O Certificado Energético de uma habitação é uma ferramenta fundamental na hora de comprar casa. Este documento pode ser decisivo quando devidamente ponderado na balança com os demais fatores que, naturalmente, já valoriza num imóvel.
Por exemplo, sabia que no mesmo prédio existem apartamentos com Classes Energéticas totalmente distintas? É verdade. Até já pode ter decidido em que edifício quer comprar, mas comparar o Certificado Energético dos apartamentos disponíveis pode poupar-lhe muitos euros na fatura energética mensal.
Então, no mesmo prédio podem existir frações com Classes Energéticas tão distintas como a Classe E e a Classe A? Sim, isso pode acontecer. Pelas mais diversas razões. Vamos falar-lhe de algumas.
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O que influencia a classe energética?
As frações não têm todas a mesma orientação solar e, portanto, umas terão mais ganhos solares do que outras, o que fará com que o seu comportamento no inverno e no verão seja diferente.
No caso de se tratar de um edifício mais antigo, o mais provável é que se encontrem apartamentos que já sofreram algumas intervenções. Uns ainda têm os vãos envidraçados originais, com caixilharia simples e vidros simples, e outros já têm caixilharia dupla ou vidro duplo, o que quer dizer que os tais ganhos solares e as trocas térmicas entre o interior e o exterior são geridas de forma completamente diferente.
Outra razão importante é o facto de as frações não terem todas as mesmas condições de fronteira. Isto é, um apartamento que está entre outros apartamentos terá, necessariamente, um desempenho energético superior ao de um apartamento com muitas paredes exteriores ou paredes, pavimentos ou coberturas em contacto com outros espaços comuns do prédio (zonas de circulação, caixas de escadas ou elevadores, garagens, etc.).
Sistemas de climatização
Também os sistemas de climatização podem ser diferentes no mesmo prédio. Aquecimento central, ar condicionado, ou até a ausência de qualquer sistema, têm influência no desempenho da habitação na proporção da sua eficiência. O sistema de preparação de águas quentes sanitárias (AQS), que pode ir do simples termoacumulador elétrico, ao esquentador ou caldeira a gás, até à utilização mais recente, e eficiente, da bomba de calor.
Como assumimos que íamos referir apenas algumas razões, vamos fechar com uma que todos já deveríamos saber: sistemas solares térmicos para produção de água quente sanitária constituem uma das tecnologias mais eficazes na redução da fatura energética!
A produção de água quente sanitária corresponde a, grosso modo, 1/4 de toda a energia que usamos em nossas casas. Sistemas solares térmicos podem reduzir facilmente o custo com a produção de água quente em cerca de 75%.
Se comprar uma casa dotada de um sistema solar térmico poderá orgulhar-se de fazer parte do grupo restrito das 7,7% das habitações portuguesas que estão dotadas destes sistemas de aproveitamento de energia renovável (fonte: INE/DGEG/ADENE - Inquérito ao Consumo de Energia no Sector Doméstico (2020)).
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Atenção à renovação do ar
Não se esqueça que outro ponto que não deve nunca deixar de avaliar é o grau de estanquicidade da habitação. Claro que a entrada de ar proveniente do exterior, por princípio, vai aumentar o consumo de energia mas, a renovação de ar dos espaços é fundamental para a salubridade dos mesmos, por isso deve procurar imóveis que estejam dotados de sistemas de controlo da entrada do ar, como por exemplo, grelhas nos vãos envidraçados.
O que analisar no certificado energético?
Peça sempre o Certificado Energético e leia-o com atenção! Quando estiver a analisar o Certificado Energético, não olhe apenas para a Classe Energética, veja também os três outros indicadores que têm grande destaque na primeira página do documento: ‘Aquecimento Ambiente’, ‘Arrefecimento Ambiente’ e ‘Água Quente Sanitária’.
Estes três indicadores mostram, de forma rápida se a habitação é melhor ou pior relativamente às condições de referência. Isto vai dar-lhe uma ideia do nível de conforto para o inverno e para o verão. Na segunda página encontra também a qualidade da envolvente (paredes, coberturas, pavimentos e janelas), com uma escala de estrelas muito simples.
Não precisa ser ‘expert’ na matéria, usando o Certificado Energético é muito fácil comparar a qualidade das paredes, pavimentos, coberturas e janelas: mais estrelas: melhor qualidade, menos estrelas, menor qualidade.
Para além destes fatores, o Certificado Energético aponta também um conjunto de eventuais medidas de melhoria que pode implementar caso pense em fazer obras de remodelação, com a grande vantagem de conter nele uma estimativa dos custos de investimento e de poupança com cada medida, bem como o impacto que cada uma delas tem na Classe Energética.
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Quando é que o Certificado Energético é obrigatório?
O Certificado Energético é obrigatório desde o momento em que uma habitação é colocada no mercado para venda ou arrendamento, pretendendo-se que o comprador ou arrendatário possa fazer uma aquisição energeticamente informada!
Anúncios de venda ou arrendamento de imóveis sem informação sobre a classe energética, ou com a indicação que a mesma está ‘em curso’, não são permitidos por lei.
Não há razão para não conhecer, à partida, o desempenho energético da casa que está a pensar comprar.
Francisco Pacheco Craveiro é engenheiro mecânico pela Faculdade de Engenharia de Universidade do Porto. Trabalha com edifícios e para a melhoria do seu desempenho energético liderando processos de auditoria energética e elaborando Planos de Racionalização de Energia sendo, não só, Perito Qualificado do Sistema de Certificação Energética mas também, Certified Measurement and Verification Professional (CMVP). É CEO da G3E, empresa vocacionada para a consultoria energética em grandes edifícios de comércios e serviços e cofundador da peritosqualificados.pt, a primeira plataforma de pesquisa e contratação online de serviços de Certificação Energética de edifícios de habitação existentes em Portugal.
A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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2 comentários em “Vai comprar casa? O Certificado Energético ajuda a escolher”