Rendimentos

A urgência da igualdade salarial

No dia em que se assinala o Dia Internacional da Igualdade Salarial é importante termos presente que igualdade não é um privilégio!

As mulheres ganham menos 13% que os homens. Este é um facto, não é uma opinião. È urgente mudar esta realidade, há muito conhecida. São inúmeras as vozes que se fazem ouvir a este respeito e que põem o dedo na ferida com regularidade. Mais do que vozes pela igualdade salarial, são vozes pela justiça social, pela equidade e pelos direitos humanos.

Os últimos dados publicados mostram que, em Portugal, as mulheres ganham 13,2% menos que os homens. E os dados são positivos face aquele que é o ponto de partida, imaginem! Nos últimos 10 anos o fosso da desigualdade diminuiu. Mas os dados do Eurostat evidenciam o longo caminho a fazer: entre 2012 e 2022 a diferença salarial em Portugal diminuiu em 2,5%. Uma redução inferior aos 3,7% da média europeia e muito inferior aos 10% de Espanha.

Se imaginarmos que este ritmo de aproximação salarial é mantido, vamos chegar a 2032 com as mulheres a ganharem menos quase 11% que os homens. O caminho que fizemos até agora não nos pode orgulhar.

E não tenhamos ilusões: concentrarmo-nos apenas no problema, carpir sobre o mesmo, não vai resolver nada. É urgente arregaçar as mangas e agir. Sendo que no caso de Portugal há um dado que é merecedor de uma reflexão ainda maior: a diferença salarial no Estado é superior à do privado.

Como se explica que as mulheres tenham mais instrução, maior nível de escolaridade do que os homens, e continuem a ter menos emprego? Menos emprego e emprego mais mal remunerado.

Ao ritmo a que está a evoluir a diferença salarial em Portugal, precisaremos de mais de 50 anos para atingir a igualdade. Não é possível esperar. É imperativo implementarmos medidas que façam acelerar este ritmo para anteciparmos a igualdade o quanto antes. Será pedir muito que as minhas filhas, atualmente com 14 e 12 anos, vivam num Portugal que não diferencia salarialmente mulheres e homens?

Não podemos continuar sentados à espera que as quotas obrigatórias produzam efeito. Que o tema seja “resolvido” pelo Estado. É claro que é determinante que as forças políticas se unam e implementem medidas que ajudem na causa. Mas caberá a cada um de nós liderar a mudança.

E as primeiras coisas a fazer são simples e requerem apenas a responsabilização e compromisso das entidades individualmente. Estamos a falar de coisas como:

  • Auditorias salariais, que façam o levantamento do “estado da Nação”;
  • Reforço na transparência, com publicação de tabelas salariais por função;
  • Boas práticas de progressão na carreira, com definição de objetivos claros e acompanhamento regular;
  • Flexibilidade laboral, permitindo que mães e pais consigam conciliar melhor (e de igual forma) as responsabilidades familiares.

Partilho aqui apenas quatro medidas que carecem de compromissos das organizações, mas não são bichos papões, nem acrescem um peso desmesurado no dia a dia.

Falamos de boas práticas, que fomentam a igualdade mas, acima de tudo, asseguram pluralidade, complementaridade e justiça, fundamentais para um futuro sustentável de qualquer organização.

Sou uma feminista assumida! E, considerando a confusão que normalmente se instala, urge clarificarmos os termos. O feminismo visa criar uma sociedade em que todas as pessoas, independentemente do seu género, possam viver com dignidade, respeito e oportunidades justas. Defendo a igualdade, seja a que nível for.

Não podemos perpetuar que as mulheres, porque são mães, porque têm uma voz menos grave, porque têm uma composição corporal que por norma lhes confere um aspeto físico mais frágil ou porque historicamente sempre assumiram a responsabilidade pelas lides domésticas, tenham menos oportunidades que os homens e que, assumindo funções semelhantes ou com níveis equivalentes de responsabilidade, qualificação, e exigências sejam remuneradas de forma não equitativa e discriminatória. 

A mudança começa agora, com o contributo de cada um de nós. Façamos com que a nossa voz se ouça em prol de um mundo mais justo no qual ser mulher ou homem em nada determina a remuneração auferida.  Afinal, a igualdade não é um privilégio, é um direito.

O futuro que queremos começa hoje!

Irene Vieira Rua é licenciada em Psicologia pela Universidade Lusófona, tendo feito uma pós-graduação em Gestão e Desenvolvimento Estratégico de Recursos Humanos, no ISLA – Instituto Politécnico de Gestão e Tecnologia e um Executive Master em Project Management, na Universidade Europeia. Tem mais de 15 anos de experiência profissional, com dez deles passados na empresa Indra, uma consultora tecnológica, desempenhando funções como Quality and Environmental Senior Consultant e Project Manager do setor Público. Em 2017, juntou-se ao Doutor Finanças para a função de Diretora de Pessoas e Cultura Organizacional e em 2022 assumiu o cargo de Chief People Officer.

A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.

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