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Quantos agentes imobiliários existem em Portugal?

A resposta devia ser fácil, mas a verdade, é que ninguém sabe.

Alvará AMI (sigla para Alvará de Mediação Imobiliária) ou licença AMI é um licenciamento que todos os mediadores imobiliários devem ter para poder exercer funções em território nacional, de acordo com a Lei n.º 15/2013, que estabelece o regime jurídico desta atividade.

Porquê? Pela simples razão de que não há obrigatoriedade de registo individual, a licença AMI, ou seja, o Alvará de Mediação Imobiliária que os agentes usam é, na realidade, o AMI da sua agência e isso torna a resposta exata a esta questão numa resposta muito difícil.

No entanto, a inexistência de exatidão não parece preocupar o setor.

Eu diria que, da maior parte dos players do mercado imobiliário, possivelmente só mesmo quem está na atividade de mediação imobiliária é que gostaria de ter uma resposta exata a esta pergunta para poder ter uma melhor visão da dimensão do seu mercado, da sua concorrência e do seu potencial.

Sem regulamentação, sem transparência e sem dados, quem sofre é o planeamento.

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A importância de conhecer a dimensão do mercado

É importante saber a dimensão da concorrência, mesmo que a concorrência seja encarada como parceiros de negócio. Mas esta afirmação só faz sentido quando se trabalha com angariação em exclusivo, e ainda se está disponível para partilhar. Se o agente trabalhar compradores sem um contrato de exclusividade, ou trabalhar a angariação em regime aberto, os seus colegas de profissão serão sempre e, obviamente, concorrentes.

Há a possibilidade de avaliar a dimensão com a informação que as maiores marcas dão sobre o seu número de agentes, mas o mercado não são apenas as grandes marcas de franchising, longe disso! A quota da mediação é ainda muito fragmentada entre marcas  franchisadas e modelos de marca própria, o que obriga a um exercício de adivinhação para comparação, que é feito com a informação disponível quando se pretende avaliar posição através de KPI’s importantes deste mercado como faturação, número de transações, valores médios de comissão. Enfim, quem já não se deu ao trabalho de fazer estes cálculos para além da sua marca, levante a mão.

Para conseguir descobrir a resposta à pergunta inicial (e a muitas outras), terá de se caminhar para maior regulamentação e transparência. Mas, para não deixar a pergunta sem uma resposta, o número estimado está num intervalo entre 40 e 60 mil agentes.

Hoje, para ser exato, não conseguimos definir o que é, de facto, um agente imobiliário, pois não existindo nenhuma carteira profissional ou licença para operar, como expliquei, a maioria (seguramente mais de 95%) opera com a licença AMI (Atividade de Mediação Imobiliária) da Agência onde trabalha. Existem muitas outras atividades paralelas que exercem esta atividade de forma indireta ou em part-time.

Na verdade, e fruto do ciclo positivo dos últimos 10 anos em que o mercado português esteve em alta, qualquer pessoa podia (e pode ainda) ser agente sem encontrar grandes desafios pelo caminho. De forma generalizada, tudo se vendia até há bem pouco tempo, muito rapidamente e sem grande dificuldade.

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Regulamentação, precisa-se

Os agentes imobiliários profissionais vivem indignados com a falta de barreiras à entrada, falta de regulamentação e falta de profissionalismo que rotula inevitavelmente o setor. Afinal, o que se destaca são, quase sempre, os maus exemplos e isso faz com que muitas pessoas classifiquem a figura do agente imobiliário de forma negativa. Não se separa o trigo do joio, ou seja, os verdadeiros profissionais dos amadores, e ainda dos outros que nem amadores são.

Muitos profissionais sentem a necessidade de se diferenciar e, por isso, em vez de usarem o termo correto que identifica a atividade, procuram nomes diferentes para se conseguir diferenciar como consultores, assessores, advisers, entre outros.

Já se fala há muito tempo em regulamentar e credenciar novamente a classe, mas nada avança. Possivelmente, não há muito interesse em avançar, ou há demasiados interesses em não avançar…

Assim sendo, há que continuar a trabalhar a diferenciação através do profissionalismo, seriedade e consistência, porque a meritocracia nunca falha. E olhar para duas máximas do empreendedorismo:

  1. Não se foque no que não consegue controlar ou mudar;
  2. Em qualquer situação, veja sempre o copo meio cheio.

Sim, copo meio cheio. Se o mercado onde atua não tem obrigatoriedade de licença e, por isso, todos podem exercer a profissão, provavelmente está num mercado onde o nível de serviço é irregular ou muito baixo. Logo, os concorrentes na sua área de atuação tendem a ser mais fracos, focados no curto prazo e, por vezes, devido à dimensão da concorrência, pouco éticos. Para si, que é um verdadeiro aspirante ou estabelecido profissional, a boa notícia é que basta focar-se no seu propósito, no seu cliente e fazer o básico bem feito (outro bom cliché), sem nunca parar. 

E quando a concorrência baixa o preço? Eu diria que mais uma ótima noticia! O preço é estipulado pelo mercado, pelos resultados, pelos clientes e não pela concorrência e nem por si.

Se se formar continuamente, treinar, trabalhar, procurar nichos e oportunidades e fornecer um serviço de topo, a procura aumenta, a sua disponibilidade de serviço torna-se escassa e todos quererão trabalhar consigo, pagando, porque sentem que terão segurança, confiança e resultados garantidos. Aprenda a qualificar clientes e a dizer “não” aos que não valorizam o seu serviço, ou não se enquadram no perfil certo. Para fazer isto, não se pode apenas focar na comissão, foque-se sim nas expectativas e resultados esperados pelo seu cliente, entregando-os num curto espaço de tempo para potenciar recomendação. Afinal, a comissão só é paga no fim, cabe-lhe a si reforçar o resultado desta comissão abrindo portas à sua multiplicação porque, no fundo, este negócio é de pessoas e é isso que vai fazer a diferença entre os 40 a 60 mil agentes que possivelmente existem no mercado.

Leia ainda: Quem não qualifica, não vende…

“O imobiliário é a minha vida e a minha vida é lidar com pessoas.” A viver em Lisboa e a trabalhar em Portugal, Espanha e Itália, Massimo Forte é acima de tudo um apaixonado pela área do imobiliário, um negócio que considera ser de pessoas para pessoas. Com mais de 25 anos de experiência nas maiores empresas de mediação imobiliária, hoje dedica-se a consultoria, formação e partilha de conhecimento como um dos maiores Real Estate Influencers em Portugal.

A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.

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