Como está o ecossistema das fintech em Portugal? Como tem evoluído esta indústria? Quem são as 30 maiores fintechs portuguesas e quais as fintech fundadas em Portugal com potencial? Estas são apenas algumas questões que foram respondidas no último relatório da Portugal Fintech, publicado no final de outubro.
Neste relatório é possível concluir-se que este ecossistema continua a dar sinais de crescimento e que Portugal está a atrair cada vez mais o interesse de fintechs europeias, bem como a gerar valor.
Foi a propósito do Portugal Fintech Report 2020, onde as empresas contactadas constam, que o Doutor Finanças questionou alguns responsáveis de fintechs sobre os principais desafios que quem está nesta indústria enfrenta e o que esperar dos próximos anos. Neste artigo poderá encontrar um resumo do que foi respondido, sendo que poderá ler as respostas completas, através de links que lhe deixamos para as entrevistas.
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Quais são os principais desafios de uma fintech em Portugal?
São vários os desafios que as fintechs enfrentam no nosso país e dependem do que estão a desenvolver. João Saleiro, CTO do Doutor Finanças, identifica três, que estão mais ligados à área onde esta empresa se insere: “os gaps culturais e tecnológicos dos incumbentes (bancos); a escassez de API de serviços públicos essenciais ao funcionamento eficaz do sector; e a competição por talento”.
Para Diogo Oliveira Santos, Business Development Manager da hAPI, os principais desafios estão relacionados com a “confiança e a segurança” que as fintechs têm de assegurar às empresas incumbentes (bancos). Para o responsável da hAPI “neste ‘novo normal’, as expectativas dos utilizadores em geral, e dos serviços financeiros em particular, são elevadas e apontam sobretudo à conveniência, facilidade e rapidez. Contribuir para se afirmar como líder nesses três eixos é o grande valor acrescentado das fintechs, pelo que o grande desafio é precisamente, dar confiança e segurança.”
Já Gonçalo Abreu, da Alfredo, destaca a tecnologia e desenvolvimento de negócio, em especial da empresa que gere, que além de ser uma fintech é uma proptech.
Raquel Nogueira, operations manager da The Fintech House, realça que o ciclo de vendas é desafiante e que será necessário haver um foco na regulação.
Romana Ibrahim, da Keep Warranty, considera que os principais desafios para uma Fintech em Portugal passam por “conseguir compreender e ultrapassar barreiras regulatórias, conseguir a validação da solução e a captação de investimentos para desenvolver/implementar tecnologias que potenciem a escalabilidade das operações e atividades de marketing num espaço muito concorrido.
Qual foi o impacto da pandemia neste universo?
Há um ponto que gera consenso entre quem está a trabalhar neste universo: a pandemia acelerou a digitalização.
“A pandemia veio acelerar o percurso positivo das startups na área fintech”, realça Gonçalo Abreu, da Alfredo. “Devido aos constrangimentos de mobilidade impostos, o setor da mediação imobiliária procurou inovar-se”, salienta.
“A pandemia acelerou o processo de digitalização, pois forçou a adoção de novos comportamentos mais digitais”, com as pessoas a verem-se “obrigadas a experimentar este tipo de serviços.” Por outro lado, “temos assistido a uma mudança de postura dos incumbentes que passaram a mostrar mais disponibilidade para trabalhar em conjunto com fintechs”, afirma João Saleiro, do Doutor Finanças
Diogo Oliveira Santos, da hAPI, destaca que o contexto em que vivemos desde março “veio acelerar de forma extraordinária a adoção de novos comportamentos e expetativas pelos consumidores, no sentido de uma maior conveniência, facilidade e rapidez.”
"Apesar das restrições que resultaram da pandemia, as fintechs portuguesas mantiveram a tendência de crescimento do ano passado", salienta Raquel Nogueira, da Fintech House.
E se esta realidade é partilhada pela generalidade das fintechs, a verdade é que o contexto não teve apenas esta “consequência”.
Romana Ibrahim destaca ainda uma outra questão, desta feita com um peso negativo para o ecossistema em causa: "a desaceleração de investimentos previstos e o adiamento de projetos de parceria com incumbentes."
Quais serão os três principais desafios para os próximos cinco anos?
Questionados sobre quais serão os maiores desafios, Romana Ibrahim, da Keep Warranty, destacou a "segurança e a falta de confiança", realçando que a "cibersegurança assume aqui um papel fundamental", a conformidade legal e a expansão e crescimento, sendo que este último fator está relacionado com o meio onde se inserem as fintechs, com a banca tradicional a representar uma "concorrência muito poderosa."
Diogo Oliveira Santos, da hAPI, considera que os três desafios se resumem a "inovar, inovar e inovar". E explica que a única solução para quem quiser vingar neste meio é ter capacidade de inovar, recordando que "as mudanças que bruscamente assistimos nos últimos meses eram previsíveis ocorrer num horizonte temporal de alguns anos."
João Saleiro, do Doutor Finanças, destaca a capacidade de "conseguir prever as tendências", algo que está relacionado com a inovação, mas também com a capacidade de se anteciparem necessidades. O segundo desafio passa por "reconhecer o papel dos incumbentes e aprender a trabalhar com eles", uma vez que a banca tradicional já opera há muitos e muitos anos, pelo que acumulou uma experiência vital para quem está a entrar no meio. E, por fim, a "competição internacional", que deverá ser cada vez maior e mais abrangente.
Estes são os desafios que estes responsáveis de fintechs em Portugal antecipam, sendo que foram elencados apenas alguns. Para se conseguir vingar neste meio, consideram os mesmo responsáveis, será necessário resiliência, mas também que as pessoas se foquem no "problema" e nos clientes.
"Será determinante que as Fintech mantenham o caráter diferenciador e inovador", salienta Raquel Nogueira, acrescentando que "é imperativo que as fintechs se provem essenciais aos incumbentes, tentando ao máximo impedir a imitação do seu trabalho."
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Quanto às dificuldades de se ser uma fintech em Portugal, Gonçalo Abreu, da Alfredo, admite que o mercado nacional "é pequeno quando comparado com outros mercados Europeus mais maduros", contudo, "o acesso a esses outros mercados passa pela estratégia de expansão de cada uma das startups."
Diogo Oliveira Santos considera que o mercado nacional "é, sem dúvida, mais desafiante", enquanto Romana Ibrahim diz que "ser uma fintech é difícil em qualquer mercado", ainda que a maturidade do mercado possa ditar diferenças, "nomeadamente na captação de investimentos."
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A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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