Portugal ficou em 7.º lugar no indicador global de literacia financeira, que analisou 26 países em 2020, registando resultados acima da média neste indicador global e nos indicadores de atitudes e comportamentos financeiros.
Também nos indicadores de resiliência financeira os resultados foram particularmente positivos, tendo em conta, que no período antes da pandemia da Covid-19, os portugueses evidenciaram uma capacidade acima da média para enfrentar choques financeiros, previsíveis (como a reforma) ou imprevisíveis (por exemplo, o desemprego).
Estes são os principais resultados obtidos pelo nosso país no 3.º Inquérito à Literacia Financeira da População Portuguesa, realizado antes da pandemia do Covid-19, pelo Conselho Nacional de Supervisores Financeiros (CNSF), no âmbito do Plano Nacional de Formação Financeira.
Esta iniciativa enquadra-se no exercício de comparação internacional dos níveis de literacia financeira dinamizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), através da International Network on Financial Education (INFE).
As entrevistas do 3.º Inquérito à Literacia Financeira da População Portuguesa foram realizadas porta-a-porta, em todo o território nacional. A amostra incluiu 1.502 entrevistados, com 16 ou mais anos, e foi estratificada de acordo com critérios de género, idade, localização geográfica, situação laboral e nível de escolaridade.
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Quem é o português mais, e melhor, informado?
Os grupos da população que apresentam os melhores resultados de literacia financeira têm idades entre 25 e 54 anos, ensino secundário ou ensino superior, são trabalhadores e vivem em agregados familiares com rendimento líquido mensal superior a 1.000 euros.
Em contrapartida, os grupos da população com menores níveis de literacia financeira são os mais seniores e os que têm menores níveis de escolaridade e de rendimento.
Do orçamento familiar à poupança. Portugueses estão mais proativos
Os resultados positivos de Portugal nos referidos indicadores assentam nos hábitos de planeamento do orçamento familiar e da poupança, destacando-se os seguintes:
A maioria dos entrevistados (80,8%) demonstra preocupação com o planeamento e controlo do orçamento familiar. 65% referem ter poupado no último ano (uma descida face aos 68,3% registados em 2015);
Cerca de 61% afirmam ter capacidade de pagar uma despesa inesperada de montante equivalente ao seu rendimento mensal sem ter de pedir dinheiro emprestado ou a ajuda de familiares ou amigos. Um pouco mais (aproximadamente 62%), referem ter rendimento suficiente para cobrir o seu custo de vida (proporções semelhantes às de 2015);
Há pouca tendência para as compras por impulso e para comportamentos associados a situações de incumprimento (a proporção de entrevistados que não pagou as suas contas ou pagou fora de tempo diminuiu de 10,9% em 2015, para 4,3%, em 2020);
Cerca de um quarto afirma que, se perdesse a principal fonte de rendimento, conseguiria pagar as suas despesas por um período igual ou superior a 6 meses (13,7% em 2015).
A proatividade na aplicação de poupança aumentou em relação a 2015. Cerca de um terço dos inquiridos continua a referir que aplicou dinheiro em depósitos a prazo e aumentou a proporção dos que investem em ações, obrigações ou fundos de investimento (9,4% em 2020 e 3,9% em 2015). Em alguns casos foi referido ainda o investimento em criptoativos (moeda digital) ou em ofertas de distribuição inicial de criptoativos (Initial Coin Offerings ou ICOs).
Também subiu a proporção dos que demonstram confiança no planeamento da reforma (43,9% em 2020 e 36,9% em 2015), bem como dos que referem que irão financiar a sua reforma através de um plano de poupança privado ou de um fundo de pensões constituído pela empresa onde trabalham.
As fontes mais utilizadas para obter informação sobre produtos financeiros continuam a ser os conselhos dados ao balcão da instituição e de familiares ou amigos. É de destacar o crescente recurso à internet, apontada por cerca de um quarto dos participantes neste inquérito sobre literacia financeira (rondava os 11% em 2015).
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Conhecimentos financeiros e riscos: Um caminho a melhorar
Neste estudo sobre literacia financeira, os resultados de Portugal ficam abaixo da média dos países participantes no exercício de comparação internacional no indicador de conhecimentos financeiros.
A posição do país em termos de conhecimentos financeiros está associada a questões de numeracia financeira, uma vez que menos de metade dos entrevistados (42,5%) calcula corretamente juros simples, proporção que desce para 31% nos juros compostos. Ainda assim, a generalidade (87,4%) responde corretamente ao valor de juros a pagar num empréstimo de 25 euros por um dia e mais de metade (55,5%) reconhece a perda de poder de compra decorrente da inflação.
Em matéria de retorno e risco de investimento, 71,6% refere, acertadamente, ser verdadeira a afirmação “um investimento com um elevado retorno tem geralmente associado um elevado risco”. Menos de metade dos entrevistados (45,1%) reconhece a relação entre risco de investimento e diversificação da carteira, ao concordarem com a afirmação “geralmente é possível reduzir o risco de investimento no mercado de capitais se comprarmos um conjunto diversificado de ações”.
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