Trabalhar por conta de outrem ou ser empresário são dois percursos profissionais bem distintos. Se não tem a certeza sobre o percurso seguir e se está a debater-se com a dúvida: "devo trabalhar para alguém ou arrisco numa carreira independente?", precisa de ponderar bem que passo vai dar, sendo certo que a resposta não pode ser dada por terceiros, mas apenas por si.
Assim, deve ter em conta alguns fatores e informações que, necessariamente, têm de ser analisados previamente. E, para que tenha uma visão mais alargada sobre os dois percursos, segue-se um conjunto de passos que o podem conduzir até à decisão final.
Trabalhar por conta de outrem ou ser empresário? 9 passos rumo à decisão
1 - Refletir sobre metas e sonhos
A decisão entre trabalhar por conta de outrem ou ser empresário não deve ser tomada de ânimo leve. O primeiro passo é refletir sobre o que pretende alcançar. Por exemplo, gostava de progredir na sua carreira até chegar a um cargo de chefia? Vestir a camisola de uma empresa que não é sua e ajudá-la a prosperar é algo que vê com bons olhos? Sempre quis ter um negócio seu e ser um grande empresário? Está disposto a fazer os sacrifícios necessários para criar um negócio sozinho, do zero?
Se fizer estas, e outras, perguntas, provavelmente vai ter uma noção mais clara do percurso que pretende seguir. Independentemente da sua decisão, não está a dar um passo sem retorno. Ou seja, se para já optar por trabalhar para uma empresa, mais tarde, pode decidir abrir o seu próprio negócio. Ou o contrário. Se está indeciso, analise e pese na balança os prós e contras de acordo com o seu perfil, objetivos e sonhos.
2 - Que peso tem a estabilidade financeira?
A estabilidade financeira é, para muitas pessoas, um fator determinante na hora de tomar decisões profissionais. Afinal, ter uma remuneração fixa e outros benefícios (como subsídios de alimentação, subsídio de natal e férias, seguros, etc) permite-lhe gerir melhor a sua vida financeira. E, caso precise de tomar certas decisões ou recorrer a um empréstimo, como um crédito habitação, a estabilidade financeira é um fator preponderante.
No entanto, ainda que valorize ter uma remuneração fixa, trabalhando por conta de outrem, ao longo da carreira pode sentir-se frustrado diante da dificuldade em aumentar os rendimentos. Ainda que, em cargos de topo, a remuneração fixa possa ser aliciante, se tiver a ambição de ganhar mais, pode encontrar alguns entraves.
Por outro lado, se não sente a necessidade de uma estabilidade financeira constante, trabalhar por conta própria pode ser um desafio aliciante. Contudo, é importante salientar que, na maioria dos casos, os primeiros anos de um negócio ou atividade, podem ser extremamente difíceis a nível de remuneração. Mas, quando o seu negócio começar a "dar frutos", a remuneração pode ser mais atrativa.
3 - Pode fazer um investimento financeiro?
Para quem está com dúvidas entre o percurso profissional a seguir, um dos pontos a analisar prende-se com a necessidade de fazer um investimento. Ou seja, se for trabalhar por conta de outrem, o seu capital não terá que ser investido. Mas, quem decide ser empresário em nome individual (ENI) e arrancar com o seu negócio, vai ter de fazer um investimento.
Dependendo do negócio que pretende abrir, e as ferramentas de que dispõe, este investimento pode, ou não, ser elevado. E, por isso, é fundamental que analise bem as suas finanças e poupanças antes de dar este passo. Se tiver decidido avançar, é fundamental criar um plano de negócios e orçamentar despesas. Para dar este passo, pode também ponderar recorrer ao crédito. No entanto, esta é uma decisão que requer uma análise minuciosa, já que, caso o seu negócio não prospere, o risco de endividamento é elevado.
Atenção, até conseguir recuperar o dinheiro que investiu e pagar o seu ordenado, o percurso pode ser longo.
4 - Até que ponto está disposto a correr riscos?
Tanto na vida pessoal como profissional, existem pessoas que estão mais dispostas a correr riscos em prol dos seus objetivos. Há alguns anos atrás, em termos de estabilidade, trabalhar por conta de outrem era visto como a decisão mais segura. O ideal era passar aos quadros da empresa e, caso a economia do país estivesse estável, a probabilidade de ir para o desemprego ficava logo mais afastada.
Já no caso de um ENI, o percurso costuma ser mais instável e existem inúmeros fatores de risco, que nem sempre são fáceis de prever. Segundo os dados publicados pela PORDATA, existe uma percentagem significativa de empresas que encerram entre o primeiro e o segundo ano de atividade.
