O mês de julho foi particularmente volátil. O receio da inflação voltou a estar presente, com os diferentes indicadores a apontarem para um crescimento (mais) sustentado dos preços de bens e serviços de uma forma generalizada. Apesar desta evolução, as entidades oficiais (Bancos Centrais) continuam a apresentar um discurso dovish, com muita precaução e que continua a sinalizar um grande apoio à economia, através da manutenção dos enormes pacotes de compras mensais de ativos e de taxas de referência em valores mínimos.
São muitos os economistas que começam a questionar o caminho que os Bancos Centrais continuam a seguir e a comunicar, porque a realidade é que a atividade económica está a ganhar muita tração e corremos o risco de a sobreaquecer, o que no limite poderá obrigar as entidades competentes a agir muito rapidamente (através da subida de taxas de juro).
Julho foi ainda marcado pelo crescimento da variante Delta, com o aumento do número de casos de Covid de uma forma generalizada. Nos países mais vacinados, apesar de os casos estarem a aumentar, os internamentos estão controlados, o que por si só é uma boa notícia. De qualquer forma, esta insegurança permanente em torno do covid, acaba por ter influência na forma como os investidores se posicionam no curto e médio prazo.
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Potencial intervenção da China gerou pânico
O que acaba por marcar o mês de julho nos mercados financeiros e nas nossas carteiras foram os rumores em torno do aumento de regulação por parte da China nas empresas tecnológicas (sobretudo no sector da educação). Dúvidas em torno da forma como o governo chinês poderá ou não intervir na regulação destas empresas, através da aplicação de multas pesadas, da retirada de certas apps de determinadas empresas do mercado (como aconteceu com a empresa DIDI, líder na China), da nacionalização de empresas, ou mesmo, da retirada de empresas chinesas das bolsas americanas.
Estes rumores/notícias não confirmadas oficialmente, geraram uma venda indiscriminada de tudo o que está ligado à China. Em três dias tivemos quedas de 20% nas maiores empresas chinesas, tais como Alibaba, Tencent, Baidu, JD, entre outras. O pânico instalou-se e muito mais do que tentar perceber o valor das empresas, muitos investidores quiseram sair de um mercado com muito potencial, mas que está condicionado por questões políticas.
Carteiras de investimento refletiram este ambiente
Este facto acabou por ter uma influência determinante na evolução das nossas carteiras. O perfil dinâmico foi muito penalizado, por ter 20% de exposição de uma forma abrangente ao mercado asiático.
Economia e mercados financeiros num contexto Covid-19
Em termos de performance, o perfil dinâmico fechou o mês com -0,3%. Já o perfil moderado, por ter uma exposição mais reduzida ao mercado asiático (penalizou menos o conjunto da carteira) e por o segmento obrigacionista ter tido um comportamento muito positivo no mês em questão, valorizou 1,4%.
Os ativos indexados à inflação – inflation linked – apresentaram uma evolução muito positiva, assim como as treasuries (obrigações) americanas que acabaram por ter uma boa valorização, primeiro como ativo de refúgio (quando a volatilidade aumentou) e segundo, pela confirmação por parte da Reserva Federal Americana que irá continuar a efetuar compras mensais por um período alargado, quando a expectativa era contrária.
Em termos gerais, desde que iniciámos as carteiras (março de 2021), de uma forma ponderada e racional, a evolução tem sido positiva, com o perfil moderado a apresentar 6,1% e o perfil dinâmico 5,6% de valorização.
Leia o texto que explica a composição das carteiras e os balanços dos meses anteriores:
- A constituição de uma carteira de investimento
- Março: Carteira de investimento com um bom desempenho
- Abril: Segundo mês de ganhos para as carteiras de investimento
- Maio: Perspetivas provocam um mês neutro nas carteiras de investimento
- Junho: Bancos Centrais e economia animam carteiras de investimento
Perfil Moderado
A carteira com o perfil de investimento conservador fechou, assim, o mês com um ganho de 1,41%, com destaque para os desempenho das obrigações. Do lado oposto, o mercado de ações emergentes acabou por travar os ganhos, como é visível na imagem em baixo.
A composição da carteira com perfil moderado/conservador:
Perfil Dinâmico
Já a carteira com um perfil dinâmico, tal como referido antes, registou uma desvalorização de 0,3% ao longo de julho, com as quedas observadas nos mercados emergentes a anularem os ganhos conseguidos no mercado obrigacionista.
A composição da carteira com perfil dinâmico:
Gestão equilibrada e diversificada da carteira de investimento
Por fim, queremos realçar a importância de perceber onde se está a investir e que os mercados financeiros têm duas direções, para cima e para baixo. É importante não entrar em euforias e continuar a ter uma gestão equilibrada e diversificada.
Para investir é preciso ter muito dinheiro?
A evolução da Covid-19 tem trazido alguns extremos aos mercados financeiros e expressões como FOMO (fear of missing out) ou TINA (There is no alternative) têm sido frequentes e têm gerado uma enorme corrida aos diferentes segmentos dos mercados financeiros.
Alertando para extremos, o que pretendemos é explicar que o sentimento positivo pode transformar-se em sentimento negativo de uma forma abrupta, como aconteceu este mês com os ativos da China. Como tal, é fundamental ter sempre uma atitude prudente e fundamentada nos nossos investimentos.
Nota: As carteiras do Doutor Finanças não são nem devem ser entendidas como um conselho a investir neste ou naquele tipo de instrumento financeiro. As nossas carteiras foram criadas apenas para permitir ilustrar quais os riscos e os benefícios potenciais de investir, direta ou indiretamente, em instrumentos financeiros como ações e obrigações.
A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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