As dúvidas instalam-se. É compreensível. Com o aumento das taxas de juro, muitos são aqueles que julgam que os preços das casas podem vir a baixar e, assim, esperar por uma melhor oportunidade de compra.
Comprar agora ou esperar que o preço caia? Qual a melhor alternativa?
Os preços vão mesmo cair?
Muito se tem escrito e falado sobre os impactos do aumento da inflação. Eu próprio, aqui no Doutor Finanças, tenho procurado explicar os possíveis impactos que o aumento da inflação pode provocar no mercado imobiliário.
No que respeita a um possível impacto no preço das casas em Portugal, a subida das taxas de juro – consequência do aumento da inflação – pode originar numa correção em baixa pelo facto que, por essa via, os portugueses perdem poder de compra.
O crédito mais caro – logo menos acessível à generalidade dos compradores de habitação própria e permanente que recorrem ao mesmo para o efeito – provoca essa redução no poder de compra na habitação.
Ora com um menor poder de compra, é expectável que os preços corrijam em baixa.
Adicionalmente, o aumento das taxas de juro pode ainda provocar – pelo menos alguns assim o acreditam – um aumento do crédito malparado, originando algumas oportunidades de compra a preços mais baixos.
Independentemente das causas ou expectativas sobre uma descida futura dos preços das casas em Portugal, a questão coloca-se: se os preços vão cair, não será melhor esperar para comprar casa?
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Será o preço, per si, a questão mais importante?
No artigo que escrevi em fevereiro do ano passado, Comprar casa. Será o preço o mais importante?, mencionava que "Quando alguém decide comprar uma casa deve ter bem presente que essa sua decisão deverá ser ponderada e pensada para um prazo longo. Pouco sentido fará adquirir uma habitação para uso próprio se perspetivamos vir a necessitar da mesma durante um curto espaço de tempo."
O preço de compra, claro está, é uma variável sempre importante. O comprador tem de estar informado sobre as condições de mercado, quer ao nível de preços como ao nível do financiamento, para tomar decisões acertadas e informadas e não colocar em causa o seu futuro.
No entanto, a decisão de aquisição própria e permanente deve estar intrinsecamente ligada a outros fatores que vão muito além do preço de compra: localização, tipologia, áreas, acessibilidades, serviços e equipamentos nas proximidades, distância ao local de emprego e às escolas dos filhos, distância de familiares mais próximos, vizinhança, transportes públicos.
Tudo isto deve estar muito bem alinhado com as necessidades e expectativas do comprador mas sobretudo com o prazo temporal que perspetiva vir a ocupar a casa que pretende comprar.
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Acertar no momento da compra?
O mercado imobiliário é feito de ciclos. Ciclos de alta, ciclos de baixa. Todos pretendem “acertar” nos momentos de compra e de venda. Há, normalmente, um “problema” com isso: ninguém adivinha topos e fundos. Ninguém adivinha os momentos exatos de inflexão no mercado. Mas todos podemos tomar decisões mais informadas, é certo.
Independentemente de estarmos no topo de um ciclo no mercado imobiliário e de os preços poderem vir a corrigir, olhe fundamentalmente para aquilo que necessita e para o prazo temporal durante o qual vai necessitar da sua casa.
Já aqui o escrevi: a decisão de aquisição de habitação própria e permanente deve ser para um prazo longo. Caso contrário, a solução mais indicada deveria passar pelo arrendamento.
Ora se perspetivo vir a necessitar da minha casa durante muitos anos, a questão do preço de compra torna-se menos importante. É certo que resulta melhor numa conversa de café com os amigos, poder dizer-se que se fez uma boa compra porque se pagou menos pela casa. Mas deveria ser mais importante dizer-se que a compra foi boa porque preencheu as minhas necessidades de longo prazo!
Por isso, antes de comprar ou de olhar para os preços, olhe para si mesmo, para a sua vida, perspetive o seu futuro, defina bem as suas necessidades e então sim, comece a procurar e a analisar tudo o resto. Porque mesmo que os preços venham a cair, no longo prazo, a história já nos ensinou que voltam a recuperar e a subir ainda mais.
Bons negócios (imobiliários)!
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Gonçalo Nascimento Rodrigues é Consultor em Finanças Imobiliárias, tendo trabalhado em empresas como Ernst & Young, Colliers International e Essentia. É Coordenador e Docente numa Pós-Graduação em Investimentos Imobiliários no ISCTE Executive Education. Adicionalmente, exerce atividade de consultoria, prestando serviços de assessoria ao investimento imobiliário. Detém um master em Gestão e Finanças Imobiliárias e um master em Finanças, ambos pelo ISCTE Business School, além de uma licenciatura em Gestão de Empresas na Universidade Católica Portuguesa. É autor do blogue Out of the Box.
A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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2 comentários em “Habitação: comprar ou esperar?”