Em março de 2020, no início da crise pandémica em Portugal, o Governo avançou com as moratórias de crédito para famílias e empresas. Esta medida surgiu como um alívio imediato para aqueles que tiveram uma redução nos salários, bem como para as empresas que viram a sua faturação reduzida, nalguns casos, a zero.
Para completar a moratória pública do Estado, as instituições de crédito avançaram com outros protocolos, no âmbito da Associação Portuguesa de Bancos (APB) e da Associação de Instituições de Crédito Especializado (ASFAC), disponibilizando moratórias privadas que abrangiam outros créditos, nomeadamente crédito pessoal e outros créditos hipotecários.
Algumas destas moratórias privadas já terminaram, já as moratórias públicas sofreram várias revisões e alterações, sendo o prazo das mesmas prolongando. Apesar de as moratórias públicas ainda estarem ativas, há muitas famílias que estão a lidar com situações financeiras mais complicadas, pelo que devem agir o mais depressa possível para garantir que não entram em incumprimento.
Para tal, é preciso perceber qual é a sua situação e quais são as suas opções. O crédito consolidado é uma das soluções possíveis para quem tem vários empréstimos. Neste artigo vamos explicar em que pé estão as moratórias e como pode usar a consolidação de crédito para arrumar as suas finanças.
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Quais são os prazos das moratórias?
Os prazos das moratórias variam. Primeiro depende se aderiu à moratória pública ou à moratória privada, e depois vai depender também de quando aderiu e de que tipo de moratória estamos a falar.
Isto é, se no seu caso solicitou a moratória pública até 30 de setembro de 2020 vai poder beneficiar deste apoio até 30 de setembro de 2021. Mas se, por exemplo, aderiu à moratória pública apenas este ano (até 31 de março de 2021), a moratória tem a duração máxima de nove meses, ou seja, no máximo poderá beneficiar até 31 de dezembro de 2021.
No entanto, se aderiu à moratória privada, o prazo para o crédito habitação terminou a 31 de março de 2021, pelo que este mês já vai pagar a sua prestação normal. Já as moratórias para os créditos pessoais, com validade de 12 meses, têm a data limite de 30 de junho de 2021.
A importância de procurar soluções à moratória
Carência de capital: o que é e como pode representar um alívio financeiro
O objetivo das moratórias foi permitir o alívio imediato na carteira dos portugueses, uma vez que adiava temporariamente o pagamento das prestações de crédito. Assim podia optar por pagar apenas os juros associados ao crédito ou não pagar de todo a prestação.
No entanto, e tal como mencionámos, esta é uma solução temporária em que, no final do contrato, vai ser sempre ter de compensar os meses em que o pagamento esteve suspenso.
Por isso, com o fim das moratórias ou a aproximação do seu fim, é importante começar a procurar soluções para reduzir os seus encargos, neste caso, com as prestações dos créditos. Para além desta redução dos custos, ao antecipar-se na procura de alternativas, vai também evitar entrar numa possível situação de incumprimento.
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Crédito consolidado pode reduzir o impacto do fim das moratórias
A consolidação de créditos é uma solução financeira que permite juntar vários créditos num só, com melhores condições e uma única prestação mensal mais baixa quando comparado com o total das várias prestações. Este produto destina-se a quem tem, pelo menos, dois empréstimos em mãos - além do crédito habitação - e quer reduzir o seu encargo mensal com as prestações.
De realçar que o alívio nunca será tão elevado no imediato como o sentido com a moratória, mas este cenário deixa de se colocar. Por isso, é preciso encontrar uma solução que seja viável para as nossas finanças. Assim, através do crédito consolidado é possível conseguir obter melhores condições, com prestações menores e um custo de financiamento também ele menor, quando comparado com as condições atuais dos vários financiamentos que estão a decorrer.
Em suma, com o crédito consolidado não fica meses sem pagar, mas vai reduzindo as suas dívidas, conseguindo ao mesmo tempo diminuir o valor da prestação.
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A família que passou a poupar mais de 8 mil euros por ano
A família Lopes (nome fictício) procurou o Doutor Finanças pois tinha encargos muito elevados com as prestações de crédito. Com medo de não conseguir fazer face a estes gastos, encontraram junto do crédito consolidado uma solução para reduzir as suas despesas e ainda poupar no final do mês.
Esta família estava a pagar por mês só em créditos um total de 1.266,51 euros. Desde crédito automóvel, passando por linhas de crédito, crédito pessoal e cartões de crédito.
Depois de consolidar todos estes créditos num só, e com um prazo de 84 meses, conseguiu passar para uma prestação mensal de 527,14 euros.
Com esta operação, a família reduziu os seus encargos mensais em 739,37 euros por mês, o que vai resultar numa poupança anual de 8.872,44 euros.
Solução para quem tem crédito habitação e créditos pessoais
Se tem um crédito habitação, mas também créditos pessoais, também é possível, fazer a sua junção e conseguir uma poupança imediata significativa.
Esta pode ser uma boa solução para quem vai ver a moratória do seu crédito habitação terminar, mas também tem o peso de outros créditos.
Vejamos o exemplo do casal Rui e Ana (nomes fictícios) que entre o crédito da casa, do carro e outras linhas de crédito, tinham uma despesa mensal de 743,99 euros. Nesta situação, a solução passou pela transferência do seu crédito habitação e um crédito multifunções para a liquidação dos restantes créditos. Tudo isto numa só entidade, com uma única prestação.
Como reduzir os encargos com o crédito habitação?
