As taxas Euribor já estão a subir. Não foi, com certeza, por falta de informação que o leitor, porventura, estará a ficar espantado agora.
Na realidade, muitos são os meios de comunicação que têm vindo a falar sobre este assunto. E já aqui, no portal do Doutor Finanças em julho do ano passado, escrevemos sobre o risco de subida das taxas de juro.
Agora que a subida dos juros parece mais realidade que fantasia, o que fazer?
Mas afinal, os juros vão subir assim tanto?
Quanto irão subir as taxas de juro, é de facto difícil de saber. Ninguém tem uma bola de cristal. Mas as evidências são grandes de mais para serem ignoradas.
A Reserva Federal Norte-Americana vem alertando os mercados, há já alguns meses, para uma possível subida dos juros. Estabeleceu já um plano para este ano de revisões periódicas das taxas. Já realizou uma subida em março. E outras virão. Provavelmente, mais três revisões ao longo de 2022.
Por cá, Christine Lagarde, governadora do Banco Central Europeu, excluiu subidas repentinas das taxas de juro, alertando que qualquer mexida nos indexantes seria gradual, iniciar-se-ia (a iniciar-se, sequer) apenas após termo do programa de recompra de títulos de dívida pública (que só termina no terceiro trimestre de 2022) e não havendo outra forma de controlar a inflação.
Mas os mercados, que reagem sempre de forma antecipada, mostram já quais as suas expectativas. A taxa Euribor a 12 meses tem vindo a subir desde início deste ano, apresentando um movimento claro e súbito já durante os primeiros dias de abril:
O indexante a 12 meses, com uma variação mais acentuada que os seus congéneres a 3 e 6 meses, está já muito próximo do valor zero, isto depois de ter registado o valor de -0,477% ainda há pouco mais de dois meses.
Aquilo que o mercado nos está a pretender mostrar é exatamente aquilo que Lagarde referiu: para já, as taxas não se irão alterar – daí as Euribor a 3 e 6 meses estarem a subir, mas menos que a de 12 meses – mas no final deste ano, início de 2023… aí provavelmente o cenário mudará de figura.
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O mercado costuma acertar nas suas previsões e antecipações?
Nem sempre. Mas são mais as vezes em que acerta, do que aquelas em que falha.
Em fevereiro passado, escrevia no site do Out of the Box sobre este tema. Procurava explicar que, olhando para o passado, percebia-se perfeitamente que as curvas forward das taxas Euribor tinham ficado sempre bem acima dos valores que posteriormente vieram a ser verificados.
No entanto, é interessante verificar que atualmente as estimativas sobre o comportamento futuro das taxas Euribor estão bem acima das previsões anteriores. O mercado, de facto, antecipa já futuros aumentos (e em maior escala daquilo que previa ainda há bem pouco tempo) da Euribor para 2023 e 2024.
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Mas afinal as taxas vão aumentar quanto?
Neste momento, as taxas forward da Euribor a 6 meses apontam para uma clara subida nos próximos meses. O valor que o mercado aguarda em outubro de 2023 é já superior a 1,6%, face aos -0,35% atuais. Estamos, portanto, a falar de um aumento de 2 pontos percentuais face ao nível em que nos encontramos.
Um aumento de dois pontos percentuais nos indexantes pode provocar algumas aflições no orçamento familiar. Para um financiamento a 30 anos, com um spread de 1 ponto percentual e um montante de financiamento de 150.000 euros, a variação na prestação em função dos dados acima apresentados pode cifrar-se em 150 euros por mês. É substancial.
Por isso, procure já precaver eventuais subidas das taxas de juro. Simule bem o impacto nas suas prestações.
Bons negócios (imobiliários)!
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Gonçalo Nascimento Rodrigues é Consultor em Finanças Imobiliárias, tendo trabalhado em empresas como Ernst & Young, Colliers International e Essentia. É Coordenador e Docente numa Pós-Graduação em Investimentos Imobiliários no ISCTE Executive Education. Adicionalmente, exerce atividade de consultoria, prestando serviços de assessoria ao investimento imobiliário. Detém um master em Gestão e Finanças Imobiliárias e um master em Finanças, ambos pelo ISCTE Business School, além de uma licenciatura em Gestão de Empresas na Universidade Católica Portuguesa. É autor do blogue Out of the Box.
A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
Obrigada, perfeito esclarecimento.