Muito se tem falado do aumento das taxas de juro e da pressão que isso tem colocado junto das famílias portuguesas, perante uma maior dificuldade em fazerem face aos compromissos financeiros assumidos perante a banca.
Os dados mais recentes do Banco de Portugal apontam para um certo esforço na renegociação de contratos de crédito habitação. Procuremos entender o que tem acontecido.
Crédito não para de aumentar?
Nos primeiros 3 meses do ano, o Banco de Portugal reporta um total de 4,5 mil milhões de euros de novo crédito habitação concedido. Trata-se de um aumento de 8,9% face ao período homólogo de 2022.
À partida, estranha-se o valor apresentado na estatística do Banco de Portugal. Com o aumento tão significativo que temos vindo a registar nas taxas de juro, como é que os portugueses continuam a contrair crédito para a compra de casa?
Na realidade, parte desse montante diz respeito a renegociação de créditos existentes. Estatisticamente, é um novo crédito, mas que na realidade não faz aumentar o stock total.
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É possível observar pelo gráfico anterior que o peso dos contratos renegociados tem vindo a aumentar nos últimos meses. Se expurgarmos os novos empréstimos com renegociação durante o primeiro trimestre de 2023, na realidade concluímos que se registou uma diminuição dos novos créditos à habitação na ordem dos 20%.
Que taxas de juro têm sido praticadas?
Além do aumento dos contratos renegociados, denota-se também uma alteração nas taxas de juro praticadas. Entre janeiro e março de 2023, regista-se um maior pendor para a taxa mista, espelho claro das alterações que os bancos têm vindo a propor a alguns mutuários de crédito habitação.
Basicamente, a taxa mista consiste na fixação da taxa de juro durante um determinado período de tempo, passando posteriormente de novo a taxa variável. Desta forma, os bancos procuram dar alguma segurança aos mutuários de crédito habitação, para os próximos meses, propondo uma taxa fixa mais baixa que a alternativa atual de taxa variável.
Por fim, importa ainda assinalar a alteração dos indexantes. Durante os últimos anos, a maioria dos novos contratos de crédito habitação a taxa variável estavam indexados à Euribor a 12 meses. Atualmente, a banca tem proposta a indexação à Euribor a 6 meses, baixando assim a prestação mensal.
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Bons negócios (imobiliários)!
Gonçalo Nascimento Rodrigues é Consultor em Finanças Imobiliárias, tendo trabalhado em empresas como Ernst & Young, Colliers International e Essentia. É Coordenador e Docente numa Pós-Graduação em Investimentos Imobiliários no ISCTE Executive Education. Adicionalmente, exerce atividade de consultoria, prestando serviços de assessoria ao investimento imobiliário. Detém um master em Gestão e Finanças Imobiliárias e um master em Finanças, ambos pelo ISCTE Business School, além de uma licenciatura em Gestão de Empresas na Universidade Católica Portuguesa. É autor do blogue Out of the Box.
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