Esta família conseguiu uma taxa de juro mais atrativa do que a que tinham, o que teve impacto na sua prestação. Além disso, através da transferência de crédito foi possível rever os produtos que estavam associados ao crédito habitação, o que também representou uma poupança significativa.
Após a operação, este casal passou a pagar 626,29 euros por mês (incluindo o seguro de vida e multirriscos). Até porque antes da transferência do crédito habitação, o Rui e a Ana, só em seguros pagavam 131 euros por mês e passaram a pagar cerca de 60 euros.
Em suma, este casal vai passar a poupar 117,7 euros por mês e 1.412,4 euros por ano. Uma vez que o prazo é de 25 anos, no final do contrato, a poupança vai rondar os 35 mil euros.
Antecipe-se e avalie se o crédito consolidado é uma solução viável
O crédito consolidado trata-se de um novo crédito, cujo destino é liquidar os restantes créditos que estão a decorrer. Tem como principal objetivo melhorar as suas condições financeiras. Esta é uma solução financeira que vai, de facto, aliviar os encargos financeiros imediatos. Contudo, é preciso perceber se esta é a, de facto, uma solução para o seu caso. Além disso, é preciso ter presente que para que esta solução esteja à sua disposição não pode estar numa situação de incumprimento. Daí ser determinante ponderar as suas opções antes que a situação financeira se complique.
De realçar que, tratando-se de um novo crédito, vai ser necessário analisar o seu perfil enquanto cliente bancário, a sua taxa de esforço, as condições laborais em que se encontra de momento, entre outros fatores.
É aqui que pode entrar o crédito consolidado com hipoteca. Neste caso é utilizado um bem imóvel (habitação própria, habitação secundária ou mesmo um imóvel de um familiar) como garantia ao empréstimo. Deste modo tem uma maior probabilidade de ver o seu crédito aprovado. Ao dar esta garantia acaba também por conseguir uma taxa de juro mais baixa (fator fundamental para poupar dinheiro com crédito).
Apesar das suas vantagens, antes de adquirir um crédito consolidado com hipoteca, deve analisar igualmente as suas desvantagens.
As desvantagens do crédito consolidado
Tal como noutros produtos financeiros, o crédito consolidado também tem os seus pontos menos positivos.
Para evitar surpresas deve sempre procurar estar bem informado, fazer mais do que uma simulação, comparar as várias opções e:
- Evitar solicitar novos créditos. Embora possa vir a ter acesso a mais financiamento, uma vez que reduz a sua taxa de esforço, deve sempre ter em mente uma atitude consciente, gerir bem a sua folga mensal e não a utilizar para novos créditos e despesas desnecessárias. Para além de estar a controlar as suas finanças, vai também estar a diminuir a hipótese de entrar em endividamento. Os cartões de crédito também contam nesta equação.
- Considerar um possível aumento do prazo face àqueles que tem. Por exemplo, se tiver créditos com prazos já a terminar ou mais pequenos do que os que vão ser propostos, o mais provável é que o novo crédito consolidado acabe por ter um prazo mais alargado para que consiga ter prestações mais baixas. Por isso, e nestes casos, no final de contas o crédito pode sair-lhe mais caro, porque vai pagar mais juros, isto porque vai estar mais meses a pagar.
- Verificar se tem acesso ao crédito consolidado. Por exemplo, se estiver em incumprimento, pode não conseguir a aprovação. Isto porque a consolidação de crédito é, como já explicámos, um crédito pessoal. Ou seja, é um novo empréstimo, que agrega todos os financiamentos que tem a decorrer, logo, se já entrou em incumprimento terá de tentar renegociar os seus créditos sozinho, diretamente com a entidade com a qual entrou em incumprimento.
As soluções não terminam na consolidação
Entrei em incumprimento. E agora?
Para além do crédito consolidado, existem outras medidas que pode tomar para equilibrar as suas finanças. Até porque, perante a crise económica que o país está a atravessar, os bancos são, atualmente, obrigados e tentar encontrar soluções para cada caso, de forma a evitar que os clientes entrem em incumprimento.
Para isso, deve começar por falar com o seu banco e perceber, se por exemplo, pode usufruir das seguintes soluções e como funcionam as mesmas:
- Carência de capital - idêntico a uma das opções das moratórias que estão a chegar ao fim, mas, neste caso, é uma solução feita à sua medida. Ou seja, tem a possibilidade de suspender a prestação durante alguns meses, pagando apenas os juros associados;
- Diferimento de capital - implica que deixa para a última prestação uma parcela significativa do seu crédito, mas alivia o encargo atual;
- Transferência dos seus créditos - uma vez que o dinheiro está mais barato, pode conseguir melhores condições face àquelas que tem neste momento junto a outras entidade
Estas alternativas só estão disponíveis se não tiver entrado em incumprimento, caso contrário não o poderá fazer e terá de encontrar a solução junto da instituição de crédito com a qual tem o empréstimo. Daí a importância de se antecipar.
Se precisar pode contar com a ajudar do Doutor Finanças. Até porque o poder negocial aumenta quando temos mais do que uma saída possível.
A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
Boa tarde o meu pai recebeu uma divida, da Segurança social para pagar diz que ele recebeu 2 prestações de velhice da minha avó que faleceu à 19 anos, não temos prova disso nem se lembra o meu pai tem 71 anos a minha pergunta é se isto já não precreveu, Obrigada
Olá, Paula.
Sugiro a leitura do seguinte artigo:Prescrição de dívidas à Segurança Social: tudo o que precisa saber