Com a subida progressiva das taxas Euribor, é normal que muitos titulares de crédito estejam cada vez mais preocupados com os aumentos das suas prestações. É que, a par dos custos relacionados com a casa, também os preços de bens e serviços têm-se agravado, devido à subida da inflação, comprometendo o equilíbrio do orçamento familiar.
E, numa altura marcada pelo regresso às aulas, que implica gastos extra para muitas famílias, é importante estar informado sobre as soluções disponíveis para reduzir os encargos com créditos.
Descubra quatro formas, neste artigo, e fique a conhecer casos reais de pessoas que conseguiram poupar centenas de euros por mês ao optarem por estas soluções.
1 - O seu crédito habitação está a comprometer o orçamento familiar? Pense em transferi-lo para outra entidade
Se já tentou renegociar com o seu banco e continua a não conseguir diminuir os seus encargos com o crédito habitação, saiba que a transferência de crédito habitação para outra entidade pode ser a opção mais vantajosa para si. Quando transfere o seu crédito para outra instituição tem a possibilidade de alterar várias opções contratuais, uma vez que vai celebrar uma nova escritura.
Ou seja, se a instituição de crédito aprovar, pode alterar a modalidade de juros, aumentar ou reduzir a maturidade do contrato, reduzir o seu spread, remover produtos associados ao contrato de crédito habitação e até baixar o valor dos seguros exigidos pelos bancos, mudando para outra seguradora.
E, havendo muitas soluções, nunca deve dar este passo sem antes comparar propostas, perceber qual a solução que é melhor para o seu caso e perceber se os custos da transferência estão cobertos pelo banco onde vai ter o seu crédito habitação.
Mas, para ter uma ideia melhor de como pode reduzir os encargos com o seu crédito habitação, mostramos alguns casos reais de pessoas que conseguiram obter uma poupança significativa através da transferência do crédito, com alteração da modalidade de juros (e não só).
Caso pretenda ter uma ideia de quanto pode poupar, também pode utilizar a calculadora de transferência de crédito habitação.
Transferência com alteração da modalidade de juros
Passar de uma taxa variável para uma taxa fixa
A maioria das pessoas que contrataram um crédito habitação nos últimos anos, optaram por ter o contrato indexado à taxa Euribor. Depois de muitos anos em valores negativos, as taxas Euribor dispararam, o que está a provocar aumentos significativos das prestações.
Assim, a mudança do tipo de indexante é uma opção que está a ser avaliada por muitas pessoas. A taxa fixa assegura que ao longo do contrato o cliente não sente oscilações nos seus encargos.
Mas vamos a casos reais:
O casal Silva, nome fictício, tinha um contrato indexado a uma taxa variável. Decidiram transferir o crédito habitação e alterar a modalidade de juros para uma taxa fixa. Tinha um capital em dívida de 116.500 euros a liquidar em 324 meses, com um spread de 0,9%, e o crédito estava indexado à Euribor a seis meses. Com estas condições, a sua prestação estava nos 654,07 euros.
Dada a vontade de passar para uma taxa fixa, o Doutor Finanças conseguiu uma proposta junto de um dos seus parceiros, em que o prazo do contrato passou para 312 meses, com uma taxa de juro fixa em 4,4%. Com estas alterações, a sua prestação mensal passou para 594,73 euros, até ao final do contrato, o que representa uma poupança mensal de 59,24 euros.
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Optar por uma taxa mista
Mas a taxa fixa não é a única solução para quem procura alguma estabilidade. As famílias têm ainda à sua disposição a taxa mista, que fixa durante os primeiros anos a taxa e depois passa para uma taxa variável. Esta solução dá estabilidade aos clientes durante o período em que vigora a taxa fixa, podendo depois voltar a olhar para o mercado e analisar quais as melhores soluções para o período em causa.
Analisando um caso real, a Rita e o João (nomes fictícios), que tinham uma taxa de juro variável e queriam optar por uma taxa mista, com um período fixo de dois anos. Os clientes tinham um capital em dívida de 146.528 euros a liquidar em 444 meses, com um spread de 1,1% a somar à Euribor a seis meses. Nestas condições, tinha uma prestação de 729,15 euros.
