Portugal atravessa mais um período de seca em pleno inverno. De acordo com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), no final de janeiro, mais de metade (53,7%) do território do continente estava em situação de seca moderada, 34,2% em seca severa e 11,5% em seca extrema, sendo as regiões do Alentejo e Algarve as mais afetadas.
A escassez de água é cada vez mais um problema que afeta o nosso país, com as disponibilidades de água a sofrerem uma redução de 20% nos últimos 20 anos, segundo informação divulgada pela Agência Portuguesa do Ambiente, mas é sobretudo um problema global para o qual é urgente tomar medidas.
Portanto, o desafio é poupar este recurso essencial de forma a podermos continuar a contar com ele no futuro sendo que, cada um de nós pode e deve dar um contributo fundamental nesse sentido, reduzindo a pegada hídrica individual.
O que é a pegada hídrica?
A pegada hídrica é uma forma de medir a quantidade de água (em litros ou metros cúbicos) necessária para produzir serviço ou um bem de consumo. Pode ser calculada para um produto, uma pessoa, empresa, comunidade, país ou para toda a humanidade.
O objetivo da pegada hídrica é promover um uso racional e sustentável da água através da tomada de consciência para os enormes volumes de água que estão associados aos processos produtivos e aos nossos hábitos de vida.
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Sabe quanta água consome?
Em Portugal, o consumo médio de água por habitante é de cerca de 189 litros, no entanto, segundo a Organização Mundial de Saúde, a quantidade de água que cada pessoa necessita para fazer face às suas necessidades básicas varia entre 50 a 100 litros, por dia.
Para saber qual o seu consumo diário de água basta consulta a sua fatura de água e ver qual o consumo mensal e dividi-lo pelos 30 dias do mês. Depois divida esse valor diário pelo número de elementos do agregado familiar e ficará a saber qual o consumo médio, em sua casa, por pessoa.
Este simples cálculo ajuda-o a perceber se está a gastar mais água do que devia e a pensar em formas de reduzir o desperdício, o que no final irá também representar mais dinheiro no bolso.
No entanto, a nossa pegada hídrica vai muito para além da água que gastamos quando abrimos a torneira e segundo dados publicados pela Water Footprint Network, Portugal tem uma das maiores pegadas hídricas da Europa, com um consumo médio diário por habitante de cerca 6.900 litros.
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Água virtual. O que é e onde está?
Pode achar surpreendente, mas a maior parte da água que usa no seu dia a dia não é a que gasta na sua cozinha, casa de banho ou no jardim. Diariamente, contribuímos para o consumo de grandes quantidades de água através da compra de produtos, como alimentos, roupa, calçado, combustíveis, plásticos, eletrodomésticos, dispositivos tecnológicos, livros, móveis, inclusive as respetivas embalagens e a água utilizada no transporte a armazenamento desses artigos.
Assim, a água virtual é a água “escondida” nos produtos e serviços que compramos e usamos diariamente e que na maioria das vezes não é visível, mas que foi consumida em toda a cadeia de produção que tornou possível a criação de um determinado produto ou serviço.
A carne bovina, por exemplo, é um alimento que tem um elevado consumo de água ao longo do seu ciclo de produção, que inclui desde a irrigação dos alimentos consumidos pelo animal, a água que eles bebem, a que é utilizada na limpeza de estábulos, nos matadouros e no processo industrial de preparação da carne e a sua refrigeração e distribuição. Um quilo de carne bovina tem uma pegada hídrica de 15.500 litros de água (média mundial, de acordo com a Water Footprint Network).
Partilhamos uma lista de outros produtos e as respetivas pegadas hídricas:
Produto | Pegada hídrica |
Cerveja (250ml) | 74 litros |
Couve | 237 litros/Kg |
Chocolate | 17.196 litros/kg |
1 café | 140 litros |
1 ovo | 196 litros |
1 folha de papel A4 | 10 litros |
1 par de sapatos | 8.500 litros |
1 Smartphone | 900 litros |
Como pode reduzir a sua pegada hídrica?
Para além das habituais dicas de poupança de água, como reduzir o tempo que demora no duche, colocar máquinas a lavar com carga completa e no modo ecológico, usar um copo ou fechar a torneira enquanto lava os dentes, utilizar um redutor de caudal, entre outras, alterar os seus hábitos de consumo é a forma mais eficaz de reduzir a pegada hídrica.
- Evite compras desnecessárias
Antes de fazer qualquer compra, reflita sobre a necessidade de adquirir aquele artigo. Ao evitar compras desnecessárias evita o impacto negativo da produção de novos produtos e ainda economiza dinheiro!
- Pratique economia circular
Inúmeros artigos como roupas, móveis, pequenos eletrodomésticos, entre outros, podem ser reparados, restaurados, reaproveitados e ganhar uma nova vida. Outra dica é a partilha de bens e serviços através do aluguer ou do uso comunitário.
- Elimine o uso de descartáveis
Dê preferência aos artigos reutilizáveis, assim contribui também para uma menor produção de resíduos.
- Torne a sua lista de compras mais sustável
Procure adquirir produtos a granel, reutilizando as suas próprias embalagens ou produtos que usem menores quantidades de embalagem.
Opte, sempre que possível por produtos nacionais, de produção local ou regional procurando respeitar a sua sazonalidade.
Tenha atenção aos rótulos, procurando por ingredientes de origem sustentável e produtos com certificação ao nível da sustentabilidade.
- Reflita sobre a sua alimentação
Vale refletir, também, sobre o consumo de carne procurando reduzir o seu consumo, substituindo-a por outras fontes de proteína como as leguminosas. Experimente começar por substituir uma refeição de carne na semana.
Contas feitas, poupança para si e para o ambiente.
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Sara Correia colabora na ONG de Ambiente ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável, da qual é também associada fundadora e onde desenvolve o seu trabalho nas áreas de resíduos urbanos, recursos hídricos e educação ambiental, nomeadamente na gestão de projetos e na análise e acompanhamento de políticas públicas. É formada em Engenharia do Ambiente pela FCT-UNL e Mestre em Engenharia Sanitária.
A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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