Setembro foi o primeiro mês que apresentou uma performance realmente negativa desde que iniciámos as nossas carteiras (março de 2021). Conforme temos vindo a mencionar, os mercados tanto oscilam para cima, como para baixo.
A realidade é que os últimos doze meses podem estar enquadrados nos melhores de sempre em termos de performances. Índices acionistas, obrigações, commodities, tudo tem vindo a subir em simultâneo ou de uma forma faseada.
Se analisarmos o período pré-covid, com exceção da China (por vários motivos que temos vindo a apresentar), dificilmente encontraremos um índice acionista ou obrigações governamentais com um preço inferior a 2019. Tal facto justifica-se por aquilo que temos vindo a reforçar de uma forma consistente, que se baseia na dimensão das políticas monetárias encetadas pelos Bancos Centrais, fazendo com que exista liquidez em excesso, sendo que uma grande parte foi canalizada para os mercados financeiros, onde assistimos a valorizações de empresas desproporcionadas e sem uma justificação económica sustentada.
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Definir objetivos
Um bom investimento pressupõe alguns fatores fundamentais: objetivos de médio/longo prazo bem definidos e a procura de ativos de qualidade, que em conjunto e de uma forma diversificada, possam constituir um portefólio que apresente um binómio retorno/risco compensador.
Claro que é fundamental estar atento ao contexto que estamos a atravessar, de forma a podermos “afinar” as nossas opções. Mas mais importante é perceber que um investimento para dar frutos, tem de ter uma lógica de médio/longo prazo. Investir para conseguir resultados num curto espaço de tempo não é investir com base em fundamentais, porque conforme temos vindo a referir, não há dinheiro fácil.
Saber onde e porquê
Também sabemos que o investidor tem de ter duas características muito importantes: Perceber onde está a investir e a importância dos ativos no seu património e, ao longo da viagem que é o investimento, saber gerir as emoções. Este último ponto é muito importante e nem todos lhe dão o devido valor. Quando a carteira sobe, o investidor sente-se confortável, não coloca em causa o processo, os ativos ou a valia do investimento. Quando acontece o inverso, muitos investidores começam a ficar desconfortáveis, questionam a estratégia de investimento ou o porquê de terem tomado certas decisões.
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Temos constantemente vindo a alertar para estas situações. É muito importante que quando investimos, tenhamos bem a noção de onde o estamos a fazer e porquê. Sentirmo-nos confortáveis com a nossa carteira tem uma importância fundamental na nossa consciência e na possibilidade de podermos obter uma boa rentabilidade no futuro.
Se tivermos uma visão clara do que temos, uma desvalorização da nossa carteira, pode ser uma oportunidade para reforçar posições a preços mais interessantes. Claro que para o fazermos, temos de o saber justificar!
Performance das carteiras
Ao contrário do mês passado, praticamente todos os ativos apresentaram uma performance negativa. Na vertente acionista podemos justificar esta performance por vários motivos, alguns dos quais temos vindo a abordar ao longo destes meses.
China – foco de instabilidade
O possível default da Evergrande veio agudizar o sentimento que os investidores têm relativamente à China. A possibilidade de contágio desta empresa para a economia chinesa e mesmo para o restante globo, fez com que tivéssemos alguma volatilidade adicional, que se foi fazendo sentir ao longo do mês.
Naturalmente que a China foi o mercado mais afetado, não só por causa desta questão, mas também devido ao tema da regulação do sector tecnológico por parte do governo chinês que está a assustar os investidores relativamente às medidas que podem vir a ser apresentadas.
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Inflação, tapering e taxas de juro
Outro tema que tem vindo a ganhar cada vez mais influência é a inflação, que poderá ser o motivo mais forte para os Bancos Centrais iniciarem a subida de taxas de juro. Esta questão poderá ter um grande impacto nos mercados, porque, conforme referimos anteriormente, muitas das valorizações atuais são suportadas pelas políticas monetárias em vigor e não por crescimentos sustentados de empresas.
O (importante) papel dos Bancos Centrais nas nossas poupanças
O tapering (redução de compra de ativos por parte dos Bancos Centrais) é mais um tema importante, apesar deste, até ao momento, ser mais pacífico e estar perto de ser implementado.
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Sintonia nas classes de ativos
Por norma, em momentos de maior volatilidade, as ações caem e as obrigações sobem. A verdade é que, conforme também vimos mencionando, os mercados têm apresentado comportamentos diferentes, com as obrigações e as ações a “caminharem” na mesma direção. Este desempenho obriga-nos a ter um cuidado adicional nas nossas escolhas.
Em termos práticos, nas nossas carteiras, até o segmento obrigacionista teve um comportamento negativo, justificado pela perceção dos investidores, que apesar de uma retórica muito dovish por parte dos Bancos Centrais, assumem que o tapering e a subida de taxas de juro estão próximas, sendo que muitos já estão a antecipar estes movimentos nos seus portefólios.
Em resumo, as nossas carteiras, apesar de continuarem a apresentar uma boa performance global, tiveram um mês negativo. A moderada caiu 0,96% e a dinâmica perdeu 1,27%.
Ainda assim, analisando o desempenho das carteiras desde o início (março de 2021), o retorno continua positivo em mais de 5% nos dois perfis de investimento.
Desempenho da carteira com perfil moderado
A composição da carteira com perfil moderado:
Desempenho da carteira com perfil dinâmico
Nota: As carteiras do Doutor Finanças não são nem devem ser entendidas como um conselho a investir neste ou naquele tipo de instrumento financeiro. As nossas carteiras foram criadas apenas para permitir ilustrar quais os riscos e os benefícios potenciais de investir, direta ou indiretamente, em instrumentos financeiros como ações e obrigações.
A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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