Mesmo que ao trabalhar por conta de outrem não esteja a salvo de, um dia, a empresa decidir dispensá-lo, em termos de riscos, se pesar na balança, os dois percursos não estão equilibrados, mas, não significa que uma opção seja mais vantajosa que outra. Todavia, é fundamental que reflita, de forma a estar preparado com os entraves que podem surgir em cada uma das opções.
5 - Por conta de outrem ou empresário: diferentes responsabilidades
Ao trabalhar para uma empresa, por muitas tarefas que tenha a seu cargo, a responsabilidade acaba por ser limitada às suas funções e a tudo o que está a ser cargo. Como ENI, o sucesso, ou o fracasso, do negócio é da sua inteira responsabilidade. Logo, o nível de responsabilidade é muito mais elevado. Para quem não está habituado a ter este nível de responsabilidade e proatividade, este percurso pode ser muito desgastante.
6 - Quais são os seus níveis de conhecimento para cada percurso?
Embora não seja preciso ter uma formação específica para ser um ENI de sucesso, os níveis de conhecimento podem fazer toda a diferença, sendo que não nos referimos apenas a conhecimentos académicos ou formativos. A experiência, muitas vezes, assume um papel ainda mais importante. Se tiver acumulado uma maior experiência, pode ter maior facilidade em criar o seu modelo de negócios e destacar-se da concorrência. Além disso, a experiência ajuda-o a identificar mais facilmente os problemas e encontrar soluções.
Para quem nunca trabalhou, começar a carreira como ENI nem sempre é aconselhável. Este tipo de percurso implica inúmeras responsabilidades e superação de desafios. Nesta lógica, pode fazer mais sentido trabalhar por conta de outrem, adquirir conhecimentos e experiência e, posteriormente, dar este passo.
Para o trabalhador por conta de outrem, o percurso profissional pode ser feito de uma forma mais gradual. Ou seja, se terminou a licenciatura, pode ir aumentando os seus conhecimentos, com formações adicionais, enquanto vai ganhando experiência. Nem sempre é fácil encontrar o primeiro trabalho na área que estudou, mas, quando consegue dar esse passo, terá "mais bagagem" para desenvolver conhecimentos e competências.
7 - Obrigações fiscais e tributárias dos ENI
O ENI vai ter de lidar com todas as suas obrigações sozinho, caso não tenha contabilidade organizada. Em termos práticos, os seus rendimentos são tributados em sede de IRS, através da Categoria B - Rendimentos Empresariais e Profissionais. Depois, é necessário perceber se vai-se aplicar o regime simplificado ou a obrigação de contabilidade organizada, consoante o seu volume de negócios.
Para além disso, há ainda a questão do IVA, que pode ou não estar isento, devido à sua faturação anual. Ou seja, se a sua faturação anual for inferior a 12500 euros, existe direito à isenção de IVA.
Já no que diz respeito à Segurança Social, um ENI é um trabalhador independente. Segundo o novo regime dos trabalhadores independentes, do qual fazem parte os ENI, na maioria dos casos é necessário entregar a declaração trimestral, pagar as contribuições e confirmar a declaração anual.
Ler mais: Trabalhadores independentes: as obrigações fiscais
8 - Obrigações fiscais e tributárias dos trabalhadores por conta de outrem
Para quem é trabalhador por conta de outrem, a grande obrigação passa pela entrega da declaração de IRS. Em relação a impostos, estes são dedutíveis no seu salário. No caso da retenção na fonte, varia consoante os rendimentos e agregado familiar. Já para a segurança social, a taxa a suportar é de 11%. Contudo, a maioria das entidades empregadoras desconta 23,75%, o que perfaz o total de descontos, adicionando os 11%, de 34,75%.
9 - Não se esqueça de pensar também na sua vida pessoal
É igualmente importante que pense no impacto que o seu percurso profissional vai ter na sua vida pessoal. Quando trabalha por conta de outrem, a tempo inteiro, o mais expectável é que tenha um horário estabelecido (fixo ou rotativo). E, quando o seu horário termina, pode dedicar-se à sua vida pessoal. Em termos de férias, em certas empresas há alguma dificuldade na marcação, mas, os seus direitos têm de ser cumpridos. Ou seja, se trabalhar um ano inteiro, terá direito, no mínimo, a 22 dias de férias.
Este tipo de organização, muitas vezes, é benéfico para as rotinas familiares ou para organizar momentos de lazer.
Como ENI, atendendo às inúmeras responsabilidades, o mais certo é que trabalhe mais de 8 horas por dia, e sobretudo no arranque do negócio, não deverá ser possível gozar férias. Contudo, também existe uma maior flexibilidade em termos horários, pois só a si presta contas.
Ler mais: As personalidades que o empresário deve assumir
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