Com a inflação a atingir valores recorde na Europa e nos Estados Unidos, as suas poupanças estão a perder valor. Assim, saiba de seguida como pode investir o seu dinheiro para se proteger da inflação.
O que é a inflação?
A inflação consiste num aumento generalizado do preço dos bens e serviços. Para calcular o valor da inflação, os países assumem um cabaz de bens e serviços, que representa a despesa média de todas as famílias. Assim, neste cabaz incluem-se coisas como produtos alimentares, bens duradouros (computadores, eletrodomésticos, entre outros) e ainda serviços, como restaurantes e cafés.
Para calcular o valor da inflação num determinado ano basta ver o custo total do cabaz de bens e serviços no ano anterior e comparar com o seu custo no final do ano. A variação, em termos percentuais, corresponde assim à taxa de inflação no ano.
Para exemplificar o referido acima, se por exemplo no ano de 2021 o custo total do cabaz fosse de 100€, e se no fim de 2022 esse custo passar para os 105€, tal significa que a taxa de inflação em 2022 foi de 5%.
A inflação tem assim impacto no valor real do dinheiro. Usando o exemplo acima, se em 2021, os 100€ seriam suficientes para adquirir todo o cabaz de bens e serviços, em 2022 já não são. Ou seja, em 2022 com os mesmos 100€ a quantidade de bens e serviços que pode adquirir é menor.
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Impacto da inflação nas suas poupanças
A inflação pode ter um impacto significativo nas suas poupanças. Na prática, o dinheiro vale pela quantidade de bens e serviços que pode adquirir com ele. Assim, se optar por não tentar rentabilizar as suas poupanças e manter as mesmas "debaixo do colchão" ou em produtos sem rentabilidade, tal significa que, a longo prazo, as suas poupanças, vão perder valor de forma muito significativa.
Para ter noção do impacto da inflação a longo prazo nas suas poupanças, considere o seguinte exemplo:
- Valor total poupança atual: 100.000€;
- Poupança mantida numa conta à ordem durante 30 anos;
- Taxa de inflação média durante os 30 anos de 2%/ano.
Nesta situação, o valor atual de 100.000€, daqui a 30 anos, seria de cerca de 54.548€, devido ao efeito da inflação.
Opções de investimento
Em Portugal, as principais escolhas na hora de investir são os depósitos a prazo e os certificados de tesouro e aforro. No entanto, tratam-se de aplicações com baixas rentabilidades. Por exemplo, no caso dos depósitos a prazo, as melhores opções disponíveis no mercado não ultrapassam os 0,5%, (abaixo do objetivo para a taxa de inflação definido pelo Banco Central Europeu de 2%). No caso dos certificados, as taxas situam-se pouco acima de 1%, ainda assim abaixo da inflação.
Pese embora serem aplicações com pouco risco e muito líquidas, do ponto de vista da rentabilidade não são as melhores. Tendo em conta as características deste tipo de investimentos, deve manter uma parte do seu património aqui aplicado, como reserva de emergência para situações imprevistas. No entanto, para o proteger da inflação a longo prazo deve considerar outro tipo de investimentos, com destaque para:
- Mercado acionista;
- Imobiliário.
Pode o imobiliário proteger da inflação?
O imobiliário é um dos investimentos a considerar, caso pretenda proteger as suas poupanças da inflação. Isto porque, por lei, as rendas são atualizadas anualmente, através de um coeficiente que é calculado com base na inflação. Ou seja, a longo prazo, o rendimento que retira do imóvel vai sendo atualizado, a uma taxa pelo menos igual à inflação. Para além disso, de notar que o aumento das rendas, faz com que o imóvel valorize.
Ainda que no longo prazo exista evidência de que o investimento imobiliário é uma proteção contra a inflação, alguns fatores, pelo menos a curto prazo, podem afetar o mercado imobiliário, com especial destaque para:
- Aumento das taxas de juro: devido aos números muito altos da inflação, é esperado que o Banco Central Europeu possa aumentar em breve as taxas de juro. As taxas Euribor que servem de referência aos créditos habitação, têm aumentado desde o início do ano. No caso da Euribor a 12 meses, que é a mais utilizada nos novos contratos de crédito a habitação, está em máximos de 7 anos. Este aumento de taxas de juro, tem impacto ao nível das prestações pagas pelas famílias, podendo assim aumentar o número de incumprimentos e reduzir a procura no mercado. Assim, tal faria com que houvesse uma maior oferta de imóveis no mercado, para uma menor procura, o que levaria à queda dos preços.
Mercado acionista
Investir em ações pode ser outra opção para o proteger, a longo prazo, da inflação. Para ter uma noção das rentabilidades que este mercado tem oferecido, saiba que o índice S&P 500 (índice de referência do mercado norte americano) teve uma rentabilidade média anual ligeiramente superior a 10% desde 1926.
A inflação atual tem sido umas das causas para as recentes quedas no mercado. Tal deve-se ao facto de se esperar, uma política monetária mais restritiva, com um grande aumento das taxas de juro.
Estas perspectivas para as taxas de juro têm afetado principalmente as empresas tecnológicas. Assim, o índice tecnológico Nasdaq, teve uma queda superior a 20% desde o início do ano. Tal deve-se ao facto do valor da maioria das empresas tecnológicas assentar essencialmente nas perspectivas de futuro destas empresas. Assim, taxas de juro mais altas afetam a valorização destas empresas mais significativamente do que outras.
Que setores podem proteger da volatilidade nos mercados?
Atualmente, os especialistas consideram ser interessante investir em empresas do setor tecnológico, já que estas mantêm intactas as suas perspectivas de futuro. Isto numa perspectiva mais de longo prazo. Para uma perspectiva de mais curto prazo, analise e pondere investir no seguinte tipo de empresas:
- Setor da energia, como petróleo e gás natural: trata-se de um setor cujos preços têm contribuído fortemente para a inflação atual. Assim, as empresas destes setores aumentaram os preços ao consumidor, e assim melhoraram as suas margens;
- Imobiliário;
- Bens essenciais: as empresas ligadas a setores essenciais, como por exemplo, o alimentar, conseguem num ambiente de inflação, passar o aumento de custos para os clientes, mantendo assim as suas margens. O mesmo já não acontece com as empresas de setores não essenciais, em que a procura pelos seus produtos baixa, devido à redução do poder de compra;
- Setor bancário: o aumento das taxas de juro como forma de combater a inflação atual ajuda à melhoria das margens dos bancos. Por outro lado, existe o risco do aumento dos incumprimentos poder afetar o seu negócio;
- Ações que atuam em setores com monopólios: ações que atuam em setores com poucos concorrentes podem também ser uma boa opção de investimento, dada a sua capacidade de aumentarem preços, num cenário de inflação. Assim, num período de grande inflação têm capacidade para manter as suas margens. É um exemplo deste tipo de empresas, as ações ligadas ao setor das telecomunicações.
Em resumo, apesar do ambiente de inflação gerar uma forte incerteza ao nível dos investimentos, é uma altura em que podem surgir oportunidades de investimento.
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