Depois de analisar diferentes propostas, os clientes decidiram manter o mesmo prazo, mas com uma taxa de juro fixa a dois anos de 3,75% e, no restante prazo, um spread de 0,85% a somar ao valor da Euribor a seis meses. Ou seja, o cliente ficou a pagar uma prestação mensal de 610,73 euros, reduzindo o encargo com o seu crédito habitação em 118,42 euros por mês.
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Poupança de quase 130 euros com a transferência do crédito habitação para outra entidade
Como último exemplo, temos o caso do André e da Patrícia (nomes fictícios) que tinham um empréstimo com taxa variável indexado à Euribor a 12 meses, com um capital em dívida de 253.645 euros a liquidar em 444 meses, e um spread de 0,95%. Ou seja, antes da transferência de crédito, este casal pagava uma prestação mensal de 1.258,72 euros.
Com a transferência de crédito habitação para outra entidade, foi possível baixar o spread para 0,7% e passar a taxa Euribor para 6 meses. Esta pequena alteração reduziu a prestação para 1.129,07 euros, o que representou uma poupança de 129,65 euros.
Outras formas de reduzir os encargos com a transferência do crédito habitação
Além de alterar a modalidade de juros e conseguir uma redução do valor do spread, também consegue poupar uma quantia significativa ao transferir o seguro de vida do crédito habitação e o seguro multirriscos para outra seguradora.
Se for possível cancelar imediatamente estas duas apólices, pode pedir ajuda a um mediador ou pedir a título individual várias propostas, para ver quais são as melhores soluções para si a nível de preço/benefício.
Por exemplo, caso pague por estas duas apólices 140 euros, se conseguir baixar o valor em 40 euros sem perder coberturas essenciais para si e para o seu imóvel, em 12 meses vai obter uma poupança de 480 euros (40 x 12). Esta redução pode ser mais simples do que imagina, principalmente se contratou os seus seguros junto do banco onde obteve o seu crédito habitação. Afinal, as instituições de crédito oferecem uma redução do spread, mas é possível que encontre melhores condições no que respeita aos seguros e que compense ter os seguros fora do crédito habitação.
Leia ainda: O spread é bom. Mas e os seguros?
2 - Diminua o valor dos seus encargos recorrendo a um crédito multiopções
No caso de ser proprietário de um imóvel, tem a possibilidade de reduzir os seus encargos, através da contratação de um crédito multiopções. Na prática, um crédito multiopções é idêntico ao crédito hipotecário, tendo taxas de juro e prazos de financiamento mais atrativos que outros empréstimos.
Para perceber melhor como funciona o crédito multiopções, saiba que este está sempre associado a um imóvel, que pode estar livre de ónus, ou ter ainda um crédito habitação por liquidar. Se tiver um crédito habitação, o que vai acontecer é que o multiopções permite-lhe fazer uma segunda hipoteca sobre o imóvel para obter um valor extra, para liquidar outros créditos, como o automóvel, um crédito pessoal ou outros, reduzindo os seus encargos. Mas, para tal ser possível, o banco vai avaliar o valor do seu LTV e da sua taxa de esforço.
De acordo com as normas do Banco de Portugal, o LTV num crédito habitação com garantia hipotecária ou equivalente, pode atingir, no máximo, 80%. Contudo, cada banco tem as suas próprias condições e é normal que existam instituições de crédito que concedam este financiamento apenas a clientes que tenham um LTV entre os 60% e os 70%.
Caso não saiba como calcular o seu LTV, a fórmula é a seguinte: LTV = montante do empréstimo / valor do imóvel x 100%. Quando estiver a fazer esta conta, tenha em consideração que o valor total do financiamento engloba o seu crédito habitação e o valor extra (ou seja, o multiopções) que vai pedir ao banco.
Já em relação à sua taxa de esforço, o seu valor é determinante para conseguir a aprovação de um crédito multiopções. Quando as instituições calcularem o valor da sua taxa, vão incluir todos os créditos que tem a decorrer e a nova prestação do seu crédito multiopções. E, para o seu crédito ser aprovado, a taxa de esforço não pode ser superior a 50%.
