Em qualquer negociação, seja ela qual for, o primeiro passo – e talvez o mais importante – é estar muito bem preparado. Saber exatamente do que se fala e ter feito o trabalho de casa é fundamental no sucesso de qualquer negociação.
No caso de estar a negociar o seu salário, convém fazer, previamente, todas as contas necessárias sobre o seu salário líquido, calculando antecipadamente os valores que serão descontados sobre o vencimento.
Algumas rubricas poderão, de facto, aumentar o salário líquido sem que façam parte do vencimento base. É o caso das ajudas de custo, por exemplo. No entanto, componentes como estas poderão, mais tarde, vir a revelar-se prejudiciais em determinadas situações. É por isso que aconselhamos a negociar o salário bruto, e não o líquido.
Mas vamos por partes. Comecemos pela base: a definição dos conceitos.
Salário líquido versus salário bruto
O salário líquido é o valor real que um trabalhador recebe no final de cada mês, após terem sido realizados os respetivos descontos para o IRS e para a Segurança Social. É o chamado salário “limpo”, depois de a entidade empregadora ter liquidado junto do Estado as obrigações contributivas que correspondem ao salário bruto que está calculado para um determinado colaborador. É, por isso, aquele que deve ter em consideração para a gestão do orçamento familiar.
Já o salário bruto, por sua vez, é o vencimento a que o trabalhador tem direito ainda com as obrigações contributivas por fazer.. Trata-se do valor sem os descontos e retenções na fonte em sede de IRS, que serão realizados posteriormente. Deste modo, o valor é, normalmente, superior.
Contudo, ao negociar o salário, há quem prefira negociar o salário líquido, e isso pode dar azo a que o empregador opte por adicionar algumas rubricas que não entram para o IRS e permitem ao colaborador aumentar o salário líquido. Parece aliciante. Afinal, qual é o problema?
1. Rubricas sem garantia
Quando falamos em rubricas que não entram para IRS, admitindo mesmo que são legais, muitas vezes, estas não são protegidas ou, de alguma forma, garantidas. Ou seja, é impossível assegurar que estes complementos monetários sejam mantidos a qualquer momento.. Por exemplo, uma ajuda de custos, que não desconta para IRS até um determinado montante, pode ser retirada se assim a empresa o entender. O mesmo acontece com o abono para falhas.
Estamos a falar de complementos que, na maior parte das vezes, não estão mencionados no contrato. Na prática, isso significa que, a qualquer momento, podem desaparecer, emagrecendo o salário líquido negociado.
2. Mal-entendidos
Outro dos aspetos que deve ter em conta é o facto de, quando uma pessoa negoceia um salário líquido, estar normalmente a referir-se a um vencimento que é pago 14 vezes por ano. Mas isso pode não ficar tão claro para o empregador, até porque, se estivermos a falar de uma rubrica de ajudas de deslocação, por exemplo, esse valor não pode ser pago 14 vezes por ano, mas apenas em dias trabalhados. A empresa não deve pagar ajudas de deslocação a um colaborador que está de férias.
Nas negociações, não se deve dar nada como assumido ou garantido. Uma situação como a referida acima poderia gerar algum tipo de conflito entre o trabalhador e a empresa, devido a essa expectativa de receber o valor líquido acordado em 14 pagamentos por ano.
3. Subsídios de doença, desemprego e reforma
No entanto, talvez o principal motivo para se negociar sempre o salário bruto seja este. É que, embora possa ser aliciante receber um valor mensal mais elevado através de rubricas que não entram para a Segurança Social, mais tarde isso pode ser prejudicial em situações de doença e acidentes de trabalho, desemprego ou reforma.
É que, para qualquer uma destas situações, o valor tido em consideração para os cálculos é a remuneração bruta. Quer isto dizer que, caso tenha negociado o seu salário com base apenas no valor “limpo”, deixando espaço para que o montante seja “engordado” com complementos isentos de IRS e Segurança Social, essas rubricas não vão ser tidas em consideração nestes cenários. Ou seja, o valor dos apoios será calculado com base nas rubricas que descontam para a Segurança Social, o que pode vir a deixá-lo numa situação menos favorável.
4. Empréstimos bancários
Além disso, há ainda outro motivo que deve ser tido em conta. É que, para pedir empréstimos nos bancos, apesar de estas entidades consultarem, normalmente, o salário líquido dos requerentes do empréstimo, as componentes mais tradicionais, as que são duradouras, são as que mais pesam.
Quer isto dizer que folhas de quilómetros ou outro tipo de ajudas de custo podem não ser consideradas, uma vez que se trata de uma reposição de valores que já foram gastos pelo trabalhador ou de rubricas que são mais instáveis, podendo ser retiradas a qualquer momento.
Leia ainda: 9 coisas a ter em conta no momento de negociar o seu salário
5. Maior facilidade de comparar propostas
Através do rendimento bruto, temos a certeza do valor que nos está a ser oferecido e é mais fácil e direto comparar propostas financeiras. Ainda que devamos olhar para as componentes salariais para perceber o que nos dá mais liquidez ao final do mês.
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