A escalada das taxas Euribor, observada desde o início deste ano, está a ter um forte impacto nos custos suportados pelas famílias com o empréstimo da casa. Esse impacto reflete-se nos contratos de crédito existentes, mas mais ainda nos novos contratos, cujas taxas de juro estão já no nível mais alto dos últimos seis anos.
Os mais recentes dados do Banco de Portugal mostram que a taxa de juro média dos novos empréstimos à habitação subiu de 1,88%, em julho, para 2,01%, em agosto, marcando o sétimo mês consecutivo de agravamentos. Esta é a primeira vez, desde maio de 2016, que os juros ultrapassam a fasquia dos 2%.
Já a taxa de juro média do stock de empréstimos à habitação – considerando todos os contratos existentes – fixou-se em 1,32%, um valor cada vez mais próximo da média registada na Zona Euro (1,67%). O diferencial é, aliás, o mais baixo desde abril de 2009.
Ao contrário do que acontece na região da moeda única, em Portugal, a grande maioria dos empréstimos à habitação têm taxa de juro indexada às taxas Euribor a 6 meses ou a 12 meses, o que implica que as taxas de juro dos contratos de empréstimos são revistas a cada 6 ou 12 meses, respetivamente. Significa isto que as variações da Euribor se transmitem mais rapidamente ao stock de empréstimos à habitação em Portugal do que para a média da Zona Euro, já que noutros países há muito mais contratos com taxa fixa.
Isso é visível nos contratos celebrados em agosto: enquanto em Portugal apenas 7% do montante correspondeu a contratos com um prazo de fixação inicial de taxa juro superior a 10 anos, na Zona Euro essa percentagem foi de 57%. Por cá, a maior parte do montante (69%) respeita a contratos com um prazo de fixação inicial dos juros inferior a 1 ano, o que compara com apenas 18% na região da moeda única.
Concessão de crédito habitação diminui pelo terceiro mês
A subida das taxas de juro associadas aos empréstimos da casa está a ser acompanhada por uma diminuição dos montantes concedidos pelos bancos.
Em agosto, os bancos concederam 1.205 milhões de euros de novos créditos para a compra de casa, o que representa uma diminuição face aos 1.348 milhões concedidos em julho. Este foi já o terceiro mês consecutivo de quebras.
No crédito ao consumo, pelo contrário, observou-se a tendência inversa: apesar de os juros deste tipo de empréstimos terem aumentado de 7,88%, em julho, para 7,93%, em agosto, os portugueses endividaram-se mais, já que os novos créditos cresceram para 478 milhões de euros, face aos 454 milhões de euros do mês anterior.
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Porque estão a subir os juros da casa?
O aumento dos juros do crédito habitação deve-se exclusivamente à subida das taxas Euribor que, juntamente com o spread, definem o “preço” a pagar pelos empréstimos da casa. Ora, a componente spread – que é a margem de lucro do banco – não tem aumentado. Pelo contrário, os bancos têm até apostado na diminuição desta margem para captarem mais clientes.
Assim, a “culpa” da subida das prestações mensais é das taxas Euribor, a que estão indexados a maioria dos contratos de crédito habitação. A mais usual é a Euribor a 6 meses que, depois de ter estado negativa durante seis anos e sete meses (entre 6 de novembro de 2015 e 3 de junho de 2022), atingiu na semana passada os 1,858%, o valor mais alto desde janeiro de 2009.
Esta escalada tem sido motivada pelo crescimento acelerado dos preços na Zona Euro e consequente inversão da política monetária expansionista do banco central. O BCE já começou a atuar para travar o aumento dos preços, subindo por duas vezes os juros na região, e o mercado já está a descontar que a taxa de referência vai saltar para os 3% em meados do próximo ano.
Significa isto que o agravamento dos juros no crédito habitação está longe de terminar, tendo as famílias de contar com novos aumentos nos próximos meses.
Para perceber qual poderá ser o impacto no seu crédito, recorra ao simulador da variação da Euribor no crédito habitação, onde pode ensaiar possíveis aumentos das taxas.
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Depósitos não refletem aumento dos juros
Se os custos dos empréstimos têm refletido fortemente a subida dos juros, o mesmo não se pode dizer das taxas pagas pelos bancos nos depósitos.
Os dados do Banco de Portugal mostram a taxa de juro média dos novos depósitos até caiu em agosto para 0,07% (0,09% em julho), depois de dois meses consecutivos de aumentos.
Apesar disso, os depósitos aumentaram em 4.124 milhões de euros, mais 270 milhões do que em julho. 87% do montante foi aplicado em depósitos a prazo até 1 ano, cuja taxa de juro média foi igualmente de 0,07%.
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