Para perceber melhor, apresentamos um exemplo. Se tiver uma prestação de crédito habitação de 600 euros, a do multiopções ficar em 150 euros, tiver uma prestação mensal do seu crédito automóvel de 100 euros e ainda um cartão de crédito com uma prestação mensal por liquidar de 90 euros, no total os seus créditos representam um encargo de 940 euros. Se o rendimento do seu agregado familiar corresponder a 2.300 euros, o cálculo da sua taxa de esforço seria o seguinte: (940/2300) x 100%. O que representaria uma taxa de esforço de 41%.
Se o LTV estivesse dentro dos valores pretendidos pela instituição de crédito, com esta taxa de esforço tinha fortes probabilidades de ter o seu crédito multiopções aprovado. Mas se tiver dúvidas a calcular esta taxa, pode recorrer ao simulador da taxa de esforço que simplifica todos os cálculos.
Leia ainda: Crédito habitação: Em que situações é possível pedir um multiopções?
Multiopções: Quanto pode poupar com os seus créditos?
Para perceber quanto poderá poupar com a contratação de um crédito multiopções, nada melhor do que conhecer o caso do Leonor (nome fictício) que, com a ajuda dos especialistas do Doutor Finanças, reduziu significativamente os seus encargos mensais com créditos.
Esta cliente tinha um financiamento de 69.050 euros, a liquidar no prazo de 288 meses, com um spread de 3% a somar à Euribor a seis meses. Com estas condições, a Leonor estava a pagar uma prestação mensal de 493,18 euros. Tinha ainda outros créditos, no valor de 33.513 euros, pelos quais pagava 239,36 euros por mês. Ou seja, no total, estava a pagar 732,54 euros por mês.
Para este caso, foi encontrada a seguinte solução: transferir o seu crédito habitação para outra entidade, com uma oferta mais vantajosa, e contrair um crédito multiopções, para reduzir os encargos. Assim, o capital em dívida manteve-se nos 69.050 euros mais 33.513 euros, com o mesmo prazo, mas com uma taxa de juro para os dois créditos de 4,85%. O que significa que ficou a pagar uma prestação de 583,06 euros, alcançando uma poupança de 149,48 euros por mês.
3 - Tem vários créditos? Com um crédito consolidado paga apenas uma prestação com juros mais baixos
Se tem mais de dois créditos ao consumo, como, por exemplo, um crédito pessoal, um crédito automóvel e dívidas em cartões de créditos, pode juntar todos os seus créditos num só, através do crédito consolidado. A consolidação de créditos permite à maioria das pessoas obter melhores condições e ficar com uma única prestação mais baixa.
7 perguntas frequentes sobre o crédito consolidado
A redução dos encargos com créditos acontece através da diminuição da taxa de juro que é, normalmente, mais baixa em comparação com a média das taxas de juro de todos os créditos que tem. Logo, se os juros baixam, consegue poupar centenas ou até milhares de euros, consoante o número de créditos que tem, o valor em dívida e os juros associados.
No entanto, também é possível reduzir o peso dos encargos com créditos ao aumentar o prazo de pagamento, ficando com uma prestação mensal menor. É preciso salientar que o Banco de Portugal definiu que o prazo máximo para o crédito ao consumo é de 7 anos, mas em situações excecionais pode conseguir que o seu crédito consolidado fique com o prazo máximo de 10 anos. Se conseguir estender o prazo, vai pagar um valor mais elevado de juros, mas o montante que paga mensalmente baixa ainda mais.
Contudo, para o crédito consolidado ser aprovado não pode ter nenhuma prestação em atraso (não estar numa situação de incumprimento), ter uma situação profissional estável e possuir no mínimo dois créditos, além do crédito habitação. Se reunir estas condições, pode poupar até 60% nas suas mensalidades.
Leia ainda: Quais os critérios para aceder ao crédito consolidado?
Crédito consolidado: Poupança pode atingir várias centenas de euros
Através de um crédito consolidado, pode reduzir significativamente os seus encargos mensais com créditos. Foi o que aconteceu com o Joaquim (nome fictício) que pediu ajuda para encontrar uma proposta de crédito consolidado que permitisse reduzir os custos mensais com os vários empréstimos que tinha. Além do seu crédito habitação, tinha sete empréstimos contratados, o que implicava um encargo mensal de 1.365 euros.
