Os processos de recrutamento têm vindo a sofrer alterações com o passar dos anos. Se nas últimas décadas encontrar candidatos com conhecimento e habilidade técnica que lhes conferisse eficiência e rapidez na execução do seu trabalho era o mais importante, hoje em dia, quem recruta procura outras características.
Além das habilidades técnicas (a que podemos chamar de hard skills), as soft skills (ou habilidades humanas) assumem hoje um papel preponderante nos processos de recrutamento das empresas por todo o mundo.
Caso esteja à procura um novo emprego ou queira melhorar o seu currículo, saiba como se pode destacar perante outros candidatos e tornar a sua jornada no mercado de trabalho bem sucedida.
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O que são hard skills e soft skills?
Antes de descrevermos o que são soft skills, é importante fazermos a distinção entre ambas as habilidades ou aptidões.
As hard skills são conhecimentos ou aptidões técnicas adquiridas através de qualquer experiência de vida, seja na carreira ou educação.
Por exemplo, se trabalhou como operador de caixa num supermercado, muito provavelmente, saberá usar com alguma facilidade uma máquina registadora. Ou se teve aulas de contabilidade e/ou estatística, o Microsoft Excel será uma ferramenta que usará habilmente. Por exemplo, para todos aqueles que estudaram Inglês numa escola de línguas, podem falar fluentemente esse idioma e essa é considerada uma competência técnica.
Na realidade, todos os trabalhos requerem hard skills. Uns mais, outros menos, mas todos as exigem. Cada área de negócio exige competências técnicas específicas. Estas podem ser saber programar, entender a mecânica de um automóvel, gerir sistemas de facturação, editar vídeos, entre outras competências.
Apesar de importantes para o desempenho de funções, não são apenas as experiências profissionais e académicas que contam. Estas habilidades devem ser combinadas com as outras, as habilidades humanas, ou soft skills.
O que são soft skills?
As soft skills são competências humanas que podem ser utilizadas diariamente em várias experiências profissionais, ao longo da carreira.
Pode abordar estas soft skills em entrevistas de trabalho, referindo:
- Atitude e Capacidade para Resolver Problemas: aborde alguns problemas que enfrentou, como lhes deu a volta e os solucionou;
- Liderança e Autonomia: procure demonstrar que tem confiança e segurança nos processos de tomada de decisão, que sabe escutar, comunicar as suas ideias e que tem facilidade em tomar a iniciativa;
- Boa Comunicação: esta capacidade pode ser facilmente demonstrada através de um discurso escorreito e estruturado no seu CV e carta de motivação (e também em entrevista presencial);
- Trabalho em Equipa: mostre que tem capacidade e facilidade para trabalhar em equipa e para ajudar a empresa a atingir os seus objetivos e dê exemplos de experiências passadas.
Lembre-se sempre que não basta listá-las no seu CV ou mencioná-las em entrevista. É fundamental que as saiba expor fácil e detalhadamente. Veremos mais à frente como o pode fazer.
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Porque as soft skills são tão valorizadas no mercado?
Hoje, as empresas, os seus fundadores e CEO, e também investigadores e curiosos, sabem que as habilidades sociais são características fundamentais num colaborador. Essas competências mais valorizadas são, por exemplo, a capacidade de gerir e controlar emoções, a comunicação, a liderança, a adaptabilidade e a capacidade para resolver problemas.
Um estudo do Boston College, da Universidade de Harvard e da Universidade de Michigan, do ano de 2017, descobriu que o treino (e consequente melhoria) das soft skills, como a comunicação e resolução de problemas, aumenta a produtividade e a retenção (capacidade de uma empresa manter os seus colaboradores) em 12% e proporciona um retorno sobre o investimento de 250%.
Assim, as empresas precisam cada vez mais de se tornarem dinâmicas e flexíveis e por esse motivo, é crucial que as pessoas que a integram tenham boas habilidades sociais.
