A renegociação de contratos de crédito para habitação própria e permanente já representava, no final do ano passado, quase um quarto do total de novas operações de crédito para esta finalidade.
De acordo com os dados do Banco de Portugal, a percentagem de contratos renegociados aumentou ao longo do ano passado, particularmente no último trimestre, quando a subida das taxas Euribor começou a ter um impacto mais expressivo nas prestações a pagar ao banco.
Em outubro e novembro, as renegociações representavam 17% das novas operações, percentagem que aumentou para 22% em dezembro. Por comparação, no mesmo mês do ano anterior, em dezembro de 2021, as renegociações representavam apenas 6% das novas operações de crédito para habitação própria permanente. Estes dados dizem respeito apenas a contratos renegociados em que a renegociação não resultou de uma situação de incumprimento e na qual os clientes tiveram participação ativa.
Recorde-se que, no final de novembro, entraram em vigor as novas regras de renegociação de contratos de crédito habitação, que preveem que os bancos avancem com a renegociação dos contratos quando detetem um “agravamento significativo da taxa de esforço” ou uma “taxa de esforço significativa” por parte dos clientes, em resultado da subida das taxas Euribor.
Os dados do Banco de Portugal evidenciam, porém, que mesmo antes da entrada em vigor das novas regras, os titulares de crédito habitação já estavam, voluntariamente, a aumentar a procura por soluções mais vantajosas e a avançar para a renegociação dos seus contratos, perante o aumento dos juros.
Ao mesmo tempo, também o montante de amortizações antecipadas parciais e totais tem aumentado desde o último trimestre de 2022. As amortizações antecipadas efetuadas ao longo de 2022 totalizaram 6,7% do stock de empréstimos no final do ano.
Leia ainda: Quem renegociar créditos não fica “marcado” no Banco de Portugal
Juros dos novos empréstimos mais do que triplicaram em 2022
O aumento das renegociações e das amortizações antecipadas aconteceu num contexto de forte subida das taxas de juro, decorrente do aumento continuado da Euribor. Prova disso é que a taxa de juro média dos novos empréstimos à habitação mais do que triplicou no ano passado face a 2021.
Aumento na prestação da casa: Taxa mista pode ser uma solução?
Olhando apenas para o mês de dezembro, a taxa de juro média dos novos créditos subiu para 3,24%, o valor mais alto desde julho de 2014, e que compara com 0,83% um ano antes (dezembro de 2021).
Ainda assim, a concessão de crédito para a compra de casa aumentou no ano passado. Foram mais 886 milhões de euros do que no ano anterior, num total de 16.156 milhões de euros. Em crédito ao consumo, os bancos concederam mais 891 milhões de euros do que em 2021 (num total de 5.377 milhões de euros), e em créditos para outros fins foram mais 132 milhões, num total de 2.345 milhões. Feitas as contas, em 2022, os bancos concederam 23.878 milhões de euros de novos empréstimos aos particulares, mais 1.908 milhões do que em 2021.
Às empresas, os bancos concederam 22.055 milhões de euros de novos empréstimos, mais 1.229 milhões do que no ano anterior: 12.442 milhões de euros foram em empréstimos até 1 milhão de euros e 9.616 milhões em empréstimos acima de 1 milhão de euros. No caso dos créditos às empresas, a taxa de juro média mais do que duplicou no último ano, aumentando de 2% em dezembro de 2021 para 4,44% em dezembro de 2022.
Leia ainda: Juros continuam a subir em 2023. Até onde?
Portugal é o país do euro com juros mais baixos nos depósitos
Os dados do Banco de Portugal mostram que, em dezembro, os novos depósitos a prazo de particulares estavam a ser remunerados a uma taxa de juro média de 0,35%, o valor mais baixo entre todos os países da Zona Euro. Esta taxa de juro compara, por exemplo, com 0,64% em Espanha, 1,56% na Alemanha e 2,29% em França, o país que lidera a tabela, com os juros mais elevados.
Ainda assim, os particulares reforçaram o montante das poupanças confiadas aos bancos. Em 2022, o montante de novos depósitos a prazo de particulares foi de 49.393 milhões de euros, o que compara com 43.016 milhões em 2021.
Já os novos depósitos a prazo de empresas totalizaram 21.513 milhões de euros, dos quais 96% foram aplicados em depósitos a prazo até 1 ano. No final do ano, a remuneração média destes depósitos era de 0,97%, percentagem acima da oferecida no final de 2021 (0,06%).
Leia ainda: Crédito habitação: 4 formas de travar o impacto da subida de juros
A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
Deixe o seu comentário