Ainda que a cada estação do ano, regresse a tentação de comprar novas peças de roupa, não estará na altura de tornar o seu guarda-roupa sustentável? Mais uma t-shirt, mais um casaco ou um par de calças de ganga... porque aquilo que está no guarda-roupa já não agrada, mesmo que só se tenha usado uma ou duas vezes. E as montras exibem tendências difíceis de resistir, sobretudo novas coleções que agora são às dezenas, e durante todo o ano, ao contrário das tradicionais primavera-verão e outono-inverno.
A nova dinâmica do mundo da moda também é responsável pelo aumento acentuado do consumismo. Segundo os números da Agência Europeia do Ambiente, em 2017, os europeus compraram 6,4 milhões de toneladas de roupa e a tendência é continuar a aumentar.
Devido ao crescente aumento do consumo, o impacto da indústria têxtil no ambiente nunca foi tão forte. E faz-se sentir desde a produção da matéria-prima, à utilização de água e consequente poluição (devido ao tingimento e tratamento dos materiais), até à emissão de CO2 durante o transporte da roupa.
Aliado à poluição da água, do ar e do solo, o consumismo aumenta também exponencialmente a produção do lixo. Só em Portugal, por ano, os consumidores deitam fora cerca de 200 mil toneladas de têxteis, de acordo com as informações avançadas pela Agência Portuguesa do Ambiente.
A indústria têxtil é assim uma das mais poluentes do mundo. Contudo, é possível reduzir estes números através de pequenos comportamentos, nomeadamente, com a criação de um guarda-roupa sustentável e duradouro. Descubra como fazê-lo.
Faça uma triagem
O primeiro passo para criar um guarda-roupa sustentável e duradouro é conseguir desapegar-se da roupa que não usa ou não precisa. Frequentemente, guardamos peças que não usamos na esperança de que fiquem novamente na moda ou que nos voltem a servir. Porém, estes pensamentos fazem com que guardemos artigos pouco úteis, que vão apenas ocupar o armário.
Assim, abra o guarda-roupa e faça uma lista de peças que já não têm lugar no seu armário. Para ajudar neste processo, coloque a si próprio as seguintes questões:
- Quando foi a última vez que vesti?
- Ainda serve?
- Está em boas condições, ou seja, sem buracos ou outros danos?
- Quantas combinações de roupa posso fazer com esta peça?
Com as respostas a estas perguntas consegue filtrar as roupas que realmente usa das que estão unicamente a ocupar espaço.
Venda ou doe as peças que já não usa
Depois de selecionar a roupa que já não usa, tem de dar uma nova vida a essas peças. Primeiro, pergunte a amigos e familiares se estão interessados em algum artigo. Depois, pondere a hipótese de doar a roupa. Em todas as cidades, existem IPSS (Instituições Particulares de Solidariedade Social) locais que recebem vestuário e distribuem-no pelas famílias mais carenciadas do município. Além disso, pode doar para associações que atuam a nível nacional, como a Comunidade Vida e Paz ou Ajuda de Mãe, que distribuem roupa pelos sem abrigo e pelas famílias em situações de dificuldade.
Se não quiser doar a sua roupa, pode optar por vendê-la. Atualmente, são cada vez mais as plataformas online e feiras físicas que permitem a venda de roupa em segunda mão, de forma eficaz e segura. Esta é uma ótima solução para quem procura ganhar algum rendimento extra com as peças que já não usa.
Pode também aproveitar as iniciativas de algumas marcas de fast fashion, como o Programa de Recolha de Vestuário da H&M, através do qual recebe um cupão de agradecimento para descontar na sua próxima compra, em troca da sua roupa usada. Também a C&A disponibiliza o Programa We Take it Back, que dá uma nova vida ao seu vestuário e calçado antigo e ainda lhe oferece um cupão com 15% de desconto para usar posteriormente. Por último, também a Zara dispõe de um Programa de Recolha de Roupa, que recicla ou doa as suas roupas usadas para várias instituições, como a Cáritas, Cruz Vermelha e Casa da Amizade.
Recicle roupa
Só porque uma peça de roupa tem um buraco ou não tem um botão, não significa que perdeu o seu valor. Antes de se desfazer de um artigo pode tentar arranjá-lo, costurá-lo ou transformá-lo em algo diferente. Por exemplo, pode transformar umas calças de ganga em calções, um casaco num colete; ou uma t-shirt numa camisola de alças. Pode fazer imensas alterações nas suas peças antigas e acrescentar-lhe um valor único.
Em último recurso, caso a peça esteja demasiado danificada ou completamente fora do seu estilo, pode sempre transformar o artigo num pano de limpeza.
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Planeie as futuras compras para criar guarda-roupa sustentável
Ao "libertar-se" da roupa que já não usa, vai conseguir ter uma melhor visão sobre o seu armário e do vestuário que possui. Assim, antes de voltar a comprar, organize o seu guarda-roupa. Distribua as peças para que consiga ver facilmente tudo o que possui e assim criar várias combinações.