A boa notícia é que estas habilidades podem ser aprendidas e desenvolvidas. Ainda que seja um trabalho que exige esforço e dedicação contínua. com a ajuda e orientação certas, é possível converter as suas “fraquezas” em pontos fortes. Investir na melhoria das suas soft skills não só potencia o sucesso no seu trabalho e na sua carreira, como em todas as áreas da sua vida.
Se não consegue fazê-lo de forma autónoma e quer investir no seu desenvolvimento profissional, procure um mentor que possa ajudar a fazer esse caminho.
Como incluir as soft skills num CV ou Carta de Apresentação
As soft skills são importantes nos processos de recrutamento. As empresas procuram alguém que impacte positivamente os seus negócios e a sua cultura e estas qualidades são o veículo perfeito para conquistar esse objetivo.
Construir um bom CV e uma boa carta de apresentação é fundamental, mas qual a melhor forma de incluir estas habilidades?
O primeiro passo que deve dar é avaliar as empresas para onde quer enviar o seu currículo, uma a uma, e adaptá-lo consoante a área de negócio, a cultura, os valores e as necessidades das mesmas.
Deve tentar entender de que forma as suas habilidades são uma mais-valia para a empresa em questão e como estas a vão ajudar a atingir os seus objetivos e a terem sucesso. Mais do que querer saber quem é, as empresas querem que lhes diga de que forma vai acrescentar valor ao seu negócio.
Utilize a técnica STAR
Os resultados são a melhor forma de garantir ao empregador que é uma aposta segura. Por isso, é importante que o faça com paixão, mostrando que é realmente alguém especial, e não há melhor forma de o fazer que contando uma história, verdadeira e entusiasmante.
Para falar sobre as suas competências, pode utilizar a técnica STAR. A recrutadora Michael Page recomenda esta técnica para ser utilizada em entrevistas e que pode ser aplicada também em cartas de apresentação ou nos currículos. A utilização desta técnica pode ser usada para responder a perguntas baseadas nas competências profissionais, em que deve explicar:
- A Situação;
- As Tarefas necessárias em resultado da mesma:
- A Ação que tomou;
- O Resultado dessa ação.
Utilize esta técnica para contar a sua história. Quais foram as suas conquistas? Que projetos teriam corrido mal se não tivesse intervido? Como interveio e melhorou as coisas? Que resultados obteve?
Exemplo de como estruturar a sua história:
S = Situação. Qual era o problema? Seja o mais específico possível. Conquistas vagas ou pouco específicas não funcionam. Faça com que visualizem o que descreve de forma detalhada.
T = Tarefa. Qual era o objetivo? Indique os objetivos que tinha de alcançar, quer sejam numéricos ou não.
A = Ação. Que passos específicos tomou para alcançar o objetivo? Concentre-se no que fez. Ao descrever as contribuições da equipa com quem trabalhou e das pessoas incluídas na mesma, certifique-se que lhes dá o mérito devido.
R = Resultado. Resultado final. Este é o momento de conversar. Assuma o que conseguiu conquistar e todos os seus pontos positivos.
Integre esta técnica no seu currículo e na carta de apresentação. E lembre-se: é importante destacar em primeiro lugar o resultado e só depois contar como o conquistou. Quando descrever as suas soft skills, não se limite ao habitual “Orientado para Objetivos” ou “Facilidade de Comunicação”. Dê exemplos práticos e reais.
Por exemplo, se estiver a falar sobre a capacidade de resolver problemas, pode dar um exemplo específico, como "consegui diminuir o número de reclamações em 55%, ao fim de 6 meses, como resultado do desenvolvimento e implementação de um plano de ação que envolvia experiência e lealdade do cliente."
Na realidade, as hard skills e as soft skills acabam por se complementar
As primeiras mostram ao empregador que o candidato é capaz e competente para desempenhar o cargo a que se candidata, enquanto que as as soft skills mostram ao empregador um conjunto de qualidades e atributos pessoais que podem proporcionar benefícios adicionais à cultura da empresa, à produtividade e ao ambiente de trabalho.
A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
No geral o artigo parece-me muito útil, no entanto não tenho dúvidas em afirmar que a “Boa Comunicação” está totalmente subestimada e jamais poderá ser facilmente demonstrada num CV.