada é dar um bom começo financeiro a todas as suas compras, despesas, contratos, etc. Ou seja, se conseguir sempre o que quer (seja um equipamento, um bem ou um serviço) ao melhor preço possível, não terá de ter esse trabalho monumental e por vezes hercúleo de ter de renegociar porque entretanto descobriu uma proposta melhor na concorrência.
Comparar coisas pequenas (e poupar alguns euros)
O melhor exemplo de como pode começar a ter esta atitude na sua vida é nas compras de supermercado.
Há quanto tempo não renegoceia todos os seus contratos?
Ao longo dos anos tenho vindo a alertar para a necessidade de nós (consumidores) estarmos sempre atentos para fazermos compras inteligentes. Já que temos de comprar, que o façamos com todo o rigor possível, como se fôssemos consumidores profissionais e não apenas "amadores".
Quase todas as semanas encontro exemplos disso. Veja este exemplo que mostra bem como temos de ser cuidadosos para não nos deixarmos levar pelas aparências.
Um consumidor precisava de comprar detergente para a roupa e deparou-se com duas embalagens da mesma marca rigorosamente iguais, na forma e no tamanho. Mas olhando para os autocolantes na parte de trás das embalagens, verificou que uma tinha menos 0,5 l que a outra. Uma continha 4 litros e a outra embalagem apenas 3,5 litros. Poderia acontecer levar para casa menos produto e mais caro, pensando que estava a poupar.
Estes pormenores fazem toda a diferença. A única forma do consumidor se proteger destas manobras de marketing é por escolher SEMPRE com base no preço por litro, quilo, dose e não por qualquer outro critério.
Já comprei caixas de bombons que pareciam "gigantes" e que, ao abrir, tinham apenas meia dúzia espalhados no interior. Era mais ar do que bombons. Desde então escolho também os bombons pelo preço por quilo (entre os que quero comprar, obviamente).
A mesma coisa com os iogurtes líquidos. Todas as embalagens têm praticamente o mesmo tamanho. Mas experimente comparar a quantidade que têm dentro. Vai ter várias surpresas. Veja o preço por litro.
Subindo de campeonato, pode comprar exatamente o que quer com melhor qualidade se comprar a granel (ou avulso) em vez de embalado em plástico ou vidro.
Noutros casos, na mesma loja consegue comprar o mesmo tipo de produto a metade do preço. Basta espreitar a prateleira de baixo ou de cima.
Este critério de comparar sempre antes de comprar um produto e escolher a melhor qualidade possível ao preço mais baixo é a estratégia das pessoas com inteligência financeira. Não é não comprar para poupar. É comprar o que quero, gastando o mínimo possível.
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Comparar coisas grandes (e poupar dezenas de milhares de euros)
Isto aplica-se a tudo. A maior compra de todas é a casa. Comparou entre 5 ou 10 bancos antes de fazer o seu crédito à habitação? Achou que dava muito trabalho? Perguntou apenas ao seu gestor de conta e assinou de cruz o que ele lhe propôs? Não estava disposto a abrir conta num banco que não conhecia e por isso nem pediu uma simulação?
Se não fez esse estudo de mercado, provavelmente perdeu - à partida - dezenas de milhares de euros. Foi um pau que nasceu torto. Para o endireitar vai ser uma carga de trabalhos.
Dá mesmo valor ao seu dinheiro?
O mesmo critério de comparação deve ser aplicado antes de fazer um seguro, seja de vida, automóvel, de saúde, etc. Pesquise em 5 ou 10 seguradoras e só assina quando tiver a certeza de que tem as melhores coberturas pagando o menor prémio possível.
Tenha a mesma atitude em relação à eletricidade, ao gás, às telecomunicações, e na compra de qualquer eletrodoméstico, telemóvel ou computador.
Só depois de ter a certeza de que é a melhor compra possível é que avança com a compra. Ora, isto é exatamente o oposto das compras por impulso ou feitas à pressa.
A falta de planeamento é um dos principais defeitos que identifico nos consumidores portugueses. Se eu planear a compra de um carro (novo ou usado) para daqui a 3 anos terei todo o tempo do mundo para escolher o modelo que quero, com os extras que quero, com os quilómetros que quero, e tenho tempo para escolher o melhor crédito ou até mesmo para juntar o dinheiro para o comprar a pronto e assim poupar (ficar no meu bolso) alguns bons milhares de euros porque não vou ter de pagar juros, seguros e taxas e taxinhas aos bancos, caso tenha de pedir um crédito durante 6, 7 ou 8 anos.
Use os comparadores na internet antes de comprar ou contratar
Use comparadores de preços que estão na internet, ou no nosso telemóvel quando estamos em frente a um produto, como o KuantoKusta ou o comparador de preços da DECO.
Tem comparadores de tudo na internet, nomeadamente para créditos e seguros. O importante é ter noção dos preços praticados no mercado para que, quando tiver de decidir, faça desde o primeiro dia a melhor opção para si. O importante é chegar a casa e não se sentir "enganado" uma semana ou um mês depois.
Faça compras e assine contratos com inteligência. Pode até nem se aperceber, mas estará a poupar sem nenhum esforço. Ao fazer inicialmente a melhor escolha do mercado, é dinheiro que ficou no seu bolso. Fazer boas escolhas à primeira é aumentar-se a si próprio sem se aperceber.
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Pedro Andersson nasceu em 1973 e apaixonou-se pelo jornalismo ainda adolescente, na Rádio Clube da Covilhã. Licenciou-se em Comunicação Social, na Universidade da Beira Interior, e começou a carreira profissional na TSF. Em 2000, foi convidado para ser um dos jornalistas fundadores da SIC Notícias. Atualmente, continua na SIC, como jornalista coordenador, e é responsável desde 2011 pela rubrica "Contas-Poupança", dedicada às finanças pessoais. Tenta levar a realidade do dia a dia para as reportagens que realiza.
A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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