Após a análise da melhor proposta, foi possível encontrar uma solução que permitiu a consolidação de 27.000 euros, passando do pagamento total de 1.365 euros, para uma prestação única de 446 euros. Ou seja, através da consolidação de créditos, o cliente está a poupar 919 euros por mês. Contas feitas, num espaço de um ano, vai poupar 11.028 euros.
4 - Se tem uma poupança, opte por utilizar uma parte para amortizar os seus créditos
A sua situação financeira está estável e tem uma poupança significativa de parte? Pondere amortizar um ou mais créditos. Afinal, todos os consumidores têm o direito a reembolsar antecipadamente os seus contratos de crédito, seja de forma parcial ou total. Para tal, basta que notifiquem a instituição financeira com um aviso prévio de 30 dias. Mas saiba que o ideal é começar por amortizar os créditos cuja taxa de juro seja mais elevada, como o caso dos cartões de crédito ou dos créditos ao consumo, e só depois amortizar um crédito com uma taxa menor, como um crédito habitação ou hipotecário.
Como referido, pode amortizar um crédito de duas formas: de forma total (saldando o valor total em dívida) ou de forma parcial (diminuindo a sua prestação mensal ou o prazo do seu contrato de crédito). No segundo caso, embora o seu crédito não fique totalmente liquidado, reduz sempre o capital em dívida e o valor total dos juros a pagar.
Depois, deve ponderar se a melhor opção é ter uma redução no encargo mensal com o crédito, uma vez que a sua prestação pode diminuir, ou reduzir o número de prestações por liquidar, mantendo o mesmo valor a pagar todos os meses.
Contudo, tenha em conta que, ao amortizar um crédito, seja este ao consumo ou um crédito habitação, pode ter de pagar uma comissão pelo reembolso antecipado. Num crédito ao consumo, o Banco de Portugal tem definido os seguintes limites máximos para esta comissão:
- 0,25% do valor do capital que amortiza: se o período que resta entre a data de amortização e a data estabelecida do fim do contrato for igual ou inferior a um ano.
- 0,5% do montante reembolsado: se o período que resta entre a data da amortização e o fim do contrato for superior a um ano.
Nota: Estes são os valores máximos que uma instituição financeira pode cobrar a clientes que tenham um crédito ao consumo com uma taxa fixa. Já se tiverem um crédito com uma taxa variável, a comissão de reembolso antecipado não pode ser cobrada.
Já num crédito habitação, a comissão de reembolso antecipado não pode ser superior:
- A 0,5% do capital que é reembolsado, isto em contratos de crédito habitação com uma taxa de juro variável.
- A 2% do capital que é reembolsado no caso dos contratos de crédito habitação com uma taxa de juro fixa.
Nota: Perante o aumento da taxa de esforço e a incapacidade financeira de muitos titulares de crédito, até ao final de 2023, está em vigor uma medida excecional que suspende a comissão de reembolso antecipado de 0,5% (para quem tem um crédito habitação com uma taxa variável).
Leia ainda: Quanto vou pagar para amortizar o meu crédito?
O impacto financeiro de amortizar um crédito ao consumo
Imaginemos que tem um crédito automóvel com um capital em dívida de 11.000 euros a liquidar em 108 prestações. Se tiver uma taxa de juro de 8,8%, está a pagar uma prestação mensal de 147,81 euros.
Agora, suponha que tem 4.000 euros que pode utilizar na amortização deste crédito. Se o fizer, a sua prestação mensal iria descer para os 94,06 euros. Ou seja, estaria a poupar 53,75 euros por mês, o que representa uma poupança anual de 645 euros anuais.
Leia ainda: Compensa amortizar um crédito automóvel?
E se amortizar o meu crédito habitação?
No caso do crédito habitação, para sentir um alívio na sua prestação mensal vai ter de amortizar um valor superior, se o capital em dívida for mais elevado. Ou seja, supondo que ainda tem 140.000 euros por liquidar em 360 prestações. Caso tenha uma TAN de 4,5%, se amortizar 20.000 euros, a sua prestação passa de 709,36 euros para 608,02 euros. Já se o valor da amortização for menor, como de 10.000 euros, a sua prestação passaria de 709,36 euros para 658,69 euros.
Se quiser ajuda neste cálculo, pode recorrer à calculadora que revela qual será a nova prestação após amortização.
Leia ainda: Vale a pena amortizar o crédito habitação?
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