Caso tenha de adquirir roupa, planeie a compra antes, para evitar comprar por impulso. Por exemplo, se se sentir tentado a comprar uma peça, confirme se combina com o vestuário e calçado que já possui ou se obriga a mais uma compra.
Para além disso, calcule o "custo por utilização" de cada artigo. Segundo esta teoria, o valor de cada objeto está relacionado com o número de vezes que será utilizado. Por exemplo, um vestido de 50 euros que só vai usar uma vez num casamento é um mau investimento comparativamente a um vestido de 100 euros que pode usar, não só na cerimónia, como para trabalhar.
Compre peças básicas
Tenha sempre peças básicas no seu guarda-roupa sustentável. Estes artigos permitem criar diversas combinações e são facilmente conjugados com outras peças mais vibrantes.
Além de sustentáveis, as peças de roupa básicas são também as mais rentáveis. Aliado ao preço acessível consegue usufruir diversas vezes da roupa. É um ótimo aliado para o seu armário sustentável.
Invista em peças duradouras para um guarda-roupa sustentável
Não só de artigos básicos e mais acessíveis deve viver o seu guarda-roupa. Invista em vestuário e calçado de materiais duradouros e sustentáveis. Embora sejam mais caras, estas peças vão durar mais tempo e, provavelmente, terão tido um menor impacto ambiental.
Paralelamente, ao comprar roupa de marcas de renome está também a adquirir peças intemporais de qualidade. Assim, não terá a vontade de comprar novos artigos só porque não combinam com a nova coleção das marcas de fast fashion.
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Compre roupa em segunda mão
Outra ação importante para criar o seu guarda-roupa sustentável é recorrer a lojas de roupa em segunda mão. Nestes espaços, e plataformas, consegue encontrar roupas intemporais, de marcas de renome, a um preço mais acessível. Além de economizar com a compra de peças, numa poupança que pode chegar aos 80%, está também a aumentar o ciclo de vida do vestuário, interrompendo o ciclo descartável da indústria, e a adquirir peças originais.
Pode ainda visitar mercados locais e lojas físicas de roupa em segunda mão. Em quase todas as cidades, existe um espaço, ou feiras de antiguidades ou velharias, que vendem peças de roupa usadas. Procure na sua cidade e poderá descobrir várias opções.
Também pode aceder a plataformas destinadas à venda de roupa em segunda mão. Experimente sites como Micolet, Retry, ECOA, My Cloma, entre outros, e conheça as diferentes comissões e processos de transação.
Nas redes sociais, através do Marketplace, grupos ou páginas, e em sites como OLX e Custo Justo também pode encontrar roupa em segunda mão. Porém, nestes casos, ao comprar a particulares, pode não existir uma salvaguarda de reembolso, caso a peça esteja danificada ou não corresponda à realidade.
Alugue peças formais
São muitas as ocasiões que obrigam a um vestuário mais formal. Porém, a compra de peças ajustadas às cerimónias muitas vezes são de utilização única, pois não se adequam ao quotidiano. Além de ser usada apenas uma vez, a roupa formal acaba por ser mais cara que o vestuário informal. Assim, o já referido "custo por utilização" destas peças é bastante alto. Uma forma de evitar a compra de roupa de cerimónia é optar por alugar.
Embora ainda não seja uma prática corrente, já existem diversas lojas online e físicas que permitem o aluguer de peças, maioritariamente, de cerimónia. Por exemplo, no Aluguer Cerimónia, Vou Casar, Aluguer Diadema e Big Closet pode alugar fatos, vestidos e malas de cerimónia para homens e mulheres. Nas duas últimas plataformas, tem também a oportunidade de comprar o vestuário e acessórios, em segunda mão, ou final de coleção.
Para as futuras mães e recém nascidos também existe uma plataforma que permite o aluguer. Por exemplo, o site Mom-to-Mom disponibiliza roupa de grávida e criança, até aos 5 anos, que pode ser entregue quando já não for necessário e a plataforma reembolsa pelo tempo não usado.
Tenha atenção às etiquetas e escolha roupa sustentável
Por último, para ter um guarda-roupa sustentável terá de ter muita atenção às etiquetas. O ideal seria investir apenas em vestuário de materiais biodegradáveis, como cânhamo, viscose à base de madeira, fibra de viscose extraída do caule da rosa ou bambu.
Também a roupa de material reciclado, como de algodão ou a partir do plástico de garrafas de água, é cada vez mais comum. As marcas de fast fashion têm apostado em coleções sustentáveis para despertar a atenção do seu público.
Para além dos materiais, é importante ter em conta as indicações disponíveis na etiqueta. Verifique as informações sobre lavagem e tratamento de cada peça e utilize produtos naturais. Desta forma, os artigos serão conservados em melhor estado, por mais tempo, sem recorrer a químicos abrasivos de lavagem.
Estas dicas petendem, assim, ajudá-lo a ter um consumo consciente, e a fazer melhores escolhas, a nível financeiro e sustentável, bem como a gastar menos e a quebrar o ciclo descartável da moda. Um guarda-roupa sustentável, além de permitir combater o consumismo e a fast fashion, poderá permitir uma diminuição nas despesas de roupa